Portas é muito mais hábil do que Passos Coelho
Ontem, e pela primeira vez em mais de dois anos, a reunião do Governo com os parceiros sociais correu bem.
No final, com a excepção da CGTP, todos os parceiros sociais alhinharam a uma só voz com o Governo.
UGT, patrões, confederações, num consenso raro, pediram o mesmo que o Governo: a troika deve aceitar um deficit maior para 2014.
A isto chama-se "consenso nacional", e foi isto que muita gente criticou o Governo por não fazer.
Nem Passos, nem Gaspar, nem o pobre Santos Pereira, conseguiram gerar esses consensos, e foram criticados por isso.
Ora, logo na primeira reunião a que presidiu, já com as suas novas funções depois da remodelação de Julho, Paulo Portas conseguiu "o consenso" de forma natural.
E conseguiu-o porque trabalhou para isso acontecer.
Para chegar a um "consenso" é preciso trabalho, cedências, paciência.
O "consenso nacional" não nasce de geração espontânea, como as ervas ou o sol todos os dias. Dá muito trabalho chegar a um consenso, e é por isso que ele é sempre tão raro e valioso.
Mas, há uma coisa que eu sei: é que para chegar a um consenso não se pode ficar na nossa trincheira ideológica, não se pode ser radical nas posições.
Infelizmente, foi isso que o Governo de Passos e Gaspar sempre foi, radical e inflexível. O resultado foi péssimo, para todos.
Paulo Portas, está visto, tem uma habilidade diferente.
Não está tão preocupado com ideologia radical liberal, nem com princípios vagos e modelos de Excel. Sabe que, para uma política ser aceite pelas populações, é necessária a participação dos parceiros sociais, o seu envolvimento nas decisões.
E, para isso, contrói unidade, em vez de semear discórdia.
Como eu sempre aqui disse, Portas pagou um preço alto por ter dado um murro na mesa, mas no fim ganhou, e tem hoje mais poder para influenciar a governação do país.
Pelo que já podemos ver, Portugal só ficou a ganhar com isso.
Pelo menos consenso económico e social já voltámos a ter, e isso a Portas se deve.