Segunda-feira, 01.09.14

Ucrânia: que tal partir ao meio, metade para Merkel, metade para Putin?

Já aqui o tinha escrito e volto a escrever: a única solução para a Ucrânia parece ser a divisão do país em dois.

A parte russa, que Putin invadiu com soldados seus mascarados de clandestinos, poderá ser a Ucrânia de Leste, ou Nova Rússia, como Putin prefere.

Terá capital em Donetsk, e ligação ao mar, fazendo fronteira com a Crimeia recentemente anexada.

Quanto à parte ocidental, que deseja juntar-se à Europa, poderá ter capital em Kiev, e chamar-se Ucrânia do Oeste, ou simplesmente Ucrânia.

 

Na verdade, essa separação será apenas a confirmação histórica de uma divisão que durou séculos, entre uma zona de leste, associada à Rússia, e uma zona de Oeste, associada à Polónia.

A Ucrânia, tal como a conhecemos depois da queda da URSS, é uma entidade com pouco significado histórico, e até cultural, pois divide-se entre um leste onde a maioria do povo é russo, e um oeste onde a maioria é ucraniana.

 

Naturalmente, Putin sabe isso, conhece a história da região melhor que os europeus ou americanos, e sabe também que não pode deixar a parte leste do país deslocar-se para uma associação com a Europa germânica.

Portanto, melhor seria que todos, europeus e americanos, aceitassem o destino da história, cedendo a Putin mais um bocado de território para evitar uma destruição ainda maior na região, e a morte de muitos inocentes.

E quem quiser fazer comparações com Hitler devia pensar um pouco melhor, pois nada é igual a 1938 ou 39, o mundo mudou muito.

 

O que as pessoas se têm de perguntar é isto: quem está disposto a morrer por Donetsk?

Não me parece que, nem na América, nem na Europa, existam muitos a querer ir para a guerra.

Sanções, sim, e devem aumentar, mas guerra? Isso ninguém deseja.

publicado por Domingos Amaral às 17:26 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 14.04.14

A Ucrânia vai partir-se ao meio!

Tudo aponta para uma solução dividida: metade da Ucrânia, com capital em Kiev, fica do lado Ocidental.

Será a Ucrânia do Oeste, ou West Ucrânia.

O resto separa-se e será a nova Ucrânia de Leste, ou East Ucrânia.

O lado ocidental aprofundará as suas ligações à Alemanha e à Polónia, obrigando a União Europeia a defender o novo país, que talvez se integre no futuro no espaço europeu.

O lado oriental, de maioria russa, encostará ainda mais ao oriente, ao Império de Putin, tal como já acontece com a Bielorússia e outros satélites.

O problema mais grave, claro está, serão as pessoas.

Haverá famílias divididas ao meio, cidades divididas ao meio, e o que farão as pessoas que ficarem do lado de lá, ou de lado de cá, consoante o ponto de vista?

Será que ambos os lados conseguirão aceitar que há pessoas que podem querer passar de um lado para o outro?

A fronteira vai transformar-se num local perigoso, pois vai passar a ser aí que se vão travar as lutas.

A Ucrânia já é um palco de uma luta feroz e silenciosa, a luta entre a Alemanha e a Rússia.

Uma, a Alemanha, tem dinheiro, mas não tem armas.

Outra, a Rússia, tem armas, mas não tem muito dinheiro.

Nenhuma quer a guerra, mas ambas querem a Ucrânia, e portanto travarão a guerra por interpostas pessoas ou realidades.

Mas, como nem Europa nem América podem travar uma guerra na Ucrânia, Putin vai insistir e minar o frágil poder de Kiev.

Não há solução a não ser a divisão.

Uma federação ucraniana não duraria muito tempo, até rebentar.

As divisões são muito profundas, e até históricas, pois durante séculos existiram duas ucrânias diferentes.

É o mais provável que aconteça, e não deve durar muito.

Mas, até que isso aconteça, vamos ter preocupações, tiros, sangue, mortos e muitos distúrbios. 

publicado por Domingos Amaral às 10:52 | link do post | comentar
Segunda-feira, 03.03.14

E a guerra a aproximar-se...

Por vezes, o impensável acontece, e normalmente é logo depois de acontecer o impossível.

Há dois meses, ninguém imaginava possível uma invasão da Crimeia pelas tropas russas.

As pessoas sabiam que a situação na Ucrânia não era fácil, que havia muita revolta, e uma divisão profunda do país entre os pró-russos e os pró-Europa.

Admitia-se turbulência e alta tensão, mas não se julgava possível muito mais do que isso.

Mas, dia a dia, a situação foi resvalando.

Primeiro, subiram de nível os confrontos em Kiev.

Temeu-se nessa altura a guerra cívil, que passou de impossível a imaginável em semanas.

O Presidente ucraniano fugiu, e sentiu-se alívio a Ocidente: as coisas iam entrar nos eixos, em breve haveria eleições na Ucrânia, os maus tinham perdido.

Não foi isso que aconteceu, infelizmente.

As forças russas começaram a movimentar-se, junto às fronteiras da Ucrânia, e a situação começou a agravar-se.

Aquilo que há meses era um impossível, a invasão da Crimeia, acabou por acontecer, e bem mais depressa do que o mundo esperava.

E agora estamos num local perigossímo, num abismo europeu, com a Rússia a ameaçar o Ocidente, aliada à China.

Aquilo que há dois meses seria impensável, uma situação de conflito quase militar entre Ocidente e Rússia, já mudou de carácter, e agora parece apenas impossível.

É sempre assim, o impensável passa a impossível, o impossível passa a possível, e em apenas algumas semanas o que era impensável passou a ser...possível.

Por mais que a todos nós seja absurda a ideia de uma guerra com a Rússia, as engrenagens da guerra já começaram a mexer-se, e ninguém pode dar certezas de nada.

Quem sabe se Obama, Merkel e Cameron não estarão, daqui a meses, a braços com um conflito armado em plena Europa, enfrentando um Putin cada vez mais ambicioso?

Seria uma tragédia colossal, mas deixou de ser uma tragédia impensável no espaço de semanas...

 

publicado por Domingos Amaral às 11:55 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 27.02.14

Ucrânia: uma guerra civil às portas da Europa (parte II)

A capa da revista The Economist de sexta-feira passada era elucidativa. 

"Putin´s Inferno" era o título, e a revista mostrava uma imagem dos confrontos na Ucrânia.

Infelizmente, o inferno de Putin pode transformar-se também no inferno da Europa.

Ninguém parece dar muita importância ao que está a acontecer na Ucrânia, mas estão a acontecer por lá coisas gravíssimas, que podem gerar um tremendo caos em todo o continente europeu.

A Europa está envolvida naquela contenda, seja através da União Europeia, seja através de outras instituições que pretendem ajudar, como o FMI.

E também a América está envolvida, e escolheu claramente o lado da oposição durante os confrontos.

Só que, do lado de lá, apoiando o presidente deposto, está Putin.

O ditador russo não está parado, e já movimenta as suas tropas, aproximando-as das fronteiras da Ucrânia.

E, nos mares, há navios a navegar em direcção à Crimeia, uma península do Mar Negro que tem maioria étnica russa, e que foi anexada à Ucrânia por Khrushchev, diz-se que durante uma noite de bebedeira.

É lá, na Crimeia, que os apoiantes da Rússia não aceitam a revolta de Kiev, e já içaram bandeiras russas no parlamento local.

A coisa está mesmo a ficar feia, e é quase certo que Putin vai aproveitar esta situação para mostrar a sua força ao mundo.

O que pode a Europa fazer? E mesmo os Estados Unidos, o que pretendem fazer para parar Putin e os seus defensores na Ucrânia?

Ninguém acredita que possa haver uma guerra entre o Ocidente e a Rússia, mas e se Putin esticar a corda e invadir a Ucrânia?

O país está em queda livre, não há políticos capazes de criar consensos, e ninguém sabe o que farão os militares.

A Ucrânia, é bom não esquecer, tem bases onde há mísseis nucleares...

Por mais que nos pareça impossível, a verdade é que o desastre está prestes a acontecer, às portas da Europa.

A fragmentação da Ucrânia, em dois países, um ocidental e outro oriental, é uma possibilidade real, bem como a indepedência da Crimeia.

Mas duvido que tudo isso aconteça sem um terrível banho de sangue.

publicado por Domingos Amaral às 15:26 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 20.02.14

É muito mal sinal quando o desporto pára

Um dos piores sinais de instabilidade que um país pode dar, é quando os seus eventos desportivos começam a parar.

É isso que está a acontecer na Ucrânia, por estes dias.

Um jogo da Liga Europa, que ia decorrer em Kiev, foi mudado de local e de país, por falta de condições de segurança.

Outro, que se iria disputar hoje noutra cidade, e onde o Tottenham está envolvido, está de debaixo de uma ameça de invasão, lançada pelas forças da oposição.

Nem o futebol escapa ao lento resvalar do país para um abismo terrível.

Mas, não é só o futebol que está a dar sinais destes. Em Sochi, onde decorrem as Olimpíadas de Inverno, o orgulho de Putin, já há atletas ucranianos a retirarem-se das provas.

Alegam que, ao ver o seu país natal a ferro e fogo, perderam a vontade e a capacidade para competir, e querem regressar a casa.

É compreensível: nas Olimpíadas, joga-se o orgulho dos povos, mas quando o país arde, ninguém consegue ser imune.

As imagens terríveis que vemos de Kiev são quase inimagináveis, mas estão a acontecer, a cada minuto há gente a morrer.

E se já nem os eventos desportivos conseguem o seu espaço e o seu tempo, é porque estamos já, não a caminho do abismo, mas a cair nele.

A Ucrânia está já em guerra civil, resta saber se ela ainda pode parar no início, ou se vai acelerar para um cenário horrível.

publicado por Domingos Amaral às 15:39 | link do post | comentar
Quarta-feira, 19.02.14

Ucrânia: uma guerra civil às portas da Europa

As imagens são impressionantes: a praça central de Kiev arde, há combates, tiros, fogos.

Lembra um país em guerra, e de certa forma já é um país em guerra.

Há já uma guerra na Ucrânia, um fogo que arde a ver-se, exposto aos nossos olhos.

 

As facções enfrentaram-se há três semanas, depois pararam, e a Europa suspirou de alívio.

Mas, foi um alívio curto, e frágil, lá estão eles outra vez a atirarem-se às goelas uns dos outros.

E há uma linha a dividi-los, uma narrativa que diz que uns são bons, porque querem mais Europa, e outros maus, porque querem mais Rússia.

Talvez seja simplificar demais a realidade, e talvez seja cair numa perigosíssima armadilha.

Se de um lado está a Europa, e do outro está a Rússia, e se ambos os lados entram numa guerra civil, é muito fácil a situação acabar mal, numa espécie de guerra entre Europa e Rússia por interpostas pessoas.

 

Ninguém quer uma guerra, mas também em 1914 e 1939 ninguém queria uma guerra na Europa e elas acabaram por acontecer, e foram tragédias violentas que marcaram a história da Humanidade.

É esse o perigo na Ucrânia.

Com gente menor, um presidente corrupto e autocrata, e do outro lado uma oposição liderada por um antigo boxeur, e onde existem radicais de extrema-direita, ligados a claques de futebol, à pedrada na rua; é um cenário de horror.

Nós podemos pensar que é longe, para nos sentirmos melhor, mas não é longe.

Kiev é muito perto da Rússia, e muito perto de Viena, de Varsóvia, de Berlim. 

As fagulhas de Kiev podem queimar uma Europa que está frágil e complexa, onde há Auroras Douradas na Grécia e Marines Le Pen em França.

 

Os radicalismos europeus estão a crescer outra vez, os extremos estão a ganhar força, e Kiev pode ser apenas um laboratório sinistro onde se cozinha o futuro europeu.

É preciso ter cuidado, e muito, com o que se passa na Ucrânia, para que não sejamos todos arrastados pelo redemoínho que nasce em Kiev.

publicado por Domingos Amaral às 11:14 | link do post | comentar
 

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