Os Olímpicos e os pêlos
Este ano, os pêlos foram finalmente banidos dos Jogos Olímpicos. Que eu me lembre, ainda não vi nenhum atleta, mulher ou mesmo homem, com pêlos nas axilas. Tenho observado com bastante atenção e é possível verificar este facto no início de cada prova, quando eles são apresentados. "E na pista 5, Janette Simmons", e nesse momento a Jannete sorri para a câmara e levanta os braços, mostrando ao mundo o esplendor dos seus sovacos depiladas. É verdade, não há um único pêlo para amostra, foram todos cuidadosamente removidos, provavelmente com cêra patrocinada. Nem os africanos, de países mais pobres, nem os de leste, de países mais frios, que usavam os pêlos para se protegerem das intempéries; nem sequer os belgas, que aqui há décadas eram considerados o povo menos higiénico da Europa e nem desodorizante usavam; nenhuns deles têm pêlos. O pêlo foi expulso dos Jogos Olímpicos como se fosse um país ditatorial, houve um massacre que aniquilou todos os pêlos, um verdadeiro genocídio! Embora se possa dizer que ganhámos em estética, e já não se vejam aqueles tufos de antigamente, molhadinhos de suor, espalmados contra a pele no final das provas, tenho alguma nostalgia nacionalista do tempo em que existiam pêlos nos sovacos dos campeões. É que antigamente, quando o pêlo era estimado, os nossos atletas venciam medalhas de ouro. Quem não se recorda dos maravilhosos pêlos de Carlos Lopes, mas sobretudo dos tufinhos olímpicos de Rosa Mota? Quando os vimos, o nosso coração encheu-se de orgulho luso. Ao longo da nossa história, pêlo no sovaco foi sinal de ouro para Portugal! Sem pêlos, está visto que o país não se safa!