Quarta-feira, 12.12.12

Lista de Presentes de Natal para o Governo

Para quem esteja com dúvidas sobre o que comprar e o que oferecer a alguns dos nossos governantes no próximo Natal, eis aqui umas sugestões:

 

Pedro Passos Coelho - um coelinho a pilhas da Duracell, que dura, e dura e dura...O livro do prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, com o título "Acabem Com Esta Crise Já!". Um CD do Paulo de Carvalho, com uma gravação da Nini, ao vivo no Coliseu, para se recordar sempre daquela noite. 

 

Vítor Gaspar - Um curso rápido de operador de telemarketing, para ele aprender a falar mais depressa. Um dicionário português-alemão para se entender ainda melhor com o seu congénere Schauble. Um kit de modelismo para ele poder "modelar" as medidas que quisesse. 

 

Paulo Portas - Muito papel de carta e envelopes lacrados, e uma caneta Bic, para nunca lhe faltar com que escrever cartas à "troika". Um vídeo sobre malabarismos em cima do arame, perigosos mas muitas vezes bem sucedidos. 

 

Miguel Relvas - Uma televisão, com home cinema e 200 canais à escolha, para ele matutar sobre todos os modelos possíveis para a RTP. Um par de castanholas para ele actuar mais vezes no rancho fóclórico. Um curso rápido de inglês, fácil de terminar. 

 

Miguel Macedo - Um livro de fábulas de La Fontaine, para se inspirar, e uma embalagem de Baygon para poder eliminar cigarras. E formigas. E melgas.

 

Álvaro Santos Pereira - Um combóio eléctrico, uma retroescavadora e muitos camiões, todos da Playmobil, para ele lançar a reindustrialização do país e da Europa a partir de casa.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:32 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 25.09.12

A Cigarra, a Formiga e o Ministro

Ontem, devido ao mau tempo que a impedia de ir à praia, uma cigarra dirigiu-se ao café, para tomar uma bica. Sentou-se numa mesa e ali ficou, com um ar abatido. Pouco depois, entrou no café uma formiga, que vendo a cigarra tão desanimada, dirigiu-se a ela e perguntou:

- O que é essa cara, estás doente?

A cigarra encolheu os ombros. Não estava doente, estava com a neura. E explicou:

- Estou farta disto. Sempre que os políticos têm de chamar preguiçosos a alguém, usam as cigarras como exemplo. Ouviste o ministro da Administração Interna, o Macedo?

- Sim, ouvi - respondeu a formiga.

- Diz que os portugueses deviam ser mais formigas e menos cigarras.

A cigarra bufou:

- Como se nós fossemos preguiçosas!

A formiga franziu as sobracelhas:

- Bem, não vou dizer que ele tem razão, mas vocês são um bocado...sei lá, são cigarras!

A cigarra abanou a cabeça, desconsolada e disse:

- Só porque não trabalhamos como vocês, isso não quer dizer que sejamos preguiçosas. Não trabalhar não significa que não façamos nada. Ir à praia também é gastar gasolina, gastar dinheiro em cremes para o bronze, gastar dinheiro em biquinis, em cervejas, em gelados, em comunicações de telemóveis. Bolas, então agora as pessoas acham que é mal gastar dinheiro? 

A formiga ficou em silêncio. Percebeu a ideia, mas não estava muito de acordo com a cigarra.

- Achas que a crise não afecta as cigarras? - perguntou a cigarra.

A formiga nunca tinha pensado naquele ponto de vista e permaneceu calada. A cigarra insistiu:

- É cada vez mais difícil ir à praia. A gasolina está cara, o iva subiu, o dinheiro não dá para nada! Mesmo que eu não queira fazer nada, tenho cada vez menos dinheiro para não fazer nada! 

A formiga começou a percebê-la e confirmou com um aceno de cabeça.

- Lá isso é verdade, eu também tenho cada vez menos dinheiro...

A cigarra olhou para ela espantada, não estava à espera de ouvir tais palavras:

- Então?

A formiga encolheu os ombros:

- Trabalho como um cão, o ano inteiro a levar comida para casa, e depois o governo sobe o IRS, corta-me o salário, e tira-me uma parte do que eu amealhei. Além disso, é cada vez mais difícil armazenar comida para o inverno, com as subidas do IVA. Trabalho o mesmo e cada vez tenho menos. 

A cigarra estava espantada a olhar para ela e mais espantada ficou quando a formiga disse:

- Está a ser cada vez mais difícil ser formiga. 

Aproximou-se da cigarra, e falou mais baixo:

- Sabes, há dias em que me apetece ser como tu...

A cigarra abriu muito os olhos:

- Como eu?

- Sim, respondeu a formiga. Ser cigarra. Não trabalhar. 

A cigarra estava estupefacta e indignou-se:

- É pá, isso não pode ser! Tu não és uma cigarra, tu tens de ser uma formiga, senão a fábula perde o sentido!

A formiga encolheu os ombros:

- Que se lixe a fábula! Estou farta disto! É um massacre, tiram-nos o dinheiro todo!

Neste ponto, a cigarra estava totalmente de acordo:

- Tens toda a razão! Estes gajos andam a lixar a economia toda, e ficamos todas pior, cigarras ou formigas!

Sentindo-se com confiança, a formiga levantou a voz:

- Estou farta da troika, da austeridade, destes imbecis! E do ministro também!

- Apoiado! - gritou a cigarra.

- Qualquer dia rebento com esta merda toda, pegamos fogo ao país, fazemos como as formigas gregas!

- Apoiado! - gritou a cigarra.

Num ímpeto de indignação, a formiga levantou-se e berrou bem alto, para que todos no café a ouvissem:

- Estou farta de ser formiga, de ser honesta e trabalhadora! E a minha amiga cigarra, também está farta de ser cigarra, pois já nem para isso tem dinheiro!

A cigarra sorriu, lisonjeada pela referência. A formiga continuou, empolgada:

- A partir de agora, acabam-se as formigas e acabam-se as cigarras! A partir de agora, vamos todas ser vespas! Vespas insuportáveis, que azucrinam a cabeça dos ministros e dos políticos! E que os picam, e picam, e picam!

Houve um aplauso geral no café. Todos estavam indignados com a crise e com o governo. Todos estavam fartos de ser cigarras ou formigas, todos queriam passar a ser vespas, perigosas e zangadas! Juntaram-se para pensar o que fazer. Ainda sentada no seu lugar, a cigarra encontrou uma razão adicional para querer ser vespa. É que ela achava as vespas criaturas com muito bom gosto. Vestiam-se bem, misturando aqueles tons amarelos e negros com uns padrões listados. Além de temidas por todos, as vespas eram bonitas, com um ar de "femmes fatales". A cigarra estava a achar o "máximo" a ideia de se transformar numa vespa...

publicado por Domingos Amaral às 12:08 | link do post | comentar | ver comentários (2)
 

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