Terça-feira, 04.09.12

Traições à portuguesa (episódio 2)

Quais os tipos de traições que se podem encontrar? Depois de muito investigar, cheguei à conclusão que existem cinco tipos diferentes de traições, sejam elas praticadas por homens ou por mulheres. O primeiro tipo é a "Traição-Paixão", que como o próprio nome indica acontece quando um homem ou uma mulher se apaixonam por alguém que não é a pessoa com quem estão. É a traição mais compreensível, embora seja provavelmente a traição que mais dói aos traídos. Apaixonar-se pode acontecer a qualquer pessoa, ninguém está livre de amanhã encontrar uma pessoa que lhe acerta como um raio e que lhe muda o mundo em segundos. E se isso acontecer, é muito difícil qualquer ser humano, homem ou mulher, resistir aos apelos. O coração é assim mesmo, e quando se dá por ela, está consumada a traição. Nestes casos, não há muito a fazer. É chorar, partir uns pratos, tomar uns comprimidos, e tentar seguir em frente, isto no caso dos traídos, porque os pombinhos de certo andarão felizes, pelo menos por uns tempos.

O segundo tipo é a "Traição-Engate", que é aquela traição que acontece de forma imprevisível, numa noite, já às tantas da manhã, quando já está tudo bêbado e todos os homens parecem interessantes e todas as mulheres parecem boas. Lá estava ele, no Lux, encostado ao balcão, ela apareceu a dançar, riram-se, bambolearam-se um à frente do outro e quando deram por eles estavam no carro nos amassos, a comparar anatomias. Foi tudo muito rápido, muito intenso, ninguém se lembra bem dos pormenores, e no dia seguinte há uma dor de cabeça arreliante e também uma recordação onde se mistura a estranheza com um certo gozo. Com sorte, nem trocaram telemóveis, e o melhor é esquecer o que aconteceu, embora isso seja sempre impossível. Esta é a traição mais fácil de negar, mas se descoberta pode ainda assim trazer muitas complicações.

O terceiro tipo é a "Traição-Prostituição", que é muito mais corrente nos homens do que nas mulheres, embora aqui e ali já existam algumas que a pratiquem. É a traição quando se vai às meninas, mandar uma para esvaziar a tensão. É uma traição apenas física, normalmente os homens não se apaixonam por prostitutas, embora existam histórias dessas, que fascinam sempre pela sua improbabilidade. É a traição mais comum nos homens, mas também é que a menos consequências traz, porque as prostitutas podem falar umas com as outras mas não falam com as amigas da mulher, e por isso essa traição nunca terá perigo social de ser descoberta.

Um tipo de traição parecido é a "Traição-Avião", ou seja a traição que só existe depois de uma viagem de avião que coloca no mínimo seiscentos quilómetros de distância entre um homem e uma mulher. É a traição "no estrangeiro não conta", uma das que tem menos possibilidade de ser descoberta devido a passar-se num ambiente completamente diferente do habitual. É claro que esta traição pode ser engate ou prostituição, mas isso é irrelevante quando se está em Berlim ou Honolulu. Em casos raríssimos, também pode ser uma paixão, mas para isso é preciso muita sorte. Encontrar a Bar Refaeli num bar de Cincinatti, conseguir engatá-la, e ela ainda por cima ficar apaixonada por nós, é acontecimento com uma propabilidade mais rara do que ganhar o Euromilhões.

Por fim, existe ainda a "Traição-Patrão", que como o próprio nome indica é aquela que se passa quando a secretária se apaixona pelo patrão, ou por um qualquer homem importante para a vida profissional da moçoila. Era uma traição muito comum no passado, mas engana-se quem pense que caiu em desuso no presente. Na verdade, muitas traições com colegas de trabalho não passam de "traições-patrão", com pessoas que estão acima, ou abaixo, umas das outras na hierarquia das empresas. É a menina do marketing que se encanta com o director de produção, é a estagiária que se cega com o diretor de informática, é a diretora de vendas que estremece em palpitações por aquele rapaz giro do telemarketing, tudo isso são variações modernas da "traição-patrão". E bem sabemos como têm saída nos dias de hoje.

publicado por Domingos Amaral às 12:03 | link do post | comentar
Sexta-feira, 31.08.12

Perdoar uma traição

Homens e mulheres à volta da mesa, a conversa chega ao perturbante tema das traições. É possível perdoar? É possível esquecer? É possível uma relação sobreviver depois de um, ou ambos, terem sido infiéis? Há quem ache que sim, mas eu, que sou pessimista por natureza, acho que não. Para mim, é impossível esquecer, uma traição é um dano tão grave que nunca se apaga da memória. Os traídos, sejam homens ou mulheres, sentem-se humilhados, insultados, substituídos, e mesmo que amem a pessoa que os traiu, irão sempre recordar aquele dia em que foram os últimos a saber que estavam a ser encornados e o chão lhes fugiu debaixo dos pés. Nasce a raiva, não só à pessoa que nos traiu, mas uma raiva que se estende ao sexo todo. Mulheres traídas passam a odiar os homens, aquele e todos os outros; homens traídos passam a odiar as mulheres, aquela e todas as outras do mundo. Alguns nunca recuperam e tornam-se azedos. Em certas circunstâncias, dependendo da idade das pessoas, da importância que dão à família e aos filhos, pode tentar-se reconstruir a relação, e há casos em que isso se consegue. Mas a mim parece-me uma intenção impossível. Acho que a perda de confiança é irrecuperável, quem nos mentiu uma vez pode mentir a vida toda, e se aceitarmos essa situação estamos a enviar a mensagem errada ao traidor. Quem perdoa e continua, está a convidar os traidores a traírem mais outra vez. Quem trai e escapa impune, sente sempre um sentimento de orgulho individual, de auto-satisfação, e um dia voltará a sentir a mesma tentação. Não se aprende com os erros, aprende-se é a errar melhor, e assim quem traiu refina-se, torna-se ainda mais inteligente e volta a trair diminuindo as possibilidades de ser apanhado. Os seres humanos são assim, não há volta a dar-lhe. Além disso, existe nos traídos uma vontade de vingança que é uma bomba-relógio para o futuro. A vingança é muitas vezes uma necessidade, a única forma de recuperar a auto-estima perdida, e começa então o ciclo das traições. Ele traiu, depois traiu ela, ou ao contrário, e a história nunca mais acaba. Mais vale cortar o mal pela raiz e seguir em frente. Com a facilidade com que hoje se arranja outra pessoa, para quê ficar com quem nos traiu?

publicado por Domingos Amaral às 11:56 | link do post | comentar | ver comentários (7)
 

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