Segunda-feira, 22.09.14

A semana horribilis do Governo

A semana passada foi absolutamente desastrosa para o Governo.

Começou com a demissão de Vítor Bento, para tornar ainda mais instável o que já era de plasticina.

Depois, veio a trapalhada do Citius, na justiça.

Seguiu-se a barafunda da colocação do professores, na educação.

 

Na mesma semana, dois ministros tiveram de fazer um "perdoa-me" em público.

Primeiro foi Paula Teixeira da Cruz, por causa da informática judicial.

Depois Nuno Crato, por causa da informática educacional.

Pelos vistos, o governo tem graves problemas com os computadores.

 

E para acabar em beleza, lá aparecem as notícias de que Passos Coelho poderá ter cometido umas ilegalidades.

Segundo dizem os jornais, recebeu pagamentos de uma empresa quando estava em regime de exclusividade, na Assembleia.

Claro que ele disse o óbvio: "não me lembro, foi há 16 ou 17 anos".

Sim, todos compreendemos que a nossa memória esbate-se ao fim de tanto tempo.

Mas, pela primeira vez, a reputação pessoal de Passos Coelho sofreu um beliscão.

 

E tudo isto na semana em que António Costa poderá finalmente ver-se livre de Seguro.

Se o Governo continua assim, a dar barracas destas, Costa nem vai precisar de fazer muita campanha, para vencer em 2015.

 

publicado por Domingos Amaral às 11:30 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 17.09.14

A Escócia quer ser igual a Portugal?

Nunca fui à Escócia mas tenho pena.

Pelas imagens que tenho visto ao longo da vida, deve ser bem bonita.

E tens bons líquidos, como o petróleo e o whisky, que já não está na moda, como o gin, mas continua a vender muito por esse mundo fora.

Contudo, já estou um bocado farto de ouvir falar no referendo na Escócia.

 

Confesso que não consigo perceber o desejo dos escoceses.

A primeira razão é que eu pensava que a Escócia já era independente, não precisando de o voltar a ser.

Na Escócia há parlamento, governo, campeonato de futebol, seleção nacional, e muitas outras coisas.

É essa a maravilha, e a beleza do Reino Unido.

Por vezes, andam todos juntos, como nos Jogos Olímpicos, mas muitas vezes vão separados, como no futebol.

Galeses, Irlandeses do Norte, Escoceses, Ingleses, são todos diferentes, cada um com a sua capital e as suas manias.

 

Na realidade, o Reino Unido é o que a Europa devia ser mas não é.

É uma união política, que tem um governo e uma moeda comuns, mas em que todos votam para eleger o Governo, ao contrário do que sucede na Europa.

Ou seja, a Escócia participa mais no Reino Unido, e manda mais, do que Portugal participa ou manda na Europa.

Apesar de nós sermos mais "independentes" no papel, na realidade os alemães e a Sra Merkel mandam mais em nós do que Cameron manda na Escócia.

É que os escoceses também votam para escolher Cameron, e que eu saiba nunca nenhum português votou na sra.Merkel.

 

É por isso que eu não entendo a Escócia.

Será que eles não percebem que, tornando-se independentes, mas ficando com a libra (moeda comum), se transformam numa espécie de Portugal, Irlanda, Grécia, Chipre?

Ficarão com uma moeda única, mas deixarão de votar para o Governo do Reino Unido, e aí é que deixam mesmo de mandar no seu destino.

Como Portugal, hoje.

 

Se a Escócia disser sim à independência, vai ficar mais fraca e mais dependente, mais parecida connosco.

É estranho que a Escócia queira ser como Portugal, quando na Europa todos deviam ser como a Escócia, um reino independente dentro de um reino unido, com um só Governo e um só Chefe de Estado.  

Mas, o mundo está difícil de compreender, é essa a verdade. 

publicado por Domingos Amaral às 10:58 | link do post | comentar | ver comentários (8)
Segunda-feira, 15.09.14

Novo Banco: vender à pressa, vai dar barraca

A saga do BES continua, agora com novos episódios e um nome diferente, mas com trapalhadas semelhantes.

Vítor Bento era um nome forte, com credibilidade, mas durou muito pouco.

Aparentemente, é um problema de pressa.

Sente-se nas declarações de Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, que há que despachar o trambolho o mais rapidamente possível.

O governo faz coro, e repete a ideia. Portas, Pires de Lima, Maria Luís, Passos, todos querem vender, e já.

Para ontem, se fosse possível.

 

Ora, qualquer pessoa com dois dedos de testa sabe que vender à pressa é mau.

É mau se for um carro, uma casa, uma Playstation, e naturalmente é mau também se for um banco.

A pressa do vendedor obriga a baixar o preço, e o negócio é sempre pior.

Ainda por cima num banco que saiu de um colapso, e que se pretende recuperar.

Se a ideia era maximizar o valor da venda, para poupar dinheiro ao contribuinte, a pressa é um disparate.

 

Pelos vistos, Vítor Bento queria mais calma, o que só abona em seu favor.

Pelos vistos, Banco de Portugal e Governo querem vender depressa. O todo ou as partes, não interessa, o que interessa é fazê-lo antes das eleições.

Porém, gerir a situação de bancos com timings políticos já se viu que dá num desastre.

É agora evidente para todos que, desde finais de 2013, era conhecida a situação grave do BES.

Passos, Carlos Costa e a "troika" fizeram uma "gestão política" do assunto, adiando-o para depois da saída da "troika".

Deu no que deu, o BES entrou em colapso total, e esfrangalhou-se.

 

Agora, que as coisas pareciam estabilizar, lá vem a "gestão política" outra vez.

Tudo vendido, antes das eleições, para que não se possa atirar à cara do Governo que não protegeu o contribuinte.

Pois. Até Maio, era "proteger o BES", e ele faliu. Agora, é "proteger o contribuinte", e ou muito me engano ou vai dar barraca da grossa outra vez.

Infelizmente, as estratégias de Carlos Costa e de Passos falharam todas no caso do BES.

Esta será a última oportunidade, mas com tanta incompetência até aqui, é provável que corra muito mal também. 

publicado por Domingos Amaral às 11:23 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 03.09.14

Draghi contra Merkel, ou o bom contra a vilã

Mario Draghi é um dos poucos líderes europeus que merece o meu apreço.

Há dois anos, em Julho de 2012 e em plena crise financeira europeia, salvou o euro com uma frase e uma promessa.

Enquanto os outros queriam era recuperar a confiança com austeridade draconiana, ele percebeu que a Europa precisava era de um banco central que estivesse totalmente comprometido com a moeda única.

Na altura, os fanáticos da austeridade não quiserem reconhecer o óbvio: depois de Draghi falar, as taxas de juro da dívida pública dos países caíram a pique.

Aquilo que anos de austeridade não tinham conseguido, Draghi conseguiu com umas meras palavras.

 

Foi isso que Draghi veio reconhecer na semana passada, no seu já célebre discurso de Jackson Hole.

Para ele, não foi o excesso de dívida pública de certos países que colocou em causa o euro, mas sim uma falha no papel do BCE como credor de última instância.

Se o BCE tivesse agido a tempo, como fizeram o FED americano ou o Banco de Inglaterra, o pânico europeu não teria crescido.

Mas Draghi disse mais: defendeu que as políticas monetárias e orçamentais devem ser expansionistas, para acabar com a grave crise que assola a Europa.

 

Ora, dizer isto é chocar de frente contra a linha dura da Europa, a linha germânica, defendida por Merkel, Schauble ou Oli Rehn.

Os fanáticos da austeridade, com a Alemanha à cabeça, espumaram de raiva ao ouvir as palavras de Draghi.

Merkel telefonou-lhe logo, a pedir satisfações; e Schauble disse que ele tinha sido mal interpretado.

Para os alemães, não há qualquer dúvida, só a austeridade continua a poder salvar a Europa.

 

Deviam olhar em volta e ver os estragos que as suas políticas provocaram.

A Europa continua afocinhada na crise, com Itália, França e Alemanha em recessão, e outros países em crescimento mínimo.

O desemprego é muito alto, e a deflação já grassa. 

São esses os resultados da austeridade germânica, mas Merkel e Schauble, teimosos e fanáticos, não querem dar o braço a torcer.

Para eles, na Europa germânica só há uma verdade, a da Alemanha e mais nenhuma.

 

Esta é a grande luta europeia do momento, os austeritários contra o BCE.

Merkel, Rehn, Schauble, Passos e Maria Luís, contra Draghi.

Que Deus dê muita força ao super Mário Draghi, é o que eu desejo, para ver se damos cabo dessa gente tão pouco inteligente.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:35 | link do post | comentar
Sexta-feira, 09.05.14

Passos Coelho e a esquizofrenia dos impostos

Na última semana, fiquei completamente baralhado com as variadas e contraditórias declarações de Passos Coelho sobre os impostos.

Num dia, o Governo apresenta um documento onde revela as subidas do IVA e da TSU.

No mesmo dia, Passos Coelho declara que "os impostos não vão aumentar".

Uns dias depois, o Governo faz saber que admite descer o IRS em 2015.

Há notícias de que o facto é "escondido" ao FMI, mas que o Governo tem mesmo essa ideia, no âmbito da reforma fiscal que está a ser preparada.

Elementos do CDS fazem saber que essa é uma óptima notícia.

A seguir, há mais notícias de que Passos quer mesmo descer o IRS, mas no mesmo dia, ou seja hoje, o primeiro-ministro declara na Assembleia da República que, se o Tribunal Constitucional não deixar passar certas medidas, os impostos terão de subir.

Em que é que ficamos?

Sobem, descem, ficam na mesma, ou tudo ao mesmo tempo?

Com tanta mudança de ideias, não admira que a questão dos "impostos" já seja uma esquizofrenia que ninguém entende.

Provavelmente, já nem o Governo sabe o que irá acontecer...

 

publicado por Domingos Amaral às 16:45 | link do post | comentar
Terça-feira, 06.05.14

O Benfica é o clube do Estado Novo, e do 25 de Abril também!

Por vezes, os adeptos do FC Porto gostam de atirar à cara dos benfiquistas que o Benfica é o clube do Estado Novo.

Nada mais falso. 

É verdade que o Benfica ganhou mais campeonatos que os outros durante o Estado Novo, mas também ganhou mais campeonatos que os outros durante as décadas de 70 e 80, já depois do 25 de Abril. 

Além disso, até à gloriosa década de 60, com Eusébio e Coluna, o Benfica tinha ganho os mesmos campeonatos que o Sporting, durante o Estado Novo, não era melhor ou pior que os leões.

Mas, para provar o meu ponto, apresento algumas estatísticas.

 

Os primeiros 6 campeonatos, durante a década de 30, e portanto já com Salazar como presidente do Conselho, são vencidos pelo Benfica (3) e pelo... FC Porto (3).

Na década de 40, é o Sporting o melhor. Vence 5 campeonatos, contra 4 do Benfica e 1 do Belenenses.

Na década seguinte, a de 50, é de novo o Sporting a dominar, com 5 campeonatos, contra 3 do Benfica e 2 do FC porto.

Portanto, no ano de 1960, com 26 campeonatos já disputados em pleno Estado Novo, a contabilidade era a seguinte: Benfica 10, Sporting 10, FC Porto 5 e Belenenses 1.

 

A partir daqui, o Benfica cresce muito, e o FC Porto desaparece.

Na década de 60, o Benfica vence 7 campeonatos, e o Sporting 3.

E nos quatro anos que irão até à revolução dos cravos, o Benfica vence 3 campeonatos, e o Sporting apenas 1.

Portanto, quando em Portugal se dá o 25 de Abril, existiam já 40 campeonatos disputados, e a contabilidade era a seguinte: Benfica 20, Sporting 14, FC Porto 5, e Belenenses 1.

Embora fosse o Benfica o que tinha mais vitórias, é um pouco absurdo dizer que dominou devido ao Estado Novo quando o Sporting venceu 14 títulos durante esse regime, e até aos anos 50 tinha tantas vitórias como o Benfica. 

 

E o que aconteceu depois do 25 de Abril?

Bem, o que aconteceu é que continuou o domínio do Benfica durante os vinte anos seguintes.

Entre 1974 e 1980, o Benfica vence 3 campeonatos, o FC Porto 2, e o Sporting 1.

E na década de 80, o Benfica vence 5 campeonatos, o FC Porto vence 4, e o Sporting vence 1.

Durante os primeiros 16 anos depois da revolução, o domínio do Benfica é claro, 8 campeonatos, contra 6 do FC Porto e 2 do Sporting.

 

É só nos anos 90 que se dá a grande viragem a favor do FC Porto.

Na década de 90, os azuis vencem 7 campeonatos, o Benfica 2 e o Sporting 1.

E na primeira década do novo século a tendência prossegue: 6 títulos para o FC Porto, 2 para o Benfica, 1 para o Sporting e outro para o Boavista.

Os últimos quatro anos também não alteram a equação: 3 campeonatos para o FC Porto e 1, o deste ano, para o Benfica.

Assim, a contabilidade da democracia, onde aconteceram 40 campeonatos, é muito forte para o lado azul: 22 campeonatos conquistados desde o 25 de Abril, contra 13 do Benfica, 4 do Sporting e 1 do Boavista. 

O FC Porto é sem dúvida o clube que mais venceu no regime democrático, e curiosamente o seu domínio é bem mais claro do que o do Benfica durante o Estado Novo.

Portanto, o que se pode dizer com toda a certeza é que o FC Porto era muito fraco durante a ditadura, e tornou-se muito forte com a democracia; e que os clubes de Lisboa enfraqueceram os dois, sobretudo depois dos anos 90.

 

Pela minha parte, acho que não foi por causa da democracia que o FC Porto cresceu, mas sim porque Pinto da Costa surgiu e percebe muito de futebol.

Para mais, é um pouco estranho que se tire mérito aos clubes, ou às seleções nacionais, por causa dos regimes políticos.

O Brasil, por exemplo, venceu 3 campeonatos do Mundo porque tinha Pelé, ou porque o seu regime era uma ditadura?

Nadia Comaneci era uma fantástica atleta de ginástica ou tudo se explica porque vivia debaixo da pata de Ceausescu?

A ligação desporto-política não é nada clara, nem óbvia, muito menos no futebol.

O Benfica, é sabido, sempre foi olhado com desconfiança por Salazar, que até considerava o clube de "esquerda"!

E, quem é que ganhou campeonatos durante o PREC e o Verão Quente, no auge da revolução de Abril? O Benfica (75,76 E 77)... 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 16:26 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Sexta-feira, 14.06.13

A esquizofrenia económica e mediática do Governo

Qualquer estudante de Economia sabe que a psicologia dos povos é tão ou mais importante para a economia do que as decisões reais dos governos. 

Desde Keynes até aos pensadores das expectativas racionais, todos estão de acordo que os "estados de alma" de um povo, o seu optimismo e pessimismo, a sua esperança ou a sua descrença no futuro, podem determinar o andamento da economia.

Não é pois de estranhar que os Governos tentem, com os seus discursos, influenciar a psicologia de um país. Por vezes com avisos, como o de Cavaco, com o célebre "gato por lebre"; ou o de Barroso, com o não menos célebre "o país está de tanga". 

Por outras, há uma intenção clara dos políticos de tentar inverter as expectativas, passar do pessimismo ao optimismo. Foi isso que vez Vítor Gaspar, quando há uns dias atrás proclamou bem alto: "este é o momento do investimento"!

Porém, estes discursos psicológicos têm de ser coerentes. Se o discurso visa "arrefecer" a economia, tem de se ser consistente durante uns tempos. Se, pelo contrário, o discurso visa "reanimar" a economia, não se pode dar boas notícias à segunda-feira e más notícias à sexta.

Ora, é precisamente essa coerência que não vejo neste Governo. Tão depressa Passos diz que "as condições de financiamento estão a melhorar", como diz que "o desemprego vai continuar a aumentar". 

Num dia fala-se em "voltar a crescer", passados dois dias fala-se em "cortes substanciais nos salários e nas pensões". De manhã acorda-se a dizer que há "sinais muito positivos na receita fiscal", e à tarde decide-se não pagar os subsídios de férias porque "não há dinheiro".

Esta permanente montanha-russa de boas e más notícias mostra bem o descontrole comunicacional do Governo. Como acreditar que "este é o momento do investimento" quando se anuncia ao mesmo tempo profundos "cortes nas pensões e nos salários"? Como acreditar que há "sinais encorajadores" quando o desemprego bate recordes todos os meses?

Cada semana que passa fico mais convencido que este Governo teve um ataque agudo de esquizofrenia económica, é um Governo bipolar, que anda a deixar os portugueses à beira de um ataque de nervos.

E as coisas não parecem estar a melhorar. Há dois dias, por exemplo, Passos Coelho zurziu no FMI por este ter feito umas críticas à União Europeia, e Cavaco chegou a pedir a saída do FMI da "troika".

Porém, apenas um dia depois, o Governo confirmou que vai levar à prática todas as medidas que o FMI propôs para cortar na despesa. Em que é que ficamos? Então o FMI é duvidoso, mas fazemos o que ele manda?

É natural que o país ande confundido. Nestes altos e baixos permanentes, vivemos entre crenças que duram uns dias e depressões que duram umas semanas. Como os infelizes pais de um filho esquizofrénico, estamos esgotados e sem saber em quem acreditar.

 

publicado por Domingos Amaral às 11:22 | link do post | comentar | ver comentários (3)
 

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