Quinta-feira, 11.10.12

Cada vez gosto mais da Gabriela

Cada vez gosto mais da telenovela Gabriela, que a SIC emite de segunda a sexta. Adoro o professor-poeta e a sua Malvina; o coronel Jesuíno e o seu "eu vou-lhe usar"; a Sinhazinha e o seu amado dentista, infiéis já descobertos pela criada chantagista; a Ivete Sangalo como Maria Machadão; o Beto que desvirginou a noiva que perdeu os pais num acidente, e com quem ele já não quer casar; a mulher do Tonico Bastos que lhe adora morder as nádegas; o próprio Tonico Bastos, que faz do Bataclan o seu cartório; a Jeruza que se apaixona pelo Mundinho; o Mundinho que desafia o poder do coronel Ramiro Bastos; o coronel Ramiro Bastos que chama "deputado de merda" ao filho; o coronel Melck, sempre pronto para mandar matar alguém; o Juvenal que é virgem e joga às cartas com a puta; a Gabriela que gosta de papagaios, de saltar ao eixo com as crianças, e não quer vestir sapatos nem ouvir falar em casar; e o Nassib, o "meu turquinho", apaixonado pela natureza bela, em estado puro, que vê na sua cozinheira, a mulher cravo e canela.

Sim, adoro Ilhéus, a sua política primitiva, a sua Igreja, os seus cafés, a sua cachaça que fala em vez de falarem as pessoas, os seus mexericos e intrigas, as manhas das mulheres e os truques dos homens; adoro as expressões, a reinvenção do português que nos ensinam, com os seus "chamegos", as suas "quengas", os seus "cabras". O livro que Jorge Amado escreveu já era uma obra de arte literária, mas a Globo conseguiu, pela segunda vez, transformá-la numa obra prima televisiva. No mundo das telenovelas, esta Gabriela reinará para sempre no Olimpo, onde só existia, até agora, Roque Santeiro. Mas Gabriela consegue ser ainda melhor!

Num país massacrado pelas más notícias, que bom é perdermo-nos todas as noites naquele universo fantástico do Nordeste brasileiro, que bom é emocionarmo-nos, que bom é rir, que bom é comovermo-nos, que bom é excitarmo-nos com aquela dança sexual permanente, que bom é voltar às origens básicas e primárias que existem dentro de cada homem e de cada mulher. Quem não ama a telenovela Gabriela é porque já morreu por dentro...  

publicado por Domingos Amaral às 11:00 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Quinta-feira, 20.09.12

As "maminhas" da Kate

Uma revista francesa teve a ousadia de publicar fotos de Kate Middleton em "topless", o que é uma javardice indecorosa. Não é por Kate ser mulher do príncipe William, e portanto futura rainha de Inglaterra daqui a muitos anos, que o mundo inteiro tem direito a ver as suas "maminhas"! As "maminhas" da Kate não são dos seus súbditos, nem do público da revista francesa; as "maminhas" da Kate são delas, e não nossas! Só Kate as pode contemplar e tratar, como ela bem quiser, e só ela tem o direito de escolher a quem quer mostrar as suas "maminhas"!

É provável que, sendo ela casada com William, ele possa naturalmente contemplar as "maminhas" da esposa, é isso que maridos e mulheres costumam fazer. Contemplar e se quiser espalhar creme, num dia de sol, ou muitas outras coisas que lhe passem pela real cabeça. Mas sempre, sempre, com a autorização de Kate. As "maminhas" de Kate, como as maminhas de qualquer rapariga ou mulher, são delas. Não são um bem público para a malta apreciar à má fila. Só quando uma mulher decide que, por qualquer razão, deseja mostar as "maminhas" em público, é que as "maminhas" dela passam também a ser nossas e já não apenas dessa mulher.

Ora, não foi isso que aconteceu. Kate não estava na praia em Albufeira, a fazer monoquini. Nem sequer estava na piscina de um hotel, ou num iate de luxo atracado à frente de Monte Carlo. Nada disso: Kate estava numa quinta de um amigo, na piscina. Num local privado, recatada e em sossego junto do seu marido. Que haja um paparazzi troglodita que trepe a uma árvore a 800 metros de distância e a fotografe em "topless" é uma pulhice sem nome! E que revistas publiquem estas fotos é uma canalhice absurda que lhes vai custar muito caro.

Não se pode permitir que isto aconteça. Publicar as fotos das "maminhas" da Kate é o exemplo perfeito de um "media rape", uma "violação mediática". E nós, leitores, se compramos essas revistas, transformamo-nos em espectadores dessa violação. É uma brutalidade, e atenção: as "maminhas" da Kate serem ou não serem bonitinhas não é uma atenuante! Eu não vi as fotos, por isso não sei se são grandes ou pequeninas, redondas ou em forma de pêra. Isso não interessa. As "maminhas" da Kate são dela e que eu saiba ela não me quis mostrá-las.

publicado por Domingos Amaral às 11:20 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Terça-feira, 18.09.12

A Gabriela contra a Casa dos Segredos

Começou esta semana em Portugal a grande batalha televisiva do ano, que coloca frente a frente dois monstros sagrados da nossa televisão. De um lado, a Gabriela, o remake da mais famosa telenovela da Globo, a primeira a ser emitida no Portugal livre nascido da revolução de Abril de 74. Do outro, a Casa dos Segredos, o mais espantoso monumento nacional produzido no Portugal do século XXI para o pequeno ecran.

De um lado e na SIC, "as putas" do Bataclan, com a Maria Machadão, a Zarolhinha, e um harém de fru-frus, coxinhas e mamocas ao léu. Do outro e na TVI, as boazonas com ar de putéfias, nascidas na obscuridade das casas de alterne ou de bares manhosos do país profundo, cujo sonho de futuro é colocarem mais mililitros de silicone nas mamonas!

De um lado vão estar os coronéis agressivos, putanheiros e arrogantes, que dominavam o Nordeste do Brasil há mais de cem anos. Do outro, vão estar os musculados exemplares nacionais, lusitanos de pura gema, com pinta de segurança de discotecas e expressões de grunhos analfabetos, que dominam a noite de Portugal.

De um lado vai estar o erotismo picante das mulatas, o desejo de fornicação permanente, a alegria das putas e dos maridos infiéis, o terror dos conservadores e dos católicos. E do outro vão estar hectolitros de mamonas a quererem sair dos decotes, danças sexuais com calças a comprimirem órgãos genitais, pérfidos jogos de encornanços e traições, famílias em sofrimento com os seus heróis privados, o terror dos conservadores e dos católicos.

Que belo combate televisivo. E ainda por cima, em ambos os programas é difícil compreender o que dizem os personagens. Na Gabriela, há o sotaque carregado do Nordeste, pretas, putas, senhoras e coronéis falam um dialecto quase incompreensível. Na Casa dos Segredos, há os pontapés na gramática, as expressões de um calão inculto que invadiu a nação, os microfones que emudecem aos soluços, e às vezes, tipos e tipas que comem e falam ao mesmo tempo, só para atrapalhar o nosso entendimento. É claro que eu prefiro a Gabriela, prefiro as mamocas às mamonas. Mas, não resisto a espreitar a Casa dos Segredos. Nunca tão poucos fizeram rir tantos!

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:48 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Quinta-feira, 06.09.12

Gabriela, Cravo e Canela

Tremo de excitação sempre que na SIC aparece a promoção do remake "Gabriela", a telenovela brasileira. É que para mim a "Gabriela" é um marco, um mito, uma lenda. A "Gabriela" foi "o" ato fundador da nossa televisão, onde tudo começou, há muitos anos. Foi a primeira telenovela que Portugal viu, estreou-se em 1975, e era um portento de erotismo, sexualidade e emoção, mas também uma belíssima narrativa. Baseada no romance de Jorge Amado, "Gabriela, Cravo e Canela", conta a história de uma mulher lindíssima e selvagem que se casa um comerciante árabe, o famoso Sr. Nassib, que entre outras coisas a obriga a calçar sapatos, o que ela rejeita com aquela que se tornou talvez a mais famosa frase nacional daqueles tempos: "sapato não, sô Nassib!" Gabriela, interpretada pela fogosa e misteriosa Sónia Braga, que tinha o sexo estampado no sorriso, era um hino à perdição, e lá em casa rapidamente os meus pais decidiram que as crianças não podiam ver aquilo. Foi a única proibição televisiva de que me lembro, mas não foi muito eficaz. Quase sempre eu e o meu irmão, com oito ou nove anos, conseguíamos furar o embargo parental e espreitar a televisão, onde se desenrolavam mil e uma intrigas, muitas delas em redor do famoso e inesquecível "Bataclan", o mais entusiasmante cabaret da história de televisão. Nem Hollywood conseguiu inventar um local tão mítico como o "Bataclan" e eu tenho pena de nunca na vida ter encontrado um sítio como aquele. Gabriela foi um hino à subversão, mas foi também provavelmente a melhor telenovela de sempre que a Globo produziu. Depois dela, vi muitas. Vi "O Casarão", vi "O Astro", "Dancing Days", "Águia Viva", e muitas mais, incluindo as mais recentes, mas só "Roque Santeiro" chegou ao mesmo patamar de qualidade, ao mesmo Olimpo televisivo, onde vive e viverá sempre "Gabriela". "O que fazemos na vida faz eco na eternidade" e só Gabriela e Roque Santeiro serão eternas e imortais. Nunca mais ninguém tomou conta do ecran como Sónia Braga tomava, nunca mais se viu uma mulher felina como ela a deixar os homens de cabeça perdida e as mulheres a rezar, com medo que ela lhes roubasse os maridos. Estou ansioso para ver o "remake" e espero que Juliana Paes esteja à altura. Pelas imagens que tenho visto agrada-me, embora seja uma ousadia atrevida fazer concorrência aos mitos. Mas não vou perder, ai isso não vou. E vou estar lá, no "Bataclan", todas as noites, fiel freguês de um mundo fascinante e imaginário, que nos enfeitiçou para sempre.     

publicado por Domingos Amaral às 12:33 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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