Segunda-feira, 29.09.14

Costa pode ser o Obama lusitano

Como eu já esperava, António Costa venceu folgadamente contra António José Seguro.

Por mais que o outro o atacasse, poucas dúvidas havia que entre os dois, ele era o melhor.

E agora, com o PS a seus pés, Costa tem de pensar em como ganhar o resto do país.

A sua personalidade tem várias vantagens, a principais das quais é que ele alegra a esquerda sem assustar a direita.

 

Conheço muita gente de direita que tem simpatia, admiração e respeito por António Costa, e que admite mesmo votar nele.

A direita desiludida com Passos e Portas poderá, talvez pela primeira vez, votar no PS, pois a fúria contra o Governo é imensa.

À esquerda, embora o PCP tenha vindo a crescer, o desmembramento do Bloco poderá ser também um aliado de Costa.

Louçã ainda empolgava muitos, mas isso não se passa com a actual liderança bicéfala, de Semedo e Martins.

 

Portanto, Costa pode entusiasmar os que sempre votaram PS, mais aqueles que votaram no Bloco ou noutros fenómenos de esquerda, como Marinho e Pinto e o Livre, e ainda pode ganhar votos ao centro e mesmo à direita.

Como é que isso se consegue?

Enganam-se os que pensam que é preciso ter muitas ideias e fazer muitas promessas.

 

Obama provou que mais importante que políticas concretas é mudar o estado de espírito das pessoas.

Contra a austeridade brutal, a esperança.

Contra a recessão geral, a crença que há um futuro melhor para os portugueses

O "yes, we can" de Obama pode ser adaptado para Portugal.

 

Basta querer, basta falar diferente, basta acreditar.

Tal como George W. Bush na América, Passos e Portas cometeram tantos erros e estragaram tanto o país que a mudança é muito desejada pela grande maioria dos portugueses.

Daqui até às eleições, a única dúvida é saber quantos serão. 

publicado por Domingos Amaral às 09:57 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 26.09.14

Tecnoforma: a montanha pariu um rato.

Em primeiro lugar, um lembrete.

Quem me lê neste blog, sabe perfeitamente que considero Passos Coelho uma tremenda desilusão, e que acho este Governo péssimo.

Estou em total desacordo com a estratégia de austeridade brutal que Passos escolheu, e posso dizer com absoluta certeza que não votarei nele, nem no PSD ou no CDS se forem separados, com estes líderes.

 

Dito isto, sempre me pareceu prematura e demasiado inflamada a excitação que esta semana se apoderou do país por causa do "caso Tecnoforma".

Como o primeiro-ministro acabou de esclarecer, nunca recebeu salário dessa empresa enquanto foi deputado.

Apenas recebeu despesas de representação quando fez duas viagens ao serviço de uma ONG.

Lamento desiludir os que achavam que Passos já estava aniquilado, mas tal não é verdade.

 

Não houve pagamentos de salários enquanto era deputado, nem Passos mentiu quando declarou, para receber um subsídio, que estava em exclusividade.

Portanto, por aí não há caso nenhum.

Resta saber se é eticamente reprovável colaborar com uma ONG enquanto se é deputado, e ter duas viagens pagas por essa ONG.

Talvez não seja inteligente, mas dificilmente se pode dizer que é caso para a demissão de um primeiro-ministro!

 

Portanto, acho que o mais grave que Passos fez, o seu principal erro, foi não ter matado este assunto logo no primeiro dia.

Ao dizer que não se lembrava, ao deixar passar uns dias, ao dizer que "tirava as consequências", Passos foi deixando o suspense crescer, e isso foi um erro grave.

Nestas coisas, não se pode deixar dúvidas, e só a sua existência já fere a reputação de um homem que tanta moral pregou aos portugueses.

 

Passos ficou pois beliscado, chamuscado mesmo, com esta nódoazinha no seu currículo.

De hoje em diante, os seus inimigos e detratores vão lembrar sempre o "não me lembro", as viagens da ONG, coisas que eram perfeitamente evitáveis se Passos tivesse esclarecido tudo imediatamente, logo no primeiro dia.

Mas, demitir-se por causa disto?

Caramba, tenham calma. Façam o "ice bucket challenge", pois o homem ainda vai durar mais uns tempos.

 

publicado por Domingos Amaral às 11:13 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 24.09.14

Quem quer para primeiro-ministro: Costa, Seguro ou Passos?

O último debate entre Seguro e Costa, que aconteceu ontem na RTP, foi o mais divertido.

Parecia um combate de boxe, onde Costa mostrou finalmente que sabia meter a mão na anca e dar "uppercuts".

Já Seguro foi fiel a si mesmo, e mostrou mais uma vez que só sabe viver no registo "tu traíste-me".

Se no primeiro debate fora ele o vencedor, para perder claramente no segundo, neste terceiro conseguiu um empate.

 

Contudo, Seguro dá a ideia de estar sempre tenso, sempre nervoso, sempre excitado em demasia.

Mesmo quando é demasiado pachorrento, Costa consegue transmitir uma serenidade que escapa totalmente a Seguro.

E, é evidente para todos, a questão relevante foi a colocada por Costa.

Quem querem os portugueses para primeiro-ministro: Passos, Seguro ou Costa?

 

No domingo, será a primeira volta desta resposta, e os militantes e simpatizantes do PS terão de dizer o que pensam.

Pela minha parte, parece-me evidente que Costa tem mais experiência, capacidade de liderança e habilidade política.

Seguro nunca foi ministro, nunca foi presidente da Câmara, e dá pouca confiança às pessoas para liderar um governo.

Ainda por cima, deu demasiada relevância às traições de Costa, como se a política não fosse, há mais de mil anos, sempre assim.

 

Parece-me pois que Costa acertou nos gráficos da sondagem que mostrou ontem à noite.

Entre ele e Passos, as pessoas preferem-no a ele; e entre Seguro e Passos, as pessoas preferem Passos.

É esse o drama de Seguro, que ele nunca conseguiu ultrapassar.

Mesmo com um Governo que massacrou os portugueses, e mesmo com um primeiro-ministro fraco, Seguro não inspira muita gente.

É o elo mais fraco dos três, e por isso deverá perder no Domingo.

publicado por Domingos Amaral às 09:53 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sexta-feira, 01.08.14

O BES derreteu, parabéns Banco de Portugal!

Como aqui previ, há duas semanas, o Estado vai ter de entrar a sério no BES.

Os últimos meses já faziam adivinhar que a situação ia acabar muito mal.

Basta ler um pouco da história das crises bancárias, seja cá, na América, ou noutros países, para perceber que toda a gente estava a cometer os erros de sempre.

Passos Coelho mandava bocas, a dizer que aquilo era um problema "privado", que o Estado não ia meter-se.

O Banco de Portugal emitia comunicados, todas as semanas, a dizer que o BES estava "sólido".

E a imprensa fazia um festim com as más notícias, enquanto milhares queriam era ver a família Espírito Santo atrás das grades!

 

Ora, ninguém parece ter percebido que se estava perante um gravíssimo problema, para a economia portuguesa e para o sistema bancário nacional.

O BES é só o maior banco privado português, não é algo com que se possa brincar.

Os governantes e o Banco de Portugal deviam ter-se lembrado que também Bush decidiu não salvar o Lehman, e foi o que se viu, o maior colapso financeiro desde a segunda guerra mundial.

Quando estamos a falar de um banco tão importante para o sistema bancário de um país, convém não ser inocente, nem irresponsável.

 

Porém, o país parecia num teatro de tontos.

Os últimos meses são um chorrilho de asneiras do regulador, uma trapalhada desmiolada dos principais accionistas, um delírio para os abutres e para os especuladores profissionais, e uma irresponsabilidade permanente do Governo.

Como é que alguém acreditou, e muitos acreditaram, na história de que era possível separar os problemas do BES dos problemas do GES (Grupo Espírito Santo)?

Que raio de imprensa económica é a nossa, que julga que está a ter momentos de glória, quando está a afundar um sistema bancário?

Que raio de Governo é este que não percebe que não pode lançar bocas demagógicas, dizendo que não vai ajudar "famílias e negócios de amigos", quando se está perante o maior terramoto da história bancária de Portugal?

 

A crise do BES entrou directo para o número 1 do top das crises financeiras portuguesas.

Em dois meses, o valor do banco derreteu.

Os culpados deste desastre são muitos, a lista é espantosa.

Sim, a família, isso é óbvio.

Mas também o Banco de Portugal, que pilotou esta crise como uma criança de três anos guia um bólide, sem qualquer noção.

E o governo, os liberais que vão ter de engolir tudo o que disseram, e voltar usar o Estado para salvar o que resta do BES, para estabilizar um sistema bancário à beira de um ataque de nervos.

E nem quero falar em certos comentadores que se julgam heróis e não passam de carrascos...

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 16:34 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 10.07.14

Preparem-se: o BES tem de ser nacionalizado, não há outra solução

Interrompo as minhas férias neste blog, porque parece-me que a situação se justifica.

O sistema bancário português está à beira do colapso, devido à grave crise que se vive no BES e no grupo Espírito Santo.

E o sistema financeiro português está em pânico, como se prova pelas graves quebras da bolsa nas últimas semanas.

Para estabilizar a situação, já não chegam os nomes que foram lançados para a praça pública há dias.

A partir de agora, é preciso intervir, e à séria.

Nacionalizar o BES, e o mais depressa possível, é a única solução para evitar um colapso ainda mais gravoso.

Tal como há uns anos a Inglaterra nacionalizou o Lloyds, Portugal terá de nacionalizar o BES.

 

Pelo caminho, há críticas graves que se devem fazer a todos os intervenientes neste processo.

A família Espírito Santo degladiou-se em guerras civis, quando a casa já estava a arder.

Mas, esse não é o principal problema, há muito que deixou de o ser.

A intervenção do Banco de Portugal, sobretudo nos últimos três meses, foi absolutamente inconsequente e desleixada.

Não é aceitável que se decapite a liderança de um banco, sem ter uma solução alternativa imediata.

Ao vetar nomes e soluções a conta-gotas, o Banco de Portugal gerou um vazio de poder sinistro e aterrador.

Os mercados sentiram a fragilidade, e desataram a vender, fugindo a sete pés da bolsa portuguesa.

 

Também não esteve nada bem o nosso Governo.

Há cerca de um mês, Passos Coelho lavou as mãos do assunto, dizendo que a situação do BES não tinha a ver com ele.

Essa frase foi a medida da falta de lucidez de Passos, e da sua nefasta negligência.

O maior banco privado de um país é sempre um assunto nacional, é sempre um assunto de Estado.

Agora, a bomba BES vai rebentar nas mãos de um primeiro-ministro impreparado e pouco lúcido.

Esperemos que tenha a dignidade de tomar a decisão mais correta, e nacionalizar o BES.

 

Caso contrário, e se for mantida por mais tempo a atitude tonta de "laissez-faire" do Banco de Portugal e do Governo, então preparem-se todos para um desastre nacional de proporções inimagináveis.

publicado por Domingos Amaral às 11:53 | link do post | comentar | ver comentários (45)
Terça-feira, 03.06.14

A Guerra Constitucional (episódio 4 - O Regresso das Trevas Salariais)

Lá vamos nós para o quarto melodrama constitucional português.

Sim, já é a quarta vez que vemos este filme, está a tornar-se uma saga repetitiva e sem interesse.

É que esta Guerra Constitucional (episódio IV - O Regresso das Trevas Salariais) é igual às três edições anteriores da saga, com apenas algumas nuances.

 

Qualquer episódio da série começa sempre da mesma maneira, com o Governo a tomar uma decisão drástica, tipo cortes dos subsídios, ou de salários.

Nesse momento inicial, há pessoas que dizem que é quase certo que o Tribunal Constitucional vai chumbar a medida, mas o Governo não pensa duas vezes e avança com ela.

 

No segundo acto, há pessoas que levam o assunto ao TC (o presidente da República, ou a oposição), e o TC fica uns meses a digerir o assunto, para criar algum suspense.

Pelo caminho, o Governo lá vai mandando umas bocas, a tentar fazer pressão, e o TC lá vai mandando outras, a dizer que não é pressionável. 

 

No terceiro acto, conhece-se a decisão previsível e esperada do TC (não há qualquer surpresa, é sempre o que se dizia que era), e logo depois começa o melodrama do Governo, também ele já cansativo e repetitivo. 

Lá vem o Marco António aos berrinhos, o Portas muito sério, o Passos muito preocupado, o Durão a lançar avisos ameaçadores de Bruxelas, e toda a gente de direita a zurrar, acusando o TC de ser "ideológico" ou "de esquerda".

Por momentos, todos acreditamos que vai existir finalmente o tão esperado "duelo ao sol" entre o Governo e o TC, mas passados uns dias nada acontece.

O Governo lá arranja umas medidas à pressa para cumprir os objectivos, e o drama esfuma-se.

 

O problema da série "A Guerra Constitucional" é sempre o mesmo: é anunciado um fim tenebroso para o país, mas algum tempo depois essa anunciada tragédia não se dá, pelo contrário, as coisas até vão melhorando.

Já foi assim no episódio 1 (Os Cortes dos Monstruosos Subsídios); no episódio 2 (O regresso dos Monstruosos Subsídios); e no episódio 3 (As monstruosas pensões atacam). 

Sempre que o TC decidia contra o Governo, logo vinha aí o tenebroso "Segundo Resgate" e a perdição final e apocaliptica do país.

Porém, o tenebroso "Segundo Resgate" tem sido como o lobo da história, as pessoas dizem que ele vem aí, mas nas primeiras vezes nunca apareceu.

As coisas iam supostamente piorar muito, mas a verdade é que acabaram por melhorar, e até conseguimos a inesperada "saída limpa". 

 

É esse aliás a incoerência do Governo. 

Há pouco menos de um mês, sim um mês, este Governo decidiu-se pela "saída limpa" e disse ao país que tudo estava bem.

Agora, de repente, já está tudo em risco e tudo a falhar?

Como é isso possível?

Nos três episódios anteriores, apesar das decisões do TC, tudo correu bem!

E, pergunto eu, se estamos assim tão em perigo, não terá sido prematuro escolher a "saída limpa"? 

Acho que vou ter de esperar pelo Episódio V, para ver como isto acaba, mas até agora tem sido tudo tão previsível que até chateia. 

É sempre a mesma coisa, os mesmos dramas pífios e os mesmos finais chochos. 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:13 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 02.06.14

O Tribunal Constitucional está a ajudar muito este Governo

A maior parte das pessoas acha que os vetos do Tribunal Constitucional são maus para o governo.

O PSD diz que o país está a "andar para trás".

Passos Coelho confessa-se "extremamente preocupado". 

Mas eu não consigo compreender porquê tanta preocupação e tanta crítica às decisões do TC.

Na verdade, e digo isto sem ironia, o TC tem ajudado muito este Governo.

Ao vetar os cortes nos salários, o TC contraria o desejo do Governo, mas faz muito bem à economia.

 

É que, não sei se já alguém tinha reparado, mas o crescimento estava a parar, e a recessão ameaçava regressar.

O Governo não gosta de reconhecer isso, mas os cortes salariais eram uma das razões para a contração económica que estava a recomeçar.

Mais uma vez, com menos dinheiro no bolso, muitos portugueses e suas famílias estavam a consumir menos.

Com o consumo a retrair-se, o crescimento económico também começou a diminiur, e lá se estava a esfumar o "milagre económico" do dr. Pires de Lima.

Mas, o TC apesar de ser muito injuriado, tem tomado boas decisões para a economia.

Ao obrigar o Governo a repôr os cortes, devolve dinheiro às pessoas, dinheiro esse que vai aumentar um pouco o consumo e o crescimento.

 

Tem sido sempre assim ao longo destes últimos três anos: o Governo aplica cortes violentos, que causam recessão, e o TC anula esses cortes, dando um novo impulso à economia.

E agora julgo que o mesmo se vai passar, por isso lá mais para o final do ano veremos os números económicos a melhorarem um pouco, e o Governo a dizer que é tudo obra e graça das suas políticas, quando na verdade foi o TC que o meteu no caminho certo.

É o problema deste governo: nunca percebe que são as coisas que faz que lhe causam transtornos, e nunca percebe que tem sido o TC o seu melhor aliado na recuperação económica.

Mas este é o mesmo governo que há pouco mais de um ano se enfurecia e dizia que o TC, com as decisões, estava a empurrar Portugal para um segundo resgate.

Ora, como se viu, as decisões do TC foram executadas, e Portugal não foi para um segundo resgate, mas para uma saída limpa, o que prova que o TC faz bem à economia, e não mal, como diz o Governo.

publicado por Domingos Amaral às 11:52 | link do post | comentar
Quarta-feira, 28.05.14

Se Seguro ficar, o PS comete um hara-kiri

Por mais que António José Seguro a tente evitar, aproxima-se a batalha entre ele e António Costa.

Seguro teve a sua hipótese, e até teve um resultado honroso nas autárquicas.

Não foi bom, mas também não foi mau.

Porém, nas europeias, o resultado do PS é péssimo.

O maior partido da oposição não consegue ganhar votos quando os partidos do Governo são tão mal vistos.

Com o descontentamento que existe em Portugal com este Governo, com os problemas sociais e económicos que existem, com o desemprego alto, com uma dívida pública altíssima, com os impostos mais altos de sempre, mesmo assim o PS não cresce.

Pelo contrário, o PS perde votos!

E não os perde para o Bloco de Esquerda, ou seja, não os perde porque não foi suficientemente à esquerda.

 

A única explicação que se encontra para o fenómeno é a liderança fraca e pouco entusiasmante de Seguro.

Os socialistas não acreditam nele, e muitos até preferiram olhar para o lado, e votar em Marinho Pinto ou em Rui Tavares.

E, quando assim é, toda a gente percebe que o problema está na liderança, não nas ideias.

Seguro não tem carisma, não tem consistência, e não entusiasma ninguém nas hostes socialistas, quanto mais fora delas.

Nas próximas semanas, pode tentar tudo para evitar o Congresso ou as directas, pode usar todos os expedientes dos estatutos e todos os subterfúgios, que isso não adia o essencial.

E o essencial é que, como mostrou uma sondagem da TVI logo no dia das eleições, com Seguro à frente, o PS arrisca-se a perder as eleições em 2015, ficando atrás de Passos e Portas.

É essa terrível possibilidade de derrota que está a aterrar o PS.

Os partidos odeiam perder, e se estão convencidos que o líder os levará à derrota, esse líder tem os dias contados.

É isso que se passa hoje no PS: com Seguro, os socialistas podem perder!

 

Com este cenário, é natural que António Costa vá ganhando cada vez mais apoios, e que se crie uma onda positiva que o leve à liderança. 

Costa representa uma forte possibilidade de vitória, enquanto Seguro representa uma forte possibilidade de derrota.

Mas, para além de poder vencer, Costa tem outras vantagens quando comparado com Seguro.

Tem experiência política, já foi ministro e é presidente da Câmara de Lisboa há vários anos (Seguro não foi nada).

Tem carisma e mais senso político, bem como simpatia e humanidade.

E, pormenor importante, Costa tem muito mais capacidades do que Seguro para fazer alianças com outras forças políticas, seja à sua esquerda, seja à sua direita.

Nem Marinho Pinto, nem Rui Tavares, nem o Bloco, gostariam de se aliar a Seguro, numa frente de centro-esquerda.

Mas, com Costa é provável que todos gostassem de se aliar, caso seja necessário.

 

À direita, as pessoas pensam da mesma maneira.

Se em 2015 for necessário um governo de Bloco Central, quem preferem as pessoas de direita que esteja à frente do PS?

Preferem um governo onde estão Passos e Portas, e o primeiro-ministro é Seguro?

Ou um governo onde o número um é António Costa?

E os mercados, e os parceiros sociais, os empresários ou os sindicatos?

Será que não é evidente para todos que António Costa é um político que dá mais confiança do que o pobre Seguro?

 

Nas próximas semanas, é sobre isto que os socialistas devem refletir.

Portugal está num momento complicado da sua história, e com o centro-direita tão descredibilizado, o próximo primeiro-ministro tem de gerar confiança aos portugueses todos, sejam eles de esquerda ou de direita.

Parece-me evidente que António Costa está muito mais bem preparado que Seguro para ser essa pessoa.

Se o aparelho do PS não perceber e rejeitar Costa, como é possível, o PS cometerá um trágico hara-kiri. 

publicado por Domingos Amaral às 11:30 | link do post | comentar
Sexta-feira, 16.05.14

Vem aí a recessão em W?

Muitos economistas falam dela, mas poucos a viram!

Chama-se recessão em W, e é um fenómeno económico raro, mas possível de acontecer em Portugal por estes tempos.

Observem um W.

No início, há uma queda abrupta descendo pelo primeiro V abaixo.

Foi o que se passou em 2012, com uma contração económica violenta em Portugal, aumento do desemprego e tudo a falhar.

Depois, toca-se no fundo e volta-se a subir, acompanhando o V.

Foi o que se passou em Portugal durante o ano de 2013, com melhorias claras da situação económica, queda no desemprego e crescimento do PIB.

No entanto, em vez de se continuar a melhorar, há de repente uma inversão económica, e volta-se a descer, caindo no segundo V.

É a chamada recessão em W, que no fundo é uma dupla recessão.

 

Será que isso nos vai acontecer em 2014?

A julgar pelos números do primeiro trimestre isso pode já estar a acontecer, pois o crescimento voltou a ser negativo.

A economia voltou a parar um pouco, e os bons resultados parecem estar a diminuir.

As exportações também desceram, e aqui há um dado curioso: sempre que alguém falava que o crescimento da exportações se devia à Galp e à Autoeuropa, o Governo enfurecia-se, e dizia que era toda a economia que estava a exportar mais!

Agora que houve uma queda nas exportações como a explica o Governo?

Foram a refinaria da Galp e a Autoeuropa que caíram de produção...

O argumento é válido para o mal, mas não para o bem.

Estranho conceito...

 

Mas voltemos à recessão. Será que vamos cair a pique em 2014?

As previsões não apontavam para aí, mas sabemos que muitas vezes as previsões são mais desejos que realidades.

O Governo, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, o Banco de Portugal, a OCDE, todos eles desejam ardentemente que Portugal cresça e recupere, e por isso fazem previsões entusiasmantes.

Porém, como todos sabemos, todas as previsões destas magnas instituições já falharam redondamente no passado, sobretudo em 2012 e 2013.

Falharam para cima, e falharam para baixo, e portanto não é certo que não voltem a falhar.

Para mais, a situação na Europa não está nada melhor, ao contrário do que apregoa Barroso por aí.

A crise europeia não acabou, a Europa não cresce, os preços estão a cair e há deflação, a banca continua cheia de problemas e sem poder dar crédito.

Em finais de Maio, haverá eleições europeias, e sabe-se lá o que vai sair dali. 

E a Leste, entre a Ucrânia e a Rússia, há instabilidade também. 

 

Deveria ser absolutamente evidente para todos a necessidade de uma política europeia mais activa, fosse do BCE, fosse da Comissão.

O BCE tem de intervir em força, com estímulos monetários; e os Governos têm de abandonar esta nefasta via da austeridade, e depressa. 

Se isso não for feito, a Europa continuará a patinar, anémica e sem força para se levantar, e os seus cidadãos continuarão desiludidos.

Por cá, as pessoas que não pensem que só porque saímos do programa de ajustamento terminou o calvário.

Não terminou, e pode até ter aumentado muito o risco de tudo piorar.

Lembrem-se uma coisa: a velocidade a que tudo muda é muito grande.

Há um ano, ninguém pensava em "saída limpa".

Daqui a um ano, quem sabe se não estaremos a lamentar a "entrada suja"...

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:09 | link do post | comentar
Segunda-feira, 12.05.14

Passos e Portas: vitória nas finanças, derrotas nas urnas?

A acreditar nas várias sondagens que vão sendo publicadas, tanto sobre as europeias deste Maio, como as relativas às legislativas, o PSD e o CDS, mesmo coligados, dificilmente vencerão as eleições.

E o PS, mesmo com Seguro, dificilmente não as vencerá.

Isto é o que toda a gente espera, seja para finais de Maio, seja para 2015.

Mas, será que é mesmo isso que se vai passar?

 

Vejamos primeiro as eleições europeias.

Falta já muito pouco tempo para elas, e em duas semanas, mesmo com uma boa campanha de Passos e Portas, é difícil inverter a cabeça da maioria das pessoas.

E a verdade, pelo menos até agora, parece ser esta: mesmo sabendo que terminou com sucesso o "ajustamento", as pessoas não estão satisfeitas com o trabalho do Governo.

Até agora, o PSD e o CDS não conseguiram transformar um sucesso financeiro - o fim do programa da troika - num sucesso político que leve os portugueses a votarem em massa na aliança dos dois partidos.

Aparentemente, o link entre o povo eleitoral e o Governo está danificado e não dá sinais de "restart".

O desgaste muito forte a que a população foi sujeita - com cortes, impostos, taxas, e tudo o mais - levou a muitas dúvidas sobre a capacidade do Governo, o seu sentido de justiça, a sua habilidade, e até a sua moral.

Além disso, este Governo parece ter um prazer especial em confundiar as pessoas, e a última semana foi a melhor prova disso, com as trapalhadas comunicacionais sucessivas sobre a descida ou o aumento de impostos.

 

Em resumo: é quase certo que o Governo vai perder as europeias, e que o PS as vai ganhar.

A grande questão é saber por quanto, se a vitória do PS será curta ou se será esmagadora.

Para quem deseja ardentemente a substituição de Seguro por António Costa (como grande parte do PS, e até muita gente ao centro e à direita); seria melhor que a vitória de Seguro fosse frágil.

Conheço gente na área do PS que não vai votar só para correr com Seguro.

Porém, não sei se serão suficientes, e o mais provável é ele continuar até 2015.

 

Será aí que o grande teste se fará.

Em um ano e meio, o Governo ainda tem algum tempo e algumas armas poderosas para tentar recuperar votos.

Se as coisas melhorarem muito, com o desemprego a cair, e a economia a acelerarar, talvez Passos e Portas ainda tenham uma hipótese de, pelo menos, ficarem à frente de Seguro.

Quem joga na derrota certa do Governo em 2015 deve pensar duas vezes.

A velocidade a que as circunstâncias mudam é muito alta neste dias.

Há um ano atrás, o Governo estava nas ruas da amargura, e toda a gente pensava que íamos a caminho de um segundo resgate, incluindo o próprio Passos Coelho.

Portanto, mais vale o PS e Seguro não enbandeirarem em arco já... 

publicado por Domingos Amaral às 10:26 | link do post | comentar
 

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