Segunda-feira, 12.08.13

Tolstói ou o prazer de reler os clássicos

Não sei bem porquê, olhei para a minha estante e vi um livro: "Guerra e Paz", de Tolstói.

Era apenas o primeiro volume de quatro, na edição da Presença. 

De repente, deu-me uma enorme saudade do tempo em que lera aquela saga, talvez com 18 ou 20 anos.

Mas lembrei-me de que já não me lembrava bem dos detalhes, dos personagens, da trama.

Apenas ficara, retida na minha memória, a ideia de que era um longo e fascinante romance, passado na Rússia, no tempo da Napoleão.

Abri o livro e...ainda não parei de ler. 

Tolstói é um génio, agarra-nos pelos colarinhos e não larga. É como um cão, que nos ferra o cérebro.

São Petersburgo...

Apetece correr para lá, tentar descobrir onde vivia Pierre, o filho bastardo do conde Bezúkhov, tentar descobrir o que é feito da grande Rússia de Catarina, que se perdeu na História e nunca mais voltou.

Depois, há as magníficas descrições da guerra, as tontarias de soldados e generais, austríacos e russos, as bravuras e as loucuras de uma época onde Napoleão metia medo à Europa.

A tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra é magistral, não se perde nada, tudo se aproveita.

Mas é ao grande mestre russo que se deve a prosa que nos perturba, que nos causa admiração, que nos subjuga docilmente.

Comecei ontem e hoje de manhã já andava a correr as FNACs, à procura dos volumes seguintes, como um doido à procura de droga.

Às vezes, acho que os livros são a minha cocaína, e estas doses estão a saber-me tão bem.

Sinto-me a flutuar num limbo cerebral vertiginoso, entre a Rússia antiga e aristocrática, cheia de príncipes e princesas, e o meu sofá, onde há um fundão com os contornos do meu corpo.

Porra, há tanto tempo que não lia nada assim!

publicado por Domingos Amaral às 16:14 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 31.07.13

Livro da semana: "Waiting for Sunrise" de William Boyd

William Boyd é um dos escritores ingleses de que mais gosto, e entusiasmam-me sempre os seus livros, passados normalmente em ambientes de guerras, ou em locais exóticos. 

Gostei muito de "Ice-Cream War", de "Brazzaville Beach" ou de "The Blue Afternoon", mas "Any Human Heart" também é muito bom. 

E o último mostra que ele está melhor do que nunca.

"Waiting for Sunrise" é o seu título, e li-o em inglês, pois ainda não está traduzido, o que é pena.

A primeira parte é passada em Viena, pouco antes de começar a primeira guerra mundial na Europa.

O protagonista é um jovem actor inglês que pretende tratar em Viena uma disfunção sexual íntima, e a cidade da Áustria era o local óbvio.

O seu psiquiatra é conhecido de Freud. Aliás, o protagonista chega mesmo a conhecer Freud, cumprimentando-o num café.

Porém, só uma mulher o cura das suas maleitas, embora isso seja o princípio da sua desgraça. 

É preso em Viena, acusado de violação e para se safar é ajudado a fugir pelos serviços secretos ingleses, que depois o recrutam como agente secreto.

A história é mesmo muito boa, e o ambiente de Londres durante a 1ª grande guerra é bem descrito, bem como a vida nas trincheiras da guerra. 

Boyd é um mestre da narrativa que parece simples mas é riquíssima, nas suas nuances e nos seus detalhes pitorescos, um grande artífice do thriller romântico, e o livro deixa saudades no fim.

Agora, espero com curiosidade a sua próxima obra, a continuação da saga de James Bond, o já prometido "Solo", que deverá sair no Outono. 

publicado por Domingos Amaral às 12:02 | link do post | comentar
Terça-feira, 11.06.13

Viva a Feira do Livro, e obrigado aos meus leitores!

Se há coisa que faz bem ao ego de um escritor é ir à Feira do Livro de Lisboa e bater todos os recordes pessoais de autógrafos!

Para mim, este foi o melhor ano de sempre na Feira do Livro. Fui lá por três vezes, e dei autógrafos como nunca antes tinha dado.

Nos dois sábados que lá estive, passei mais de duas horas e meia a autografar livros. É impossível não ficar agradecido às centenas de leitores que me procuraram este ano, e que tão bem me fizeram.

Há mais de dez anos que vou, todos os anos, um ou dois dias à Feira do Livro. Já tive anos bons, anos assim-assim, anos maus, e tive mesmo um ano muito mau. 

Das vezes que me corria mal, ficava umas horas deprimido, com a sensação de que ninguém gostava dos meus livros.

Mas, esses dias foram importantes para aprender a blindar o ego a essas volatilidades. O sucesso e o insucesso vão e voltam. Sei que não devemos deslumbrar-nos com o que de bom acontece, nem entristecer-nos quando as coisas não nos correm bem. O importante é tentar, tentar sempre, e continuar a escrever.

Mas, quando as coisas nos correm bem, como este ano, é impossível não sentir uma enorme satisfação interior, e uma sensação de gratidão para com tanta gente que me procurou.

Um escritor sem leitores faz pouco sentido, e um escritor com leitores ilumina-se e prossegue, mais forte e mais crente em si mesmo.

É por isso que agradeço a todos os que me incentivam e me estimulam para continuar. Na Feira do Livro, olhar nos olhos das pessoas é o que nos aumenta a alma. 

É claro que ter um novo livro ajuda. "O Retrato da Mãe de Hitler" foi este ano um dos livros mais vendidos na Praça Leya, e isso encheu-me de orgulho.

É por isso também que tenho de agradecer publicamente a todos os que para isso contribuiram, em especial a equipa da minha editora, Casa das Letras, que tudo tem feito para me fazer crescer enquanto escritor. Obrigado a todos.

E já agora, uma palavra para todos os que se envolvem na Feira do Livro de Lisboa. Dos promotores às editoras, dos autores aos que vendem nos pavilhões, todos estão de parabéns, a Feira este ano foi um sucesso!

 

publicado por Domingos Amaral às 11:29 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 30.05.13

Três bons livros sobre a mega-crise que vivemos

 

 

 

 

 

 

Nestes tempos difíceis, é sempre bom ler livros escritos por pessoas que sabem muito do que falam e que nos ajudam a compreender melhor o que se passa. Aqui deixo três boas sugestões.

 

"Desta vez é diferente. Oito séculos de Loucura Financeira".

Escrito pelos professores de economia Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, e editado pela Actual, é um dos melhores livros sobre as crises financeiras jamais escrito. Passa em revista vários séculos, em centenas de países, e é muito fácil de compreender.

Reinhart e Rogoff estiveram recentemente envolvidos na famosa polémica do "erro do Excel", mas que se refere a outro trabalho deles, e não a este livro.

O que espanta na edição portuguesa é o prefácio ser de Vítor Gaspar, pois as conclusões do livro são as opostas às políticas que Gaspar tem levado à prática como ministro das Finanças.

Rogoff e Reinhart explicam que a auteridade provoca recessões prolongadas, que complicam ainda mais o problema da dívida dos países, além de reforçarem a ideia de que é um mito que as exportações salvem um país de uma crise grave. 

Por fim, defendem que só com uma reestruturação profunda das dívidas, que passou quase sempre por um perdão substancial, é que as crises se resolveram e as economias voltaram a crescer.

Esperemos que Gaspar tenha lido com atenção.

 

"Euro Forte, Euro fraco. Duas culturas, uma moeda: um convívio impossível?"

Escrito por Vítor Bento, e editado pela bnomics, é uma excelente explicação sobre as duas Europas que estão juntas no euro. De uma lado a Alemanha, e os países que gravitam à sua volta; do outro, a Europa do Sul, ou periférica, onde se inclui Portugal.

Vítor Bento enuncia as principais diferenças entre estas duas Europas, o que leva a que ambas dêem valor a questões diferentes, e por isso que façam escolhas políticas e económicas diferentes.

Por exemplo na questão da inflação, isso é evidente, pois os alemães não toleram inflação, enquanto os outros países se habituaram a décadas dela.

Como fazer funcionar um euro onde as culturas económicas são tão diferentes? Qual a Europa que se sobrepõe e porquê? E há possibilidade desta história acabar bem?

O livro é muito bom na análise, mas muito cauteloso e até receoso de propôr soluções. Dá a sensação que Vítor Bento não quis ir demasiado longe nas críticas a ninguém, nem a nacionais nem a internacionais, pois nunca se sabe o que o futuro nos traz...

 

"Porque devemos sair do Euro"

Escrito pelo economista João Ferreira do Amaral, e editado pela Lua de Papel, é a defesa corajosa e inteligente de uma saída controlada de Portugal do euro.

Há muitos anos que Ferreira do Amaral é um céptico desta moeda única, das suas regras e realidades.

E há muitos anos que defende que Portugal nunca devia ter entrado no euro, e que a nossa participação na União Monetária é a principal causa dos graves desequilíbrios que se geraram em Portugal, e que agravaram os que já existiam antes.

Muito lúcido sobre os terríveis efeitos do euro, Ferreira do Amaral não se alonga muito no processo de saída do euro. Diz que ele devia ser "controlado", mas não vai muito longe nos detalhes.

Ora, é precisamente isso que falta, um guião detalhado de uma saída controlada do euro, para que se possa perceber os perigos e os benefícios. Talvez num próximo livro...

publicado por Domingos Amaral às 14:55 | link do post | comentar
Sexta-feira, 24.05.13

O amor deixa-nos sempre em alarme

"O amor deixa-nos sempre em alarme.

Alarma-nos quando começa, ou quando não é correspondido; alarma-nos enquanto dura, e mesmo que seja correspondido; alarma-nos quando acaba e nos dói; e continua a alarmar-nos mesmo que tenham passado mil anos desde o dia em que acabou.

Não há homem, nem mulher alguma, que não se alarme enquanto ama, e também não há homem nem mulher alguma que, ao cruzar-se com uma pessoa que um dia amou, não sinta um sacudimento de alarme.

Muito tempo já passou, e sabemos que já não amamos essa pessoa. No entanto, alarmamo-nos como se ainda a amássemos, como se a força dos sentimentos que um dia sentimos ainda nos dominasse.

Pode ser apenas por um breve instante, facilmente ultrapassado, mas não deixa de ser um estado de suprema perturbação, um alarme geral.  

É assim que me sinto agora, mesmo cinquenta anos depois estou alarmado com a ideia de rever uma mulher que tanto amei.

A culpa é tua, meu querido neto Paul. Disseste-me há pouco que descobriste essa espantosa mulher chamada Alice, e com isso perturbaste a minha paz e a minha serenidade, e deixaste-me assim, em estado de alarme.

(...)

Alice está viva? Tens a certeza que é ela?

Explicas-me que sim, falaram ao telefone, é a minha Alice, a Alice que amei loucamente entre 1941 e 1943, a Alice monumento físico que enlouquecia os homens, a Alice espia dupla que trabalhava para os nazis ao mesmo tempo que para o Michael, o meu melhor amigo, chefe no MI6, espião ao serviço de sua majestade em Lisboa.

“Dragonfly” era o seu nome de código, a bela Alice que eu expus e denunciei sem o saber, a inimitável Alice que eu amei enganado, a irrequieta Alice que elogiava Hitler só para me incomodar...

Meu Deus, será possível? Será a mesma Alice de quem me despedi uma noite no Guincho em 1943, pensando que iria partir para sempre de Portugal?

Dizes-me que sim, que é a mesma, e acrescentas que não sabias que eu a tinha voltado a encontrar em 1945.

Foi ela que te disse isso? Falaram disso porquê? Será que ainda me ama, será que tem saudades minhas?"

 

Estas são as palavras iniciais do meu novo livro, "O Retrato da Mãe de Hitler", que já está à venda nas livrarias. É a continuação do meu anterior livro, "Enquanto Salazar Dormia", e espero que os leitores gostem tanto de o ler como eu gostei de o escrever. 

publicado por Domingos Amaral às 15:59 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 08.11.12

Livros para vencer a crise

Dois bons livros para compreender a crise económica e financeira que a Europa e a América atravessam. O primeiro é "Acabem com esta crise já", do prémio Nobel de Economia Paul Krugman, editado pela Presença. Uma abordagem completamente diferente da seguida na Europa, uma crítica fortíssima às políticas de austeridade, com muita imaginação e criatividade vindas de um economista, o que é sempre uma boa surpresa! O capítulo sobre o temor da inflação, a que Krugman chama, parafraseando o Star Wars, como "A Ameaça Fantasma"; ou o capítulo sobre os fanáticos da austeridade, a quem ele chama "austerianos", são brilhantes. Era o livro que eu ofereceria a Angela Merkel, a Pedro Passos e a Vítor Gaspar, para ver se eles tomavam juízo.

O segundo livro é da autoria do milionário George Soros, também da Editorial Presença e chama-se "Desordem Financeira na Europa e nos Estados Unidos", e reune um conjunto de artigos publicados por Soros, no Financial Times e na New York Review of Books, onde se descrevem os principais erros cometidos pelos países desde o rebentamento financeiro de 2008. Vale a pena, embora por vezes seja um pouco repetitivo.   

publicado por Domingos Amaral às 11:53 | link do post | comentar
Sexta-feira, 21.09.12

Sessão em Faro

Hoje à tarde vou estar em Faro, a partir das 18.30, para mais uma conversa e uma sessão de autógrafos com os leitores. É na livraria Pátio das Letras, na rua Dr. Cândido Guerreiro, Nº 26. Quem quiser apareça!

publicado por Domingos Amaral às 12:29 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 13.09.12

Sessão de autógrafos

Hoje, quinta-feira 13 de Setembro, vou estar a partir das 18.30 na livraria Buchholz, em Lisboa, para uma sessão de autógrafos. Quem quiser apareça! 

publicado por Domingos Amaral às 16:12 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Segunda-feira, 10.09.12

As 50 sombras de Grey (episódio 1)

As mulheres gostam de homens dominadores? É uma pergunta à qual tenciono responder nos próximos dias, aqui neste blog. Estou a ler "As Cinquenta Sombras de Grey", o grande sucesso literário do ano, uma história sobre como um homem dominador atrai e seduz uma rapariga virgem e a transporta para um universo de prazer sexual radical, com muitas algemas e chicotes pelo caminho. Como ainda não terminei o livro, não quero dar já uma opinião, apenas me fico pelas perguntas e por uma constatação, a de que um livro destes só podia ser escrito por uma mulher, e com um ponto de vista feminino. Se fosse um homem dominador a escrever, as feministas e muitas mulheres dariam cabo dele, chamando-lhe porco, sexista, maligno e muito mais. Mas, como é uma mulher a escrever, há uma certa condescendência nestes temas. Regresso à minha pergunta inicial: será que as mulheres gostam de homens dominadores? Pelo que tenho visto e ouvido, parece-me que sim, que gostam de homens que mandem nelas, que lhes saibam dar ordens, que as subjuguem, e esse é um dos segredos do sucesso de Grey e dos seus brinquedos. Mas amanhã falo mais sobre isto...

publicado por Domingos Amaral às 12:39 | link do post | comentar | ver comentários (22)
Sexta-feira, 31.08.12

A Lisboa da 2ª Guerra Mundial

Para quem, como eu, é um apaixonado pela época da 2ª Guerra Mundial, em especial pela vida em Portugal nesses tempos, aqui deixo duas boas sugestões de leitura. "Lisboa", de Neill Lochery, publicado pela Presença, é um excelente retrato sobre a vida da capital portuguesa em tempos de guerra, ou como diz o subtítulo, "a guerra nas sombras da cidade da luz, 1939-1945". Bem documentado e fácil de ler, conta muitas histórias passadas por cá nos conturbados tempos da guerra, e examina o habilidoso papel de Salazar em manter a neutralidade portuguesa. Mais interessante ainda, embora em certos momentos um pouco desfocado da realidade nacional, é o livro "Passagem para Lisboa", escrito por Ronald Weber, e editado por cá pelo Clube do Autor. Centrado, também como indica o subtítulo, na "vida boémia e clandestina dos refugiados da Europa nazi" em Lisboa, relata muitas interessantes histórias de personagens europeias que passaram pela cidade nos anos em que a Europa estava fustigada pelos combates e nós éramos uma espécie de oásis num deserto trágico. 

publicado por Domingos Amaral às 12:53 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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