Sexta-feira, 22.11.13

Soares sempre foi assim: no poder um cordeiro, na oposição um Che Guevara!

Mário Soares sempre foi assim.

Aqueles que agora se espantam com as suas frases, deviam lembrar-se do que ele tantas vezes disse noutras circunstâncias.

Soares, sempre que estava na oposição, insultava tudo e todos, atacava tudo e todos, e não descansava enquanto não atirava abaixo quem estava no poder.

Era, sempre foi, um Che Guevara sem mota e sem boina, mas sempre ao ataque.

Foi assim contra Salazar, contra Marcello Caetano, contra Cunhal, contra Eanes, contra Sá Carneiro, contra o meu pai nas eleições presidenciais, contra Cavaco, contra Guterres, contra tudo e contra todos.

Ninguém se deve pois espantar que ele esteja contra Passos Coelho e, mais uma vez, contra Cavaco.

Como muitos outros políticos de esquerda, antes e depois dele, é um fanático na oposição, mas torna-se um cordeiro no poder.

Lula, por exemplo, seguiu-lhe as pisadas. 

Antes de ser presidente, era um sindicalista perigoso, um metalúrgico radical, o terror da direita e dos mercados.

Quando se viu em Brasília amansou, como Soares amansou sempre, fosse em São Bento, como primeiro-ministro, fosse em Belém como presidente.

Portanto, ninguém se deve espantar com as diatribes do nosso "avôzinho Che", ele sempre foi assim.

É um coelinho Duracell de esquerda, só se cala quando as pilhas oposicionistas se gastam, e lhe metem as pilhas do poder.

A mim, a única coisa que me espanta é que Soares diga agora tão mal da "troika" e do Governo, quando foi ele que convenceu Sócrates a pedir a vinda da "troika".

Ainda se lembrará o nosso "avôzinho Che" do telefonema que fez a Sócrates, obrigando-o a pedir o resgate de Portugal?

Pois é, nessa altura e como muitos portugueses, Soares não percebeu nada e não percebeu o que implicava a chegada da "troika" e das políticas de austeridade, não é verdade?

Eu compreendo o seu arrependimento posterior, mas a verdade é que, quando tudo isto começou, onde estava o "avôzinho Che"?

Pois é, estava do lado errado, e quis a "troika" em Portugal...

É por essas, e por outras, que eu há muito que já não ligo ao que ele diz. 

publicado por Domingos Amaral às 10:33 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 25.10.13

O mistério da importância de Sócrates

Para mim, é um mistério.

Não consigo perceber porque é que ainda se dá tanta importância a José Sócrates.

Porque é que os comentadores se preocupam com o que ele diz, agora que ele é mais um comentador entre tantos.

Porque é que certos jornais continuam a fazer enormes títulos sobre os supostos "casos" da vida dele.

Porque é que o primeiro-ministro se vê obrigado a desmentir uma coisa que ele disse.

Porque é que outros políticos falam dele.

Porque é que tanta gente lhe continua a destilar ódio.

Porque é que pessoas sensatas, como Eduardo Catroga, continuam a dizer que ele devia ser "julgado".

Não consigo perceber.

Sócrates é talvez o político português que desperta mais ódios, mas já não me parece que desperte grandes paixões.

Porque é que dão tanta importância ao que ele diz?

Pela minha parte, nunca acreditei que ele fosse a única razão de todos os nossos males, e o que ele diz já pouco me interessa.

É apenas mais um "talking head" a esforçar-se para ser ouvido.

Neste mundo extremanente competitivo pela atenção, há cada vez mais palavrões, insultos, barbaridades e excessos ditos, quase todos os dias, na televisão ou nos jornais.

Por mera higiene mental, evito dar grande importância a essa avalanche de palavreado de pessoas que estão todas cheias de razão.

Portanto, não lhe ligo grande coisa.

Nem a ele, nem aos outros.

São apenas cabeças falantes que não mandam nada...

publicado por Domingos Amaral às 15:51 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Terça-feira, 01.10.13

Sócrates, Passos Coelho, Rui Rio e os dramas da paróquia

Há coisa de dois anos e meio, antes das eleições de 2011, surpreendi muita gente quando defendi que era um bocado indiferente que quem mandasse no país fosse Sócrates ou Passos Coelho.

Com o país sob resgate, obrigado a adoptar um duro programa de austeridade, qualquer que fosse o primeiro-ministro, iria acabar odiado por toda a gente.

Nessa altura, escrevi que Passos Coelho não sabia onde se estava a meter, e que em dois anos seria tão ou mais odiado do que Sócrates já era.

E, como todos sabemos, Sócrates era muito odiado em 2011, e grande parte dos portugueses, à direita ou à esquerda, já não o podia ver à frente.

Apenas dois anos e meio passados sobre as eleições, o que se passa com Passos Coelho?

Pois, infelizmente para ele, é odiado por meio mundo, ou três quartos do mundo, melhor dizendo.

É odiado pela extrema-esquerda, pelos comunistas, pelos socialistas, e por uma parte importante do eleitorado de centro direita.

É odiado pelos jovens, porque não gera emprego; pelos pensionistas, porque lhes corta as pensões; pelos funcionários públicos, porque lhe tira salários, subsídios e ainda lhes aumenta as horas de trabalho; e por muitos trabalhadores privados, que foram parar ao desemprego.

Até já uma parte do seu PSD, começa a rosnar mais alto contra ele, porque conduziu o partido para uma amarga derrota, e não há grandes perspectivas de vitórias num futuro próximo.

Portanto, dois anos e meio depois, os ódios a Passos são tão ou mais fortes que os ódios a Sócrates, e já há quem, no PSD e não só, veja em Rui Rio o "senhor que se segue". 

Mais uma vez, as pessoas cometem o mesmo erro, e julgam que mudando de primeiro-ministro, ou de líder do PSD, tudo será diferente e voltarão os dias gloriosos do passado.

Infelizmente, não é assim. O problema não está na paróquia, nem a paróquia tem qualquer capacidade para resolver o problema.

Desde que entrámos no euro, deixámos de ter nas nossas mãos muito poder económico, e passámos a estar integrados num "ecossistema" económico que é muito mais vasto do que nós, e onde não mandamos nada.

A capacidade que o Governo português tem para resolver os problemas económicos do país é muito pequena, e ainda por cima extremamente vulnerável ao que se passa no resto do "ecossistema".

A Alemanha, o BCE, a França, a Itália, a Espanha, ainda podem pensar que mandam um pouco, embora cada uma delas tenha cada vez menos força.

Mas, Portugal, e os outros países pequenos, quase nada podem fazer para mudar o seu destino.

A crise, ao contrário do que sempre nos tem sido dito, não é nacional mas sim europeia.

Como Vítor Gaspar teve a coragem de dizer, agora que já não é ministro, o euro tem falhas graves de construção, e se elas não forem remendadas de nada nos valem os sacrifícios.

Por isso, a capacidade de um governo português para determinar o nosso futuro é para aí 10 por cento.

Os restantes 90 por cento não dependem de Portugal, mas sim da Europa.

É claro que, mesmo nesses 10 por cento, há coisas que podiam ser melhores, tanto Sócrates como Passos cometeram erros graves, e podiam ter evitado tanto mal estar.

Mas, a verdade é que, decidindo a Europa este tipo de ajustamento brutal para os países, qualquer um que lá esteja iria ser odiado.

Rui Rio que se mantenha calmo, e deixe passar esta fase.

Pode ser que um dia a Europa tome juízo e alivie a pressão.

Nesse dia, talvez valha a pena ele pensar em liderar o PSD, mas antes disso não.

Seria apenas mais um cordeiro imolado pela Europa, como foi Sócrates, é Passos, e em breve será Seguro.

Tal como António Costa, Rui Rio tem de saber esperar.

Melhores dias virão... 

publicado por Domingos Amaral às 16:00 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 06.06.13

A minha profunda desilusão pessoal com Passos Coelho

Fez esta semana dois anos que Passos Coelho venceu as eleições, e dois anos chegaram para o considerar uma das maiores desilusões da minha vida política.

Conheci Passos Coelho em meados da década de 90. Eu era jornalista, n´O Independente, e a minha tarefa era dedicar-me ao Parlamento. Conversava com deputados de todos os partidos, e guardo boas recordações de muitos deles, entre os quais Passos Coelho.

À data, Marcelo liderava o PSD, Marques Mendes era presidente do Grupo Parlamentar, e tinha em Passos Coelho um fiel e dedicado vice-presidente. Na Assembleia da República, Mendes e Passos formavam uma boa dupla. Eram empenhados, lúcidos, e eram também bem dispostos.

Por várias vezes, almocei e jantei com os dois, e dava-me bem com eles. Reservando a necessária distância, imposta pelos cargos deles e pelo meu trabalho, conseguimos desenvolver uma boa relação, de respeito e estima.

No caso de Passos Coelho, formei desses tempos uma boa opinião. Era preparado, atento, e era também simpático, cordial. Além disso era, tal como Mendes, divertido, e parecia bem com a vida.

Embora os tempos nos tenham afastado, quando Passos Coelho se tornou líder do PSD, acreditei que tinha todas as características para convencer o país das suas ideias, e para chegar a primeiro-ministro de Portugal.

Para mais, o seu discurso até vencer as eleições era acutilante, verdadeiro e parecia confiável. Com o país já farto da arrogância de Sócrates, e com a situação europeia a degradar-se a olhos vistos, Passos emergia como uma solução, e pelo que conhecia dele, era fiável.

Embora me pareça que o PSD foi precipitado a rejeitar o famoso PEC IV, pois trocava um ganho de curto prazo (a derrota de Sócrates) por um sarilho de médio prazo (governar Portugal sujeito a uma resgate da troika), acreditei que Passos Coelho o fazia pelas razões que à época explicou ao país.

É fundamental relembrar isto, pois é essa a fonte da minha desilusão. Passos, até vencer as eleições, sempre defendeu que a "austeridade" era o caminho errado. Mais: prometeu não subir impostos, nem cortar salários, subsídios ou pensões!

A sua posição fundamental era a defesa intransigente de um corte na "despesa do Estado"! O seu discurso era a "reforma do Estado", o "corte nas gorduras", as "reformas estruturais", o ataque aos interesses e ao desperdício do Estado!

Inocente e iludido, como muitos, acreditei nele. Apesar de Portugal já ter vistos dois filmes semelhantes, pois tanto Barroso como Sócrates tinham prometido não subir os impostos e depois fizeram-no; apesar disso, eu acreditei que Passos Coelho seria diferente, que se ia manter fiel às suas promessas e às suas prioridades. 

Quando tomou posse como primeiro-ministro, interpretei o "ir para além da troika" como ambição reformista, e desejo de alterar mais regras e comportamentos no Estado, para além do que já estava combinado com a "troika". Nunca me passou pela cabeça que esse "ir além da troika" fosse o que veio a ser.

Nos meses seguintes, já sentado em São Bento, Passos Coelho deu a maior cambalhota política a que Portugal assistiu e fez tudo ao contrário do que prometera.

Prometera não subir impostos e subiu! Prometera não cortar subsídios e cortou! Prometara não cortar salários e cortou! E prometera cortar a sério na despesa do Estado, reformando-o, e...não cortou, nem o reformou em quase nada.

Ou seja, fez o que prometera não fazer e não fez o que prometera fazer!

Para além disso, e para minha grande surpresa, alinhou a 100 por cento pelas teorias da Sra Merkel, impondo alegremente uma "austeridade violenta", e acreditando com a fé de um fanático que isso ia dar bom resultado.

Para quem o conhecia pessoalmente, como eu conhecia, e para quem criara boas expectativas sobre ele, como eu criara, esta conjugação de faltar à palavra, executar piruetas políticas, revelar fezadas infantis e mostrar puras incompetências, danificaram de forma absoluta a ideia que tinha dele.

Hoje, posso dizer que Passos Coelho me enganou, me desiludiu e considero-o mais um político em que não confio, porque não tem palavra, não tem lucidez e não tem competência para o lugar que ocupa.

Mas, o mais grave não é isso, nem a minha desilusão pessoal é muito relevante para Portugal. O mais grave é que Portugal julgou que, ao livrar-se de Sócrates ia para melhor, e foi para pior.

Passos Coelho colocou Portugal num buraco negro bem mais fundo do que aquele que já existia. A recessão é profundíssima, o desemprego assustador, a dívida colossal.

É verdade que a culpa não é só dele. Merkel, Schauble, Rehn e Gaspar são igualmente responsáveis pela desgraça que assola a Europa e Portugal.

Mas, desses eu nunca esperei grande coisa. Nunca me iludiram e, portanto, nunca me desiludiram.  

publicado por Domingos Amaral às 10:18 | link do post | comentar | ver comentários (20)
Quarta-feira, 22.05.13

Passos Coelho e as palavras do seu pai

António Passos Coelho, pai do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, declarou hoje ao jornal i que o seu filho "está morto por se ver livre disto", e que lá em casa vão "fazer uma festa" quando ele sair do Governo.

É um desabafo perfeitamente compreensível vindo da boca de um pai, preocupado e até desanimado, com o andamento da crise nacional, e a contar os dias até ao fim deste "calvário".

Porém, esta sensação de estar "farto disto" é uma coisa muito portuguesa. Quando a situação é mesmo dura e difícil, os portugueses "fartam-se" rapidamente, e normalmente fazem uma berraria, gritando aos quatro ventos que estão "fartos disto!"

Além de tipicamente tuga, esta situação de "fartura" é muito habitual na política portuguesa. Por cá, os políticos "fartam-se do país" muito depressa.

Coitados, eles têm tão boas intenções, mas o país resiste tanto às mudanças que eles se "fartam!"

Normalmente, isso acontece uns tempos antes de o país se fartar deles, mas como essa relação não é matemática, é difícil de prever quanto tempo aguentará um político "farto do país" antes do país se "fartar dele". 

Ao longo dos últimos vinte anos, vários foram os primeiro-ministros de Portugal que deram sinais idênticos. Cavaco várias vezes revelou falta de paciência para o país. Coitado, estava farto e tal como Passos, "mortinho para se ir embora". Mas demorou...

Guterres, também ele, ao final de uns anos, achou que isto era "um pântano", e à primeira oportunidade demitiu-se, esgotado com a estafante tarefa de governar um povo que não se deixa governar. "Fartíssimo" de tudo e todos, emigrou.

E que dizer de Durão Barroso? Logo à primeira oportunidade, pirou-se para Bruxelas, completamente "farto" da crise que se abatia sobre Portugal. "Morto para se ver livre disto", desapareceu em segundos do radar nacional!

Veio depois Santana, o mal amado, que também deu sinais de esgotamento precoce. Aliás, ainda na tomada de posse, já Santana parecia esgotado, "morto para se ver livre" daquilo. Como se sabe, não durou mais de seis meses. 

Portanto, não me surpreende que Passos Coelho esteja "morto por se ver livre disto"! É algo que acontece a quase todos os políticos portugueses.

E é o que nos vale. O que seria de nós se eles não se "fartassem"?

O último que nunca esteve "morto por se ver livre disto" (Sócrates) esteve claramente tempo a mais, e do penúltimo que nunca esteve "morto por se ver livre disto" (Salazar), é melhor nem falar... 

publicado por Domingos Amaral às 14:14 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 28.03.13

Sócrates, guerra e paz

José Sócrates veio de Paris para trazer a guerra política a Portugal. Ontem, na RTP, foram feitas verdadeiras declarações de guerra, contra os inimigos do costume e outros. Cavaco, Passos, Seguro, "a direita" em geral, que se cuidem, que ele não brinca em serviço e ataca com contundência.

O principal problema de Sócrates não é porém o que ele diz, mas o que ele é, ou representa. Com o seu estilo agreste, tenso e conflituoso, Sócrates não gera emoções positivas, embora nos dê que pensar. É um estranho alimento para o cérebro, mas não para o coração.

O vínculo emocional com a maioria dos portugueses já se quebrou, e não é com prestações como a de ontem que se recupera. As pessoas ouvem Sócrates, mas dificilmente simpatizam com ele. Estão ainda cansadas do personagem, desgatadas pela sua passagem pelo poder. Não passou tempo suficiente para as emoções se reinventarem.

Sócrates parece uma espécie de ex-marido que tem razão em muito do que diz, mas de quem a mulher já não consegue gostar. Pode temê-lo, ou mesmo respeitá-lo, mas já não o ama, nem o quer. 

Contudo, Sócrates tem razões, e várias. Tem razão quando diz que foi a crise financeira de 2008 que castigou em demasia a economia portuguesa. Tem razão quando diz que fez tudo para evitar o resgate a Portugal, ao contrário do PSD e de Cavaco, que para o atirarem abaixo defenderam o resgate. E tem razão quando diz que foi o chumbo do PEC IV que precipitou o resgate.

Além disso, tem também razão quando diz que o PSD alterou profundamente o memorando negociado com a troika, e que foi isso que precipitou a recessão; ou quando diz que a dívida pública já subiu mais com o PSD, entre 2011 e 2012, do que com ele, entre 2008 e 2010.

Porém, ter razão em muitas questões de fundo não altera nada. A verdade é que Sócrates nunca conseguiu convencer nem os portugueses, nem os outros partidos ou o Presidente da República, das suas razões, e por isso foi derrotado nas eleições. A sua capacidade de liderança e de persuasão estava completamente esgotada em finais de 2010, e ter razão não lhe valeu de nada. 

Um político ou um líder só são bons, não quando têm razão, mas quando conseguem convencer o seu povo a segui-los, independentemente de terem ou não razão. E isso Sócrates deixou de conseguir. Tinha cometido demasiados erros, e tratado mal tanta gente, que os portugueses estavam cansados dele, e já não o desejavam a conduzir os destinos do país. Por isso perdeu.

É evidente que um país no estado em que está, muito pior do que quando Sócrates saiu, lhe dá uma oportunidade imprevista e imprevisível. Mas, não nos iludamos. Ele continua a ser a mesma pessoa de sempre. E ter razão não muda nada.

Se ontem Sócrates, em vez de perder tempo com ataques menores a certos jornais ou certos assessores, tivesse reconhecido mais erros próprios, e sobretudo se tivesse mudado o registo agreste e conflituoso em que fala, talvez as emoções dos portugueses fossem diferentes. Assim, foi mais do mesmo. Igual a si próprio, em guerra com tudo e com todos. E Portugal neste momento não precisa de mais guerra, precisa de calma.

Sim, quando estamos dentro de um buraco, é preciso deixar de escavar. Mas também é preciso deixar de andar aos berros e à estalada com todos, e isso Sócrates não consegue. Veio de Paris para trazer a guerra, mas esbarra com um país que não a deseja. 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:18 | link do post | comentar | ver comentários (11)
Quarta-feira, 27.03.13

As audiências de Sócrates: descubra em que grupo se encaixa

Hoje à noite, por volta das 21 horas, quando Sócrates aparecer para a sua muito aguardada entrevista, centenas de milhares de portugueses vão sintonizar o canal público, formando a maior audiência de sempre da RTP dos últimos cem anos!

Há mesmo quem diga que serão vários milhões de portugueses, mas é evidente que isso só se saberá nos dias seguintes. Porém, o que é já certo é que as motivações dos portugueses para verem a entrevista de Sócrates serão muito diversas. É mesmo possível fazer uma tipologia das audiências, dividindo os portugueses em diferentes grupos. A saber:

 

1- Grupo "Matem o Gajo Já!"

São os portugueses enraivecidos com a ressureição de Sócrates. Hoje à noite, a frase mais proferida por elementos deste grupo será "Este filho da p... devia era estar preso". Este grupo, que prima pelo palavrão e pela fúria cega, inclui muitos jornalistas de centro-direita, muitos taxistas e muitos indignados de extrema-direita e de extrema-esquerda. Independentemente do partido em que votam - do CDS ao Bloco, passando pelo PSD e pelo PCP - são o grupo mais extremista, cuja lucidez é quase nula, mas cuja raiva é imensa. Alguns deverão mesmo aparecer à porta da RTP, só para dar uns gritos.

 

2 - Grupo "Volta para Paris Já!" 

Não se devem confundir estas pessoas com as do primeiro grupo, pois estas são mais bem educadas, embora igualmente punitivas. São normalmente pessoas calmas com tendências ditadoriais dentro, que acham que Sócrates devia ser proibido de voltar a Portugal, mas que não têm poder para fazer nada. Limitam-se a pensar que Sócrates é um ser maligno, e devia voltar para Paris imediatamente, mas acabam por ouvi-lo, nem que seja só para confirmar que ele não tem razão em nada do que diz.

 

3 - Grupo "Fora da RTP Já!"

São milhares de pessoas, a julgar pela petição que circulou nas redes sociais. Não querem propriamente calar Sócrates, apenas o que querem calar...na RTP. São pessoas que estão naturalmente ainda indignadas pela forma como Sócrates governou o país, e que acham que o seu dinheiro de contribuintes não deve ser usado para promover o regresso de um dos maiores responsáveis da actual crise do país. Já destilaram a raiva assinando a petição, mas como não deu em nada, vão acabar por ver a entrevista, e dizer uns palavrões pelo caminho.

 

4 - Grupo "Atenção que o Gajo é Perigoso!"

É um grupo recém-formado, mas que tem cada vez mais portugueses, especialmente vindos dos partidos da maioria, CDS-PP e PSD. Com os dias a passarem, estes portugueses têm-se vindo a dar conta que "o gajo até tinha razão em muita coisa" e por isso o seu regresso é perigoso para o Governo, pois vai contribuir ainda mais para o descrédito de Passos Coelho. Alguns destes, depois da entrevista, vão provavelmente passar para os dois grupos acima referidos.

 

5 - Grupo "Isto Já Não Está Nada Seguro!" 

Estão obviamente neste grupo muitos socialistas que, sabendo das fragilidades da liderança de António José Seguro, temem que um Sócrates renovado e revigorado por dois anos em Paris a estudar filosofia seja um enorme sarilho para Seguro. O próprio Seguro deve estar neste grupo...

 

6 - Grupo "Será Que Este Gajo É Melhor Que O Coelho?"

São portugueses que votam em muitos partidos diferentes mas que não são militantes fervorosos de nenhum e que, em parte porque a situação está má, em parte porque até têm algum respeito por Sócrates, estão curiosos para o ouvir, pois as atuais lideranças dos partidos não os convencem muito. Este é um grupo que está em claro crescimento nos últimos dias, embora o Governo não se tenha dado conta disto. 

 

7 - Grupo "I Love Sócrates Forever!"

São os fanáticos socráticos, que lançaram petições a favor do regresso do seu herói, e que o defendem de forma empolgada nas redes sociais, listando os imensos méritos dos seus Governos. Estão enfurecidos com os portugueses que se lembraram de querer proibir Sócrates na RTP, dizendo que isso é censura e outras pérolas no género. Hoje à noite, há quem acredite que muitas garrafas de champanhe serão abertas por este grupo!

 

8 - Grupo "Chico-Espertos Laranjinhas" 

É um pequeno grupo instalado na presidência do Conselho de Ministros, formado à volta de Miguel Relvas e com o apoio do próprio Passos Coelho, que está muito orgulhoso com a ideia genial que tiveram de colocar o país a discutir o regresso de Sócrates, em vez de discutir as incompetências do Governo. Na aparência, o regresso de Sócrates é bom para este grupinho, mas há quem tema um ricochete... 

 

PS: Além destes grupos, há ainda um grupo muito vasto que, ao que parece, não fará parte da audiência, que é o Grupo "Não Vou Ver o Gajo Nem Morto!" Embora eu desconfie que alguns destes ainda vão acabar por saltar para um dos grupos 1 a 6...

 

   

publicado por Domingos Amaral às 15:02 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Segunda-feira, 25.03.13

O país dos ex-políticos sempre ativos

Está a imaginar um dia abrir a TVE e dar com Zapatero como comentador político? Ou um dia ligar a Fox e aparecer-lhe George W. Bush a perorar sobre os acontecimentos da semana? Ou Sarkozy, por exemplo na TF1, a dar palpites sobre a política francesa?

É provável que isso nunca aconteça em países como Espanha, França ou Estados Unidos da América, mas em Portugal é a coisa mais comum do mundo. Abre-se um canal de televisão qualquer, público ou privado, e lá está um ex-político a elucidar-nos com as suas augustas opiniões relativas ao estado da nossa Nação.

Muda-se de canal, e lá aparece outro ex-político, da mesma ou de outra cor, a presentear-nos com a sua magnífica prosa.

Nas televisões portuguesas há uma verdadeira praga de ex-políticos a darem opiniões, uma overdose de malta que um dia teve a sua oportunidade na política e as coisas não lhe saíram bem, e portanto saltou para os canais televisivos, e passou a massacrar os espectadores com as suas ideias, numa espécie de vingança por não terem tido sucesso como políticos. 

Assim, de repente, e só de memória, eis a lista de ex-políticos que temos de aturar todas as semanas nas televisões portuguesas. Dois ex-primeiro-ministros, Santana Lopes e Sócrates; vários ex-líderes do PSD, como Marques Mendes, Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa.

Há também três ex-bloquistas com sortes diferentes na vida: Francisco Louçã, Fernando Rosas e Daniel Oliveira; alguns políticos do PS, como António Costa e o regressado Jorge Coelho. Outros do PSD, como Paulo Rangel ou Morais Sarmento, e ainda outros do CDS, como Bagão Felix. Isto para não falar nos que estão em pousio há mais tempo mas que também foram políticos, como Pacheco Pereira e Lobo Xavier.

Na verdade, Portugal é o país dos ex-políticos sempre activos. Um político em Portugal não sai da política, nunca sai. Se o obrigam pelo voto a deixar o seu lugar, logo ele se ressuscita a si próprio com a ajuda dos canais de televisão, e entra-nos uns tempos depois pela casa dentro, com um sorriso na cara e uma magnífica opinião sobre o mundo, que obviamente deseja partilhar connosco.

Somos, de facto, um país muito original. No entanto, não deixa de me preocupar a promiscuidade que isto revela entre os canais de televisão e os políticos. Na verdade, parece que há mesmo uma relação muito boa entre a política e o jornalismo televisivo. Boa demais...    

publicado por Domingos Amaral às 10:56 | link do post | comentar | ver comentários (11)
Sexta-feira, 22.03.13

Os homens (e as mulheres) da maratona

Se há desporto que está na moda, esse desporto é o atletismo, especialmente na sua modalidade mais longa, a maratona!

Desde há uns anos para cá, uma vasta quantidade de amigos meus, muitos deles que pouco desporto tinham feito na vida, desataram a correr.

Contudo, não era um correr levezinho, à beira Tejo, como no passado se via muitas pessoas fazerem. Nada disso: agora trata-se de correr à séria, correr dezenas de quilómetros, correr como Carlos lopes correu um dia, para nossa grande alegria, a caminho de uma medalha de ouro histórica.

Muitos deles têm sofisticados programas de treino, sapatos próprios para o efeito, cronómetros precisos para contar o tempo, e correm quase todos os fim de semanas, para se manterem em forma. 

Sinceramente, tenho alguma dificuldade em compreender esta moda recente. Talvez tenha sido influência de José Sócrates, quem sabe? A verdade é que as maratonas são cada vez mais populares, e milhares inscrevem-se, sempre que há uma no calendário.

No Domingo, lá haverá a Meia-Maratona de Lisboa, e lá se dará a habitual romaria de milhares para a outra banda, e milhares a correrem em cima da ponte. Dá boas fotografias, mas para quem, como eu, vive em Belém, será mais uma manhã de domingo infernal, com centenas de carros mal estacionados à porta de casa e nas ruas afins, quase impossibilitanto a circulação.

Aparentemente, toda a gente adora correr, mas a grande maioria não dispensa o carrinho no fim da corridinha, e os maus hábitos de estacionamento dos portugueses não acabam só porque agora todos têm o bom e salutar hábito de correr maratonas...

publicado por Domingos Amaral às 16:19 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

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