Segunda-feira, 03.06.13

Mário Soares e a união das esquerdas e do povo unido

Quando um governo de direita vira demasidado à direita e ainda por cima governa mal, não é de estranhar que a esquerda vire à esquerda e se comece a unir.

É a isso que temos estado a assistir nos últimos meses: uma progressiva união das esquerdas, juntando socialistas, comunistas, bloquistas, sindicalistas e ainda alguns radicais.

Além da Grândola e de Mário Soares, que tudo tem feito para patrocinar esta "frente popular" do século XXI, a cola que une a esquerda é a terrível crise económica em que este governo mergulhou o país, mas sobretudo uma rejeição ideológica fortíssima da postura deste PSD.

Passos Coelho não só pratica um neo-liberalismo de retórica, o que irrita a esquerda; como sobretudo parece ter uma permanente postura de afrontamento da Constituição, provocando um cisma no consenso geral que antes existia sobre os princípios fundamentais do regime.

Este ataque ideológico à Constituição e ao seu representante jurídico, o Tribunal Constitucional, não é ilegítimo, mas é um terrível erro político conjuntural.

Com tanta dificuldade que este Governo tinha para enfrentar, não se percebe que tenha escolhido intencionalmente uma luta ideológica e anti-Constituição, numa época em que o mais necessário era a existência de alguns consensos nacionais para enfrentar as dificuldades.

Mas, Passos Coelho não parece ter muito bom senso. No meio da tempestade financeira e económica, escolheu abrir ainda mais frentes de guerra, e promover uma luta contra a Constituição e contra alguns dos seus princípios.

O resultado não tem sido bonito de ver. Além de ter mergulhado o país numa profunda crise económica, Passos Coelho está a conseguir o que ninguém antes em Portugal tinha conseguido: unir as esquerdas. 

Os sinais são cada vez mais evidentes. E não, não são apenas os apelos de Mário Soares, alguns compreensíveis, outros evidentes excessos e excitações. 

São sobretudo as aproximações entre a UGT e a CGTP, os encontros de esquerda onde se vêem pela primeira vez socialistas, comunistas e bloquistas juntos; e uma lenta, mas segura, aproximação nos discursos e nas ideias.

É ainda possível declarar, com sobranceria, como fazem muitas pessoas de direita, que Soares está velho e já não risca nada.

E é possível também proclamar que Seguro não tem "carisma", nem nunca será o líder pelo qual a esquerda anseia.

É verdade, pelo menos por agora. Mas, cada dia que passa a esquerda está mais próxima da união, está maior e a crescer.

Um dia destes será indiferente quem a lidera, porque a união faz a força. 

publicado por Domingos Amaral às 10:23 | link do post | comentar | ver comentários (9)
Terça-feira, 20.11.12

Quem percebe Mário Soares?

Por mais que tente, não consigo perceber Mário Soares e a sua costela de agitador. Uma vez por semana, lá aparece o antigo presidente da República a proclamar que o Governo se deve "demitir". Quem o ouve tem a sensação que, se ele pudesse, saía à rua para mandar uns gritos contra o poder. Soares é o radical de salão do momento, que não lança pedradas mas frases bombásticas.

Ontem, proclamou que "não percebe porque é que o Governo não se demite". Com o devido respeito que se deve a um fundador da nossa democracia, o que eu não percebo é porque é que ele não percebe. 

As razões para o Governo não se demitir são fáceis de entender. Por mais que estejamos contra a política deste Governo (e eu estou, em especial contra a fórmula da austeridade escolhida por Vítor Gaspar), convém não esquecer que ele foi eleito democraticamente, há pouco mais de um ano e meio, e tem toda a legitimidade política para governar, mesmo que o faça mal. 

Em democracia, e Soares sabe isso melhor que ninguém, a legitimidade política pode-se esgotar por muitas razões, mas manifestações, greves gerais e sondagens que dão o PS à frente do PSD, não estão entre as razões desse esgotamento. Só se, por algum motivo, as instituições deixarem de funcionar, é que há uma crise de legitimidade, mas isso não aconteceu ainda. 

Além disso, a mim espanta-me que Soares venha agora espernear contra o "memorando da troika", quando sempre se orgulhou de ter sido ele que, numa conversa telefónica, obrigou José Sócrates a pedir o resgate de Portugal. Assim sendo, Soares é um dos responsáveis pela "troika" ter aterrado na Portela em 2011, e portanto devia lembrar-se disso, em vez de andar por aí a barafustar.

Mas pronto, Soares sempre foi assim. Quando esteve no poder, meteu o socialismo na gaveta e foi um "socialista amoroso" que não assustou ninguém. Quando está fora do poder, transforma-se num radical de esquerda. É giro, mas difícil de perceber. 

publicado por Domingos Amaral às 11:04 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

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