Segunda-feira, 29.09.14

Costa pode ser o Obama lusitano

Como eu já esperava, António Costa venceu folgadamente contra António José Seguro.

Por mais que o outro o atacasse, poucas dúvidas havia que entre os dois, ele era o melhor.

E agora, com o PS a seus pés, Costa tem de pensar em como ganhar o resto do país.

A sua personalidade tem várias vantagens, a principais das quais é que ele alegra a esquerda sem assustar a direita.

 

Conheço muita gente de direita que tem simpatia, admiração e respeito por António Costa, e que admite mesmo votar nele.

A direita desiludida com Passos e Portas poderá, talvez pela primeira vez, votar no PS, pois a fúria contra o Governo é imensa.

À esquerda, embora o PCP tenha vindo a crescer, o desmembramento do Bloco poderá ser também um aliado de Costa.

Louçã ainda empolgava muitos, mas isso não se passa com a actual liderança bicéfala, de Semedo e Martins.

 

Portanto, Costa pode entusiasmar os que sempre votaram PS, mais aqueles que votaram no Bloco ou noutros fenómenos de esquerda, como Marinho e Pinto e o Livre, e ainda pode ganhar votos ao centro e mesmo à direita.

Como é que isso se consegue?

Enganam-se os que pensam que é preciso ter muitas ideias e fazer muitas promessas.

 

Obama provou que mais importante que políticas concretas é mudar o estado de espírito das pessoas.

Contra a austeridade brutal, a esperança.

Contra a recessão geral, a crença que há um futuro melhor para os portugueses

O "yes, we can" de Obama pode ser adaptado para Portugal.

 

Basta querer, basta falar diferente, basta acreditar.

Tal como George W. Bush na América, Passos e Portas cometeram tantos erros e estragaram tanto o país que a mudança é muito desejada pela grande maioria dos portugueses.

Daqui até às eleições, a única dúvida é saber quantos serão. 

publicado por Domingos Amaral às 09:57 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 15.09.14

Novo Banco: vender à pressa, vai dar barraca

A saga do BES continua, agora com novos episódios e um nome diferente, mas com trapalhadas semelhantes.

Vítor Bento era um nome forte, com credibilidade, mas durou muito pouco.

Aparentemente, é um problema de pressa.

Sente-se nas declarações de Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, que há que despachar o trambolho o mais rapidamente possível.

O governo faz coro, e repete a ideia. Portas, Pires de Lima, Maria Luís, Passos, todos querem vender, e já.

Para ontem, se fosse possível.

 

Ora, qualquer pessoa com dois dedos de testa sabe que vender à pressa é mau.

É mau se for um carro, uma casa, uma Playstation, e naturalmente é mau também se for um banco.

A pressa do vendedor obriga a baixar o preço, e o negócio é sempre pior.

Ainda por cima num banco que saiu de um colapso, e que se pretende recuperar.

Se a ideia era maximizar o valor da venda, para poupar dinheiro ao contribuinte, a pressa é um disparate.

 

Pelos vistos, Vítor Bento queria mais calma, o que só abona em seu favor.

Pelos vistos, Banco de Portugal e Governo querem vender depressa. O todo ou as partes, não interessa, o que interessa é fazê-lo antes das eleições.

Porém, gerir a situação de bancos com timings políticos já se viu que dá num desastre.

É agora evidente para todos que, desde finais de 2013, era conhecida a situação grave do BES.

Passos, Carlos Costa e a "troika" fizeram uma "gestão política" do assunto, adiando-o para depois da saída da "troika".

Deu no que deu, o BES entrou em colapso total, e esfrangalhou-se.

 

Agora, que as coisas pareciam estabilizar, lá vem a "gestão política" outra vez.

Tudo vendido, antes das eleições, para que não se possa atirar à cara do Governo que não protegeu o contribuinte.

Pois. Até Maio, era "proteger o BES", e ele faliu. Agora, é "proteger o contribuinte", e ou muito me engano ou vai dar barraca da grossa outra vez.

Infelizmente, as estratégias de Carlos Costa e de Passos falharam todas no caso do BES.

Esta será a última oportunidade, mas com tanta incompetência até aqui, é provável que corra muito mal também. 

publicado por Domingos Amaral às 11:23 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 09.09.14

Exportar-nos para fora da recessão não está a resultar

Ainda se lembram da forma gloriosa como o Governo apresentava os números positivos da balança comercial portuguesa?

Aqui há ano e meio, estávamos a exportar mais que a importar, coisa nunca antes vista em 50 anos!

Só o Salazar tinha conseguido tal coisa, dizia a propaganda governamental, de Gaspar, Passos e Portas.

Infelizmente, algum tempo depois, os indicadores voltaram a piorar, as exportações foram perdendo gáz, as importações cresceram, e lá voltou o deficit comercial.

Ou seja, o maravilhoso ajustamento que Gaspar dizia ter conseguido, acabando com o deficit comercial, não durou nada.

E o segundo ajustamento, que Gaspar e Passos também diziam ter conseguido, o do deficit orçamental, lá vai morrendo também.

É natural: não se mudam 300 anos de história económica de um dia para outro.

Apesar dos tontos acharem que sim, a realidade do mundo não muda só porque eles acham que sim.

 

Quase quatro anos depois, está à vista que a linha austeritária do Governo, que quis corrigir dois deficits ao mesmo tempo, para reequilibrar o país, não conseguiu atingir esses objetivos, e só deixou um rasto de recessão, desemprego, e ainda mais dívida pública.

Os pequenos indicadores positivos que melhoraram são isso mesmo, pequenos.

É duro, eu sei, mas a verdade é que temos hoje mais desemprego, crescimento menor, impostos mais altos e salários mais baixos do que há quatro anos, e com uma dívida pública muito maior.

A austeridade expansionista, que Passos e Gaspar defendiam que ia salvar o país depois de uma dieta intensa, nunca passou de austeridade, pois de expansionista não teve nada.

 

Como Mário Draghi veio dizer, era falsa e errada a convicção de que as taxas de juro da dívida pública estavam a subir porque os governos gastavam demais.

Entre 2009 e 2012, as taxas de juro da dívida subiram porque os investidores estavam em pânico com a perspectiva do euro acabar.

Não foi a austeridade brutal que recuperou a confiança, foi a intervenção do BCE, e as palavras de Draghi desde o verão de 2012.

A austeridade não trouxe qualquer melhoria, pelo contrário, só piorou as coisas, deixando um colossal rasto de desperdício e recessão.

Agora, como Draghi também disse, é tempo de estimular as economias, baixar impostos, e outras coisas assim.

Ou seja, é tempo de mudar de políticas, e abandonar em definitivo a austeridade desmiolada.

 

Contudo, não será fácil que isso aconteça com Passos e Maria Luís.

Enquanto na fustigada Grécia já se anunciam fortes baixas dos impostos, por cá continua a conversa da treta, de que não há "folga orçamental", etc, etc.

Parece-me que este Governo não tem qualquer capacidade já para efectuar uma mudança de políticas de 180 graus.

Está amarrado às suas ideias, e com elas irá para o fundo, sem salvação possível.

Para que as políticas mudem, não parece haver outra hipótese a não ser mudar de Governo.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:50 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 05.06.14

A conspiração geral contra António Costa

A decisão de António Costa se candidatar á liderança do PS foi o verdadeiro terramoto eleitoral da semana.

De repente, o pânico instalou-se em quase todos os partidos, à esquerda ou à direita.

Primeiro, instalou-se na cúpula do PS.

Seguro ficou totalmente siderado.

Julgava ele que, depois de uma média vitória nas autárquicas e de uma minúscula vitória nas europeias, o seu caminho estava aberto para chegar a S. Bento.

Pode mesmo dizer-se que Seguro, no domingo às oito da noite, já via a luz no fundo do túnel.

Porém, como uma vez disse um escritor americano, temos de ter cuidado com a luz que se vê ao fundo do túnel, pois pode ser um combóio a vir na nossa direção.

Foi o que se passou com o pobre do Seguro: já via a luz ao fundo do túnel, e de repente essa luz é o combóio de António Costa a vir contra ele!

 

Mas, o pânico também se instalou na cúpula dos partidos de centro-direita, PSD e CDS.

No domingo, era indisfarçável o contentamento.

A maior derrota de sempre do centro-direita ficara muito saborosa pois o PS só tivera 31 por cento!

E, como revelava uma sondagem da TVI, isso queria dizer que a derrota nas legislativas não era certa, contra Seguro ainda se podia vencer.

António Costa estragou este cenário idílico, esta fantasia tonta que se apossara de Passos e de Portas.

De repente, o perigo surgiu, fortíssimo.

Ao contrário de Seguro, Costa podia dar cabo de Passos e Portas, era um adversário perigosíssimo!

Em pânico, Passos e Portas desataram a dramatizar, criando mais uma crise constitucional.

A ideia, óbvia, é convencer Cavaco que há mau funcionamento das instituições em Portugal, pois o TC não deixa o Governo governar, e por isso é necessário irmos já para eleições.

 

Ao mesmo tempo que isto se passava, mais duas coisas aconteceram.

Primeiro, Seguro inventou um esquema demorado para a eleição de um novo líder do PS, saindo-se com a ideia das primárias.

De caminho, ia dizendo a Cavaco que o melhor mesmo era pedir eleições antecipadas.

Em segundo lugar, o PCP de Jerónimo, contente com os resultados das europeias, dizia também que queria eleições antecipadas.

No espaço de apenas uma semana, a decisão de António Costa se candidatar à direção do PS produziu estes curiosos efeitos.

Tanto Seguro, como Jerónimo, como Passos e Portas, querem eleições antecipadas.

Todos eles, sem excepção, desejam eleições antes que Costa tome conta do PS, pois todos eles temem perder votos com Costa a liderar o PS.

Há uma evidente aliança objetiva entre o centro-direita que nos governa, os comunistas e Seguro, para evitar que Costa vença o PS.

O terror de Seguro (perder o PS para Costa), o terror de Jerónimo (perder votos para Costa), e o terror de Passos e Portas (perder as eleições legislativas para Costa), têm todos o mesmo fundamento e motivo.

É essa a conspiração contra Costa, todos o querem parar e depressa.

 

A minha única dúvida é Cavaco Silva.

Quererá o presidente acelerar o calendário político, marcando eleições antecipadas por exemplo para Setembro, contribuindo assim para impedir que Costa tome conta do PS até lá, por falta de tempo?

Não faço ideia do que vai na cabeça do presidente da República, mas será grave a existência de uma crise política prematura, cujo único objectivo é afastar um homem do cargo de primeiro-ministro.

É que, no meio de todos estes jogos políticos, temos de pensar em Portugal.

Quem é que a maioria dos portugueses preferem para primeiro-ministro, Costa ou Seguro?

Em quem têm mais confiança para governar o país?

É que a visão de um país onde o PCP cresce muito, o PSD e o CDS estão abaixo de 30 por cento, e o primeiro-ministro e líder de um PS que só vale 31 por cento é António José Seguro, é uma visão aterradora.

Cavaco devia refletir sobre que país vamos ter se ele marcar já eleições antecipadas...

publicado por Domingos Amaral às 11:39 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 28.05.14

Se Seguro ficar, o PS comete um hara-kiri

Por mais que António José Seguro a tente evitar, aproxima-se a batalha entre ele e António Costa.

Seguro teve a sua hipótese, e até teve um resultado honroso nas autárquicas.

Não foi bom, mas também não foi mau.

Porém, nas europeias, o resultado do PS é péssimo.

O maior partido da oposição não consegue ganhar votos quando os partidos do Governo são tão mal vistos.

Com o descontentamento que existe em Portugal com este Governo, com os problemas sociais e económicos que existem, com o desemprego alto, com uma dívida pública altíssima, com os impostos mais altos de sempre, mesmo assim o PS não cresce.

Pelo contrário, o PS perde votos!

E não os perde para o Bloco de Esquerda, ou seja, não os perde porque não foi suficientemente à esquerda.

 

A única explicação que se encontra para o fenómeno é a liderança fraca e pouco entusiasmante de Seguro.

Os socialistas não acreditam nele, e muitos até preferiram olhar para o lado, e votar em Marinho Pinto ou em Rui Tavares.

E, quando assim é, toda a gente percebe que o problema está na liderança, não nas ideias.

Seguro não tem carisma, não tem consistência, e não entusiasma ninguém nas hostes socialistas, quanto mais fora delas.

Nas próximas semanas, pode tentar tudo para evitar o Congresso ou as directas, pode usar todos os expedientes dos estatutos e todos os subterfúgios, que isso não adia o essencial.

E o essencial é que, como mostrou uma sondagem da TVI logo no dia das eleições, com Seguro à frente, o PS arrisca-se a perder as eleições em 2015, ficando atrás de Passos e Portas.

É essa terrível possibilidade de derrota que está a aterrar o PS.

Os partidos odeiam perder, e se estão convencidos que o líder os levará à derrota, esse líder tem os dias contados.

É isso que se passa hoje no PS: com Seguro, os socialistas podem perder!

 

Com este cenário, é natural que António Costa vá ganhando cada vez mais apoios, e que se crie uma onda positiva que o leve à liderança. 

Costa representa uma forte possibilidade de vitória, enquanto Seguro representa uma forte possibilidade de derrota.

Mas, para além de poder vencer, Costa tem outras vantagens quando comparado com Seguro.

Tem experiência política, já foi ministro e é presidente da Câmara de Lisboa há vários anos (Seguro não foi nada).

Tem carisma e mais senso político, bem como simpatia e humanidade.

E, pormenor importante, Costa tem muito mais capacidades do que Seguro para fazer alianças com outras forças políticas, seja à sua esquerda, seja à sua direita.

Nem Marinho Pinto, nem Rui Tavares, nem o Bloco, gostariam de se aliar a Seguro, numa frente de centro-esquerda.

Mas, com Costa é provável que todos gostassem de se aliar, caso seja necessário.

 

À direita, as pessoas pensam da mesma maneira.

Se em 2015 for necessário um governo de Bloco Central, quem preferem as pessoas de direita que esteja à frente do PS?

Preferem um governo onde estão Passos e Portas, e o primeiro-ministro é Seguro?

Ou um governo onde o número um é António Costa?

E os mercados, e os parceiros sociais, os empresários ou os sindicatos?

Será que não é evidente para todos que António Costa é um político que dá mais confiança do que o pobre Seguro?

 

Nas próximas semanas, é sobre isto que os socialistas devem refletir.

Portugal está num momento complicado da sua história, e com o centro-direita tão descredibilizado, o próximo primeiro-ministro tem de gerar confiança aos portugueses todos, sejam eles de esquerda ou de direita.

Parece-me evidente que António Costa está muito mais bem preparado que Seguro para ser essa pessoa.

Se o aparelho do PS não perceber e rejeitar Costa, como é possível, o PS cometerá um trágico hara-kiri. 

publicado por Domingos Amaral às 11:30 | link do post | comentar
Sexta-feira, 23.05.14

Com Champions e Rock in Rio quem vai votar?

Provavelmente, nunca houve em Lisboa um fim de semana assim.

No sábado, temos por cá a final da Champions, no Estádio da Luz, onde estarão milhares de espanhóis, vindos de Madrid e não só.

Para mim, o maior problema não será o trânsito, mas sim a segurança.

Real e Atlético são clubes da mesma cidade, há uma rivalidade fortíssima entre ambos, os adeptos odeiam-se mutuamente, e vai ser um bocado complicado que não existam algumas escaramuças nas ruas de Lisboa.

Imaginem por exemplo que Benfica e Sporting se iam defrontar a Madrid...

Ainda por cima, da última vez que vá vieram, os adeptos do Atlético de Madrid não foram propriamente meigos, e ainda me lembro dos confrontos em Alvalade.

 

Esperemos que a polícia portuguesa, que tem bastante experiência nestas coisas, consiga evitar que os espanhóis se engalfinhem uns nos outros...

Mas, mal acabar a final da Champions, cujos festejos vão durar pela noite fora, começa a malta toda a correr para o parque da Belavista.

Pois é, logo no domingo lá começam os concertos no Rock in Rio, e haverá mais ruas fechadas, mais trânsito, mais malta a andar pela cidade.

Economicamente, tudo isto é muito positivo, mas para muitos moradores será o fim de semana perfeito para ir para fora.

 

O problema são as eleições, que por acaso também calham no Domingo.

O que fazer? Votar ou ir para fora?

Ainda por cima, com o centro-direita envergonhado com os resultados da governação de Passos, e o centro-esquerda nada entusiasmado com Seguro, o mais provável é que o PCP de Jerónimo seja a única força com razões para festejar no Domingo à noite.

A acreditar nas sondagens, nem a derrota de Passos e Portas será muito forte, nem a vitória de Seguro será muito intensa, e por isso as coisas ficarão mais ou menos na mesma.

António Costa terá um fim de semana em grande, com a sua cidade a viver momentos altos, de futebol e música, mas parece-me que ainda não é desta que serão criadas as condições para ele chegar a líder do PS...

publicado por Domingos Amaral às 11:14 | link do post | comentar
Segunda-feira, 12.05.14

Passos e Portas: vitória nas finanças, derrotas nas urnas?

A acreditar nas várias sondagens que vão sendo publicadas, tanto sobre as europeias deste Maio, como as relativas às legislativas, o PSD e o CDS, mesmo coligados, dificilmente vencerão as eleições.

E o PS, mesmo com Seguro, dificilmente não as vencerá.

Isto é o que toda a gente espera, seja para finais de Maio, seja para 2015.

Mas, será que é mesmo isso que se vai passar?

 

Vejamos primeiro as eleições europeias.

Falta já muito pouco tempo para elas, e em duas semanas, mesmo com uma boa campanha de Passos e Portas, é difícil inverter a cabeça da maioria das pessoas.

E a verdade, pelo menos até agora, parece ser esta: mesmo sabendo que terminou com sucesso o "ajustamento", as pessoas não estão satisfeitas com o trabalho do Governo.

Até agora, o PSD e o CDS não conseguiram transformar um sucesso financeiro - o fim do programa da troika - num sucesso político que leve os portugueses a votarem em massa na aliança dos dois partidos.

Aparentemente, o link entre o povo eleitoral e o Governo está danificado e não dá sinais de "restart".

O desgaste muito forte a que a população foi sujeita - com cortes, impostos, taxas, e tudo o mais - levou a muitas dúvidas sobre a capacidade do Governo, o seu sentido de justiça, a sua habilidade, e até a sua moral.

Além disso, este Governo parece ter um prazer especial em confundiar as pessoas, e a última semana foi a melhor prova disso, com as trapalhadas comunicacionais sucessivas sobre a descida ou o aumento de impostos.

 

Em resumo: é quase certo que o Governo vai perder as europeias, e que o PS as vai ganhar.

A grande questão é saber por quanto, se a vitória do PS será curta ou se será esmagadora.

Para quem deseja ardentemente a substituição de Seguro por António Costa (como grande parte do PS, e até muita gente ao centro e à direita); seria melhor que a vitória de Seguro fosse frágil.

Conheço gente na área do PS que não vai votar só para correr com Seguro.

Porém, não sei se serão suficientes, e o mais provável é ele continuar até 2015.

 

Será aí que o grande teste se fará.

Em um ano e meio, o Governo ainda tem algum tempo e algumas armas poderosas para tentar recuperar votos.

Se as coisas melhorarem muito, com o desemprego a cair, e a economia a acelerarar, talvez Passos e Portas ainda tenham uma hipótese de, pelo menos, ficarem à frente de Seguro.

Quem joga na derrota certa do Governo em 2015 deve pensar duas vezes.

A velocidade a que as circunstâncias mudam é muito alta neste dias.

Há um ano atrás, o Governo estava nas ruas da amargura, e toda a gente pensava que íamos a caminho de um segundo resgate, incluindo o próprio Passos Coelho.

Portanto, mais vale o PS e Seguro não enbandeirarem em arco já... 

publicado por Domingos Amaral às 10:26 | link do post | comentar
Quinta-feira, 13.03.14

Porque é que Passos Coelho se irritou tanto com o manifesto?

Passos Coelho irritou-se muito com o manifesto que pede a reestruturação da dívida.

Ainda a coisa não tinha nascido e já estava ele a matá-la no ventre da mãe.

Furioso contra os notáveis, jurou que jamais a dívida seria reestruturada.

Até me espantou, pois Passos não costuma ligar muito ao que dizem os supostos "notáveis" do país.

 

O que se passou para Passos perder a paciência?

É evidente que podemos dizer que este não é o timing certo para falar em reestruturação da dívida.

A dois meses do final do programa de ajustamento, estou de acordo que não é o momento certo.

Agora, o importante é terminar o programa, diz Passos, e não criar dúvidas aos nossos credores.

Sim, mas porque é que Passos acha que o manifesto dos notáveis cria dúvidas aos credores?

 

Em todos os países, quando existem crises de dívida pública, há quem defenda a reestruturação ou renegociação.

Não há qualquer novidade na ideia, que não é nem absurda, nem inesperada.

Porém, qual o real poder dos signatários do manifesto?

Na verdade, nenhum. 

São pessoas de esquerda, de direita, de centro, dali e daqui, mas nenhuma delas tem qualquer poder para condicionar Portugal.

Nem o PS, nem Cavaco, nem Portas, subscreveram o manifesto.

Então, porque se enfureceu Passos, como se tudo o que tinha feito até agora ficasse em causa?

 

Na realidade, Passos está sempre a criar inimigos, e precisa deles para se engrandecer.

Ontem, era o Tribunal Constitucional, hoje são os "notáveis do manifesto".

Alguém a quem se pode atirar culpas, alguém que se pode criticar.

Mas, se o TC ainda era uma instituição que podia limitar as escolhas do Governo, os "notáveis do manifesto" nem isso conseguem.

Enfurecer-se contra eles é uma inutilidade, é ruído sem sentido.

Ou será que Passos acha que a sra Merkel leu o manifesto dos notáveis portugueses e já nem dorme por causa disso?

Ou acha que o rating de Portugal vai ser abalado pelas ideias conjuntas de Louçã e Bagão Felix?

 

publicado por Domingos Amaral às 13:14 | link do post | comentar
Sexta-feira, 21.02.14

Quem tem razão: Portas ou o FMI?

Esta semana, muitos foram o que escreveram sobre a suposta querela entre Portas e o FMI, que teriam interpretações muito diferentes sobre o que aconteceu, e o que está a acontecer, à economia portuguesa.

Para Portas, e de uma maneira geral para o Governo, há um "milagre económico".

As exportações portuguesas dispararam, o desemprego baixa, o ajustamento está completo, e o país pode libertar-se da "troika".

Para o FMI, o cenário não é tão cor-de-rosa, e não há qualquer "milagre económico".

Portugal apenas teve uma recessão muito forte, deixou de importar e por isso a balança comercial ficou positiva; as exportações cresceram pouco, e se não fosse a nova refinaria da GALP o resultado era minúsculo; e os salários ainda têm de descer muito, para o país ser competitivo.

Quem tem razão? Portas, com o seu entusiasmo; ou o FMI, com o seu cepticismo?

O que é interessante nesta questão é que ambos têm razão.

Aquilo que separa Portas e o FMI é uma emoção, um estado de alma, não uma realidade.

Portas está super-optimista, e o FMI está pessimista, e portanto cada um vê a realidade em função do sentimento de futuro que sente.

 

Vejamos a situação objectiva.

As exportações subiram? Sim, subiram, mas não subiram espectacularmente, e de facto, se tirarmos a refinaria da Galp do cenário, o crescimento é curto. 

Portas tem razão, quando diz que as exportações cresceram; mas o FMI também, quando alega que a estrutura de exportações não melhorou muito, Galp à parte.

Há crescimento económico? Sim, há, e isso deve ser celebrado, e aí Portas tem razão.

Porém, é frágil, como alerta o FMI, e baseia-se muito no turismo e nas exportações da Galp, e se o crescimento acelerar lá vai fazer crescer as importações outra vez, e complicar a balança comercial.

O desemprego está a descer? Sim, está, e isso é uma boa notícia, como diz Portas.

Contudo, como aponta o FMI, e outras entidades, na descida do desemprego contam muito a emigração e a sazonalidade do turismo, e por isso não se deve celebrar em demasia aquilo que pode esvair-se a qualquer momento.

E quanto à descida dos salários, quem tem razão? Os salários não têm de descer mais, como dizem Portas e Pires de Lima, e o ajustamento está feito?

Ou têm de continuar a descer, como dizem o FMI e a Comissão Europeia, para o país ser mais competitivo?

Em teoria, estas últimas entidades têm razão, mas há décadas que essa teoria económica foi contestada.

Em meados do século XX, Keynes avisou que há muita rigidez nos salários, e é muito difícil eles descerem, seja em que país for. Os ajustamentos salariais não funcionam bem por causa disso, e portanto outras soluções devem ser procuradas.

Pelos vistos, nem o FMI nem a Comissão leram Keynes, e a insistência neste ponto é uma tontaria.

O comportamento de Portas e Pires de Lima revela o que Keynes há muitos anos explicou: os países, as sociedades, os sistemas políticos, rejeitam as descidas de salários, e portanto não vale a pena ter grandes ilusões nesse campo.

Mas, nada como uma fútil polémica para entreter a malta... 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:44 | link do post | comentar
Segunda-feira, 13.01.14

Vem aí uma nova Aliança Democrática (AD) e cuidado com ela!

No Congresso do CDS-PP duas coisas foram evidentes.

A primeira é que Paulo Portas não conseguiu explicar a sua demissão "irrevogável" em Julho, e perdeu uma boa oportunidade para esquecer o assunto.

A segunda é que está em processo acelerado de gestação uma nova Aliança Democrática, uma coligação eleitoral entre o PSD e o CDS-PP.

Faz aliás todo o sentido, politico e aritmético.

 

Politicamente, se este Governo conseguir terminar o programa de assistência com sucesso, como tudo leva a crer que conseguirá, isso será uma vitória política muito grande para a coligação que governa o país.

A vitória será enorme se existir uma "saída limpa", à irlandesa, sem necessidade de programa cautelar, o que é cada vez mais provável, pois os mercados financeiros estão num momento muito bom e isso ajuda muito.

Mas, mesmo que seja necessário um programa cautelar de um ano, será uma vitória, pois as condições deverão ser bem mais suaves dos que as actuais.

 

Com eleições europeias à porta, ir em coligação impede que a insatisfação, que ainda existe, seja destrutiva, minorando as perdas do conjunto.

Além disso, é uma preparação para as eleições de 2015, sendo as europeias uma espécie de "volta de aquecimento".

E, em 2015, a união eleitoral de PSD e CDS-PP terá como trunfos benefícios mais claros para os portugueses, podendo criar-se uma forte movimentação de suporte dessa AD que permita aos dois partidos atingir uma maioria absoluta.

O método de Hondt também ajudará, e será mais fácil a uma coligação vencer um PS que terá, nessa altura, bem menos argumentos do que os que tem agora.

 

Contudo, as maiores resistências a uma nova AD virão certamente do PSD.

No partido laranja, há muitos que não perdoam a Portas a crise de Julho, e que acreditam que Passos tem neste momento um lastro bem mais forte.

Haverá certamente a tentação de "deixar cair" Portas, estigmatizando-o como "irresponsável", e procurando que o PSD, sozinho e liderado por Passos, possa repetir maiorias absolutas solitárias, como conseguiu com Cavaco Silva.

Será, é óbvio, uma aposta com risco mais elevado, porque é mais difícil ter a maioria absoluta sozinho do que em coligação, mas por vezes o risco compensa.

 

O ano de 2014 vai ser essencial para ver qual destas correntes vencerá.

PSD e CDS-PP tiveram enormes dificuldades para gerir a crise, mas agora que o sucesso está à porta, o maior perigo vai ser a gestão das ambições de ambos.  

publicado por Domingos Amaral às 11:03 | link do post | comentar
 

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