Segunda-feira, 26.08.13

A Avenida Brasil não me encheu as medidas

Sim, eu sei que há milhões de fãs da telenovela, e que a Dilma Rousseff parou tudo para ver o final.

Sim, eu sei que a SIC tem óptimas audiências, e que o Público escreve artigos a louvar o génio desta telenovela.

Sim, eu sei isso tudo mas lamento dizer que Avenida Brasil não me satisfez por aí além. 

Primeiro que tudo, aquele Brasil do lixão, tão Cidade de Deus, tão miséria que é preciso enaltecer, enjoa-me.

Sim, enjoa-me. E se nos lixões houvesse gente tão esperta como Carminha ou Max, ou mesmo a Mãe Lucinda, os lixões iam longe.

O culto do génio do mal no meio do lixo é um mito um bocado parvo, mas pronto.

A vida do Tufão é mais divertida, a família de loucos, pirosa e lustrosa, de um barroco quase aterrador, mas divertido.

Ainda se atura.

Têm graça os Lelecos, porque é um actor magnífico, ou mesmo a sopeira, mas é um bocado inverosímil toda aquela história da criadita "infiltrada" para se vingar da madrasta má.

Também é um lugar comum a história da "piranha", a Sueli, devoradora de homens, que anda para ali de homem em homem.

Por outro lado, a classe média alta é um desastre.

O Cadinho é um "trígamo", e as suas três mulheres umas venais, que só pensam em dinheiro, acabando o harém a transferir-se para o advogado que deu o golpe. 

É a vitória dos modestos mas sãos, do Divino, do churrasco, da pureza da Monalisa.

Ou seja, quem vem de muito baixo, ou quem já está lá em cima, não presta.

Quem presta é a classe média baixa, da chinela, das cabeleireiras e da gritaria.

Mas, o pior de tudo é a demora.

Durante meses, nada avança, ou avança lentamente. Estava-se duas semanas sem ver, e continuava tudo na mesma, os mesmos truques da Carminho, as mesmas patatedas do Max, as mesmas caras preocupadas do Tufão.

É nós à espera do óbvio, a queda da Carminha, a morte do cúmplice.

Tudo muito previsível.

Avenida Brasil vive dos actores. Sem Carminha, por exemplo, era uma telenovela banal, e Adriana Esteves é a única grande actriz do elenco.

O resto são pormenores, mais ou menos engraçados, mais ou menos entediantes.

Que saudades da Gabriela... 

publicado por Domingos Amaral às 12:54 | link do post | comentar | ver comentários (9)
Segunda-feira, 12.08.13

Tolstói ou o prazer de reler os clássicos

Não sei bem porquê, olhei para a minha estante e vi um livro: "Guerra e Paz", de Tolstói.

Era apenas o primeiro volume de quatro, na edição da Presença. 

De repente, deu-me uma enorme saudade do tempo em que lera aquela saga, talvez com 18 ou 20 anos.

Mas lembrei-me de que já não me lembrava bem dos detalhes, dos personagens, da trama.

Apenas ficara, retida na minha memória, a ideia de que era um longo e fascinante romance, passado na Rússia, no tempo da Napoleão.

Abri o livro e...ainda não parei de ler. 

Tolstói é um génio, agarra-nos pelos colarinhos e não larga. É como um cão, que nos ferra o cérebro.

São Petersburgo...

Apetece correr para lá, tentar descobrir onde vivia Pierre, o filho bastardo do conde Bezúkhov, tentar descobrir o que é feito da grande Rússia de Catarina, que se perdeu na História e nunca mais voltou.

Depois, há as magníficas descrições da guerra, as tontarias de soldados e generais, austríacos e russos, as bravuras e as loucuras de uma época onde Napoleão metia medo à Europa.

A tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra é magistral, não se perde nada, tudo se aproveita.

Mas é ao grande mestre russo que se deve a prosa que nos perturba, que nos causa admiração, que nos subjuga docilmente.

Comecei ontem e hoje de manhã já andava a correr as FNACs, à procura dos volumes seguintes, como um doido à procura de droga.

Às vezes, acho que os livros são a minha cocaína, e estas doses estão a saber-me tão bem.

Sinto-me a flutuar num limbo cerebral vertiginoso, entre a Rússia antiga e aristocrática, cheia de príncipes e princesas, e o meu sofá, onde há um fundão com os contornos do meu corpo.

Porra, há tanto tempo que não lia nada assim!

publicado por Domingos Amaral às 16:14 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Terça-feira, 25.06.13

Uma boa crítica ao meu livro "O Retrato da Mãe de Hitler"

Aqui deixo a crítica ao meu livro "O Retrato da Mãe de Hitler", escrita por Rui Azeredo, no seu blog Porta-Livros.

http://portalivros.wordpress.com/2013/06/24/o-retrato-da-mae-de-hitler-domingos-amaral/

publicado por Domingos Amaral às 12:16 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 11.06.13

Viva a Feira do Livro, e obrigado aos meus leitores!

Se há coisa que faz bem ao ego de um escritor é ir à Feira do Livro de Lisboa e bater todos os recordes pessoais de autógrafos!

Para mim, este foi o melhor ano de sempre na Feira do Livro. Fui lá por três vezes, e dei autógrafos como nunca antes tinha dado.

Nos dois sábados que lá estive, passei mais de duas horas e meia a autografar livros. É impossível não ficar agradecido às centenas de leitores que me procuraram este ano, e que tão bem me fizeram.

Há mais de dez anos que vou, todos os anos, um ou dois dias à Feira do Livro. Já tive anos bons, anos assim-assim, anos maus, e tive mesmo um ano muito mau. 

Das vezes que me corria mal, ficava umas horas deprimido, com a sensação de que ninguém gostava dos meus livros.

Mas, esses dias foram importantes para aprender a blindar o ego a essas volatilidades. O sucesso e o insucesso vão e voltam. Sei que não devemos deslumbrar-nos com o que de bom acontece, nem entristecer-nos quando as coisas não nos correm bem. O importante é tentar, tentar sempre, e continuar a escrever.

Mas, quando as coisas nos correm bem, como este ano, é impossível não sentir uma enorme satisfação interior, e uma sensação de gratidão para com tanta gente que me procurou.

Um escritor sem leitores faz pouco sentido, e um escritor com leitores ilumina-se e prossegue, mais forte e mais crente em si mesmo.

É por isso que agradeço a todos os que me incentivam e me estimulam para continuar. Na Feira do Livro, olhar nos olhos das pessoas é o que nos aumenta a alma. 

É claro que ter um novo livro ajuda. "O Retrato da Mãe de Hitler" foi este ano um dos livros mais vendidos na Praça Leya, e isso encheu-me de orgulho.

É por isso também que tenho de agradecer publicamente a todos os que para isso contribuiram, em especial a equipa da minha editora, Casa das Letras, que tudo tem feito para me fazer crescer enquanto escritor. Obrigado a todos.

E já agora, uma palavra para todos os que se envolvem na Feira do Livro de Lisboa. Dos promotores às editoras, dos autores aos que vendem nos pavilhões, todos estão de parabéns, a Feira este ano foi um sucesso!

 

publicado por Domingos Amaral às 11:29 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sábado, 08.06.13

Feira do Livro: sessão de autógrafos hoje, às 15h

Hoje, vou estar na Feira do Livro, para mais uma sessão de autógrafos.

A partir das 15h, na Praça Leya, em frente à minha editora, Casa das Letras, lá estarei para assinar o meu novo livro "O Retrato da Mãe de Hitler". 

Convido todos a passarem por lá esta tarde, é um bom programa num dia em que não vai dar para ir à praia!

tags:
publicado por Domingos Amaral às 11:14 | link do post | comentar
Sexta-feira, 24.05.13

O amor deixa-nos sempre em alarme

"O amor deixa-nos sempre em alarme.

Alarma-nos quando começa, ou quando não é correspondido; alarma-nos enquanto dura, e mesmo que seja correspondido; alarma-nos quando acaba e nos dói; e continua a alarmar-nos mesmo que tenham passado mil anos desde o dia em que acabou.

Não há homem, nem mulher alguma, que não se alarme enquanto ama, e também não há homem nem mulher alguma que, ao cruzar-se com uma pessoa que um dia amou, não sinta um sacudimento de alarme.

Muito tempo já passou, e sabemos que já não amamos essa pessoa. No entanto, alarmamo-nos como se ainda a amássemos, como se a força dos sentimentos que um dia sentimos ainda nos dominasse.

Pode ser apenas por um breve instante, facilmente ultrapassado, mas não deixa de ser um estado de suprema perturbação, um alarme geral.  

É assim que me sinto agora, mesmo cinquenta anos depois estou alarmado com a ideia de rever uma mulher que tanto amei.

A culpa é tua, meu querido neto Paul. Disseste-me há pouco que descobriste essa espantosa mulher chamada Alice, e com isso perturbaste a minha paz e a minha serenidade, e deixaste-me assim, em estado de alarme.

(...)

Alice está viva? Tens a certeza que é ela?

Explicas-me que sim, falaram ao telefone, é a minha Alice, a Alice que amei loucamente entre 1941 e 1943, a Alice monumento físico que enlouquecia os homens, a Alice espia dupla que trabalhava para os nazis ao mesmo tempo que para o Michael, o meu melhor amigo, chefe no MI6, espião ao serviço de sua majestade em Lisboa.

“Dragonfly” era o seu nome de código, a bela Alice que eu expus e denunciei sem o saber, a inimitável Alice que eu amei enganado, a irrequieta Alice que elogiava Hitler só para me incomodar...

Meu Deus, será possível? Será a mesma Alice de quem me despedi uma noite no Guincho em 1943, pensando que iria partir para sempre de Portugal?

Dizes-me que sim, que é a mesma, e acrescentas que não sabias que eu a tinha voltado a encontrar em 1945.

Foi ela que te disse isso? Falaram disso porquê? Será que ainda me ama, será que tem saudades minhas?"

 

Estas são as palavras iniciais do meu novo livro, "O Retrato da Mãe de Hitler", que já está à venda nas livrarias. É a continuação do meu anterior livro, "Enquanto Salazar Dormia", e espero que os leitores gostem tanto de o ler como eu gostei de o escrever. 

publicado por Domingos Amaral às 15:59 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 17.05.13

Novo livro já nas livrarias: "O Retrato da Mãe de Hitler"

Já chegou às livrarias o meu novo livro, com o título "O Retrato da Mãe de Hitler". É mais um romance, e uma continuação de "Enquanto Salazar Dormia", o meu livro que os leitores mais gostaram.

A história passa-se em Lisboa, durante o ano de 1945, logo após o final da 2ª Guerra Mundial na Europa, e é a narrativa da fuga dos nazis através de Portugal e da nossa capital, trazendo com eles muitos tesouros roubados.

Os principais personagens são os mesmos de "Enquanto Salazar Dormia": o narrador, Jack Gil, um luso-inglês que foi espião durante a guerra; e as mulheres por quem ele se apaixonou, Luisinha e Alice. 

No mesmo dia em que Hitler morreu, 30 de Abril de 1945, um coronel das SS chamado Manfred apodera-se de uns tesouros nazis valiosos, roubando um cofre em Munique, dentro do qual estão alguns bens pessoais do próprio Fuhrer, entre os quais uma pistola dourada e o retrato da mãe de Hitler.

Perseguido pelos judeus, Manfred acaba por chegar a Portugal, onde irá tentar vender o seu tesouro aos colecionadores de relíquias nazis.

Jack Gil Mascarenhas Deane já não trabalha para os serviços secretos ingleses e a chegada do seu pai a Lisboa vai alterar a sua vida. O pai é um colecionador de tesouros nazis, e vai obrigar Jack Gil a ajudá-lo na sua demanda pelos valiosos artefactos, que muitos nazis, como Manfred, tentam vender em Lisboa, antes de fugirem para a América do Sul.

Dividido entre o desejo de ajudar o pai e o desejo de partir de Lisboa, Jack Gil está também dividido nos seus amores, pois embora esteja apaixonado por Luisinha, uma portuguesa que adora cinema e acredita na democracia; está perturbado pelo regresso de Alice, o seu amor antigo, uma mulher duvidosa, misteriosa mas entusiasmante, que fora a sua paixão de uns anos antes, e que desaparecera certa noite da sua vida. 

Espero que os leitores gostem tanto deste livro como gostaram de "Enquanto Salazar Dormia". 

publicado por Domingos Amaral às 11:43 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 18.04.13

A secreta conversa entre Passos e Seguro (versão não autorizada!)

Eis o que se passou verdadeiramente ontem, no inesperado e emocionante encontro entre Passos Coelho e António José Seguro. Mal este último entrou, e depois de um cumprimento seco entre ambos, o primeiro-ministro deu início à conversa.

Passos - Ena, faz tempo que não nos víamos!

Seguro - Pois é, pá...

Passos (sorrindo ligeiramente) - A culpa é tua...Andas muito radical!

Seguro (surpreendido) - Eu? Ora essa!

Passos (sorrindo) - Ele é moção de censura, ele é eleições antecipadas, ele é Abril e Grândola, ele é rasgar o memorando!

Seguro (surpreendido) - Rasgar o memorando? Isso é completamente falso! Eu nunca disse isso!

Passos - Mas andas lá perto!

Seguro - Nada disso! Tu é que andas radical!

Passos (surpreendidíssimo) - Radical? Eu? Estás bom da cabeça?

Seguro (faz cara séria) - Sim, radical! Tirar os subísdios outra vez? É preciso ser casmurro! E não vês que isto está uma tragédia social?

Passos (encolhe os ombros) - Não me venhas com essa história da carochinha outra vez...E o Tribunal Constitucional é um ninho de esquerdalhos, toda a gente sabe!

Seguro (abanando a cabeça) - Tu não aprendes mesmo! Não olhas para o lado? Isto está uma desgraça!

Passos (franzindo a testa e olhando para o lado) - Isto o quê? Não gostas da decoração? Mantive tudo o que era do outro...

Seguro (sorri, enervado) - Não desvies a conversa! O país está de pantanas, é isso que eu quero dizer!

Passos (encolhendo os ombros) - Isso é passageiro! Tem de ser assim uns tempos, mas depois melhora!

Seguro (surpreendido) - Quando? Já lá vão dois anos e nada, está cada vez pior!

Passos (franze a testa) - Aí é que estás enganado...Os juros desceram, o país é credível, os credores acham que estamos a fazer um esforço. A Merkel adora-me, e o Schauble adora o Gaspar! Isso é que conta!

Seguro (espantado) - Mas, e o desemprego, e a recessão, e as pessoas na miséria?

Passos (suspira fundo) - Pois, é uma maçada. Mas tem de ser!

Seguro (enervado) - Não acho!

Passos (surpreendido) - Não percebo...

Seguro (ainda mais enervado) - Isto não era inevitável, a receita é que está errada, vocês foram longe demais!

Passos (sorri) - Qual é a parte da frase "Não há dinheiro!" que tu não percebes?

Seguro (ri-se divertido) - Essa não é tua, é do Gaspar...Mas já vi que neste Governo é ele que pensa!

Passos (mexe-se na cadeira, enervado) - Ó Tozé, tens de perceber uma coisa, a troika é que manda, a gente não manda nada. Nem eu, nem muito menos tu! Percebes, ou queres que te faça um desenho?

Seguro (mais calmo) - Estou a ver que te irritas com facilidade...

Passos (compõe-se rapidamente) - É pá, tem de ser. Eles é que mandam, o resto é conversa da treta!

Seguro (arqueando a sobrancelha) - Foram eles que te mandaram falar comigo?

Passos (faz de conta que não percebeu): Uhmfborrrbbvnb...eles...temos de...conversar com...

Seguro (divertido) - Foram mesmo eles! E tu fazes o que eles mandam!

Passos (incomodado) - Eles querem o consenso nacional, dizem que é muito importante...É isso, consenso, foquemo-nos nisso...

Seguro (desconfiado) - E isso o que quer dizer?

Passos (encolhe os ombros) - Não sei bem...mas é consensual...

Nasce um silêncio na sala. António José Seguro espera que Passos Coelho fale, e o primeiro-ministro espera que seja o líder do PS a tomar a iniciativa. Passam alguns minutos a olhar para a janela. De repente, entreabre-se uma porta e o novo ministro Marques Guedes espreita, sorridente.

Marques Guedes - Há novidades?

Passos e Seguro olham um para o outro e depois o primeiro diz que não com a cabeça. Desiludido, Marques Guedes retira-se, fechando a porta. Passos Coelho respira fundo e toma a iniciativa.

Passos - Então?

Seguro - Então o quê?

Passos - O que é que vocês vão apoiar? Quais cortes?

Seguro - Cortes? Que cortes?

Passos - Em todo o lado, a gente tem de cortar a direito, 800 milhões, talvez mais!

Seguro - Se for no Estado Social, estamos contra! E se for mais austeridade, também!

Passos (exasperado, abana a cabeça) - Estes tipos...

Seguro (irritado) - Qual é a parte da frase "Não queremos mais austeridade nem cortes no Estado Social" que não percebes?

Passos (preocupado) - É pá, mas isso vai levar a um segundo resgate! Não compreendes que temos de voltar aos mercados antes?

Seguro (de repente mais sério) - Nisso estamos de acordo! É essencial!

Passos (mais animado) - Então, temos um consenso?

Seguro (depois de pensar uns segundos) - Sim...pode-se dizer que temos um consenso. Mas não se pode dizer que estamos de acordo.

Passos (intrigado) - Um consenso sem acordo? E como é que isso funciona?

Seguro (encolhe os ombros) - Não sei...

Passos (enfadado) - Pois...

Seguro (compõe-se na cadeira) - Infelizmente é o que há...

Passos (suspira) - Estás quase igual ao CDS do Portas, dizem mal de tudo, mas estão connosco...

Seguro (sorri, quase imperceptivelmente) - Isso já não sei, cada um fala por si.

Passos (levanta-se subitamente) - Bom, tenho de ir. E...já agora, estamos de acordo em voltar a falar um dia destes?

Seguro (levantando-se também) - Com data ou sem data?

Passos (reflete durante uns segundos) - É melhor sem marcar, não achas?

Seguro (reflete também uns segundos) - Sim, claro! Desde que fique claro que o PS não está de acordo com a austeridade nem com os cortes no Estado Social, tenho todo o gosto em vir cá mais vezes...A decoração é um bocado feia, vê-se logo que andou aqui a mãozinha de alguém...

Passos (sorri) - Pois...Bom, até um dia destes...Vou ter de explicar isto ao Marques Guedes com alguma minúcia...Consenso sem acordo parece-me um bocado esdrúxulo, não achas?

Seguro (sorri também) - É como austeridade expansionista, não é?

Passos sorri mas é um sorriso um bocado amarelo...E decide que o melhor mesmo é chamar o Poiares Maduro, talvez ele tenha alguma ideia de génio.

 

 

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 16:19 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 16.04.13

Living by Numbers (estou farto de códigos e passwords!)

O século XXI é o século dos códigos e das passwords. Qualquer um de nós está absolutamente cercado por combinações cada vez mais complexas de números, letras e PIN´s. É preciso ter um livro de suporte, onde tudo está escrito, para não endoidecermos.

Ele é código para o Multibanco, para o VISA, para o cartão de cidadão ou para o cartão de gasolina, para o portão do condomínio ou para a porta da garagem.

Ele é password para o portal das Finanças, para a Amazon, para o mail, para o Facebook, para o Twitter, para o Linkedin, para a Nespresso ou para qualquer site de compras online.

Ele é Pin para o telemóvel, para o Ipad, para a box da televisão, e password para a wi-fi em casa. Ele é número de contribuinte, cartão da segurança social, número do utente, conta do banco, NIB próprio de uma conta, NIB da outra, mais códigos de cartões de outras contas; NIB para as transferências; referências para o multibanco para pagamentos vários; etc, etc.

E os códigos secretos? Sim, o que dizer quando nos chega uma folha de papel a casa dizendo que o nosso código secreto é zkl999Gaxykl223? O que se está a passar naquelas cabeças? Porque é que o G vem em maiúsculas e o resto são números ou minúsculas? O que é aquele suspeitíssimo 999? Porque é que o kl aparece sempre antes dos números?

Pior ainda é quando nos mandam mudar a password. A sua password expirou, tem de a renovar, avisou-me um mail outro dia. Expirou? Como? Morreu, dando um último suspiro valente, antes de esticar o pernil? Mas, a minha password era um hamster e ninguém me disse?

E que tal os auxiliares de secretismo das passwords? Já apanharam algum? É uma espécie de amigo secreto que, à medida que vamos colocando a password letra a letra, nos vai informando se ela é fácil de descobrir ou não.

Um dia, uma pessoa já irritada, escreveu a password "vai-tefod" e o amigo secreto informou "vai-tu" e foi aí que ele percebeu que estava alguém do outro lado! Meses depois, foi internado, mas é óbvio que isto perturba qualquer um...  

Antigamente, quando éramos adolescente, sabíamos os números de telefone principais da nossa vida todos de cor. Sabíamos o de casa, os dos avós dos dois lados, e os de vários de amigos e namoradas. Agora ninguém sabe nada de nada. Já não temos megabytes suficientes nos cérebros para decorar telemóveis mutantes de toda a gente!

Ainda por cima, com o Grande Regresso dos Telefones Fixos, as pessoas têm 1, 2 e às vezes 3 números de telefone cada uma! É de um homem dar em doido! Fala-se para o telemóvel 1, e nada. Fala-se para o telemóvel 2, nada também. Bem, a seguir vem o Fixo e se ninguém atende o que fazer? Lá vamos nós para o mail, para o Facebook, para o What´s Up, qualquer coisa...E qualquer coisa com código, ou com password, só para chatear!

Há quem tenha estratégias altamente sofisticadas para lidar com esta praga de códigos e combinações absurdas. Sim, há quem simplifique códigos e use sempre o mesmo. Tipo 1406, dia do casamento, a 14 de Junho. Pois, mas e se há divórcio? Lá se tem de mudar tudo e ainda por cima o ex-cônjuge percebe logo!

Qualquer dia, a presença das combinações de números e letras será de tal forma complexa, que até as conversas de engate terão de ter código e password. Ele, num bar, aborda-a e diz, com convicção:

- Aposto que a tua password e a minha são compatíveis!

- A tua tem números ou só letras? - pergunta ela, a rir.

- 14 caracteres...passam de minúsculas a maiúsculas quanto estão contentes.

E pronto, já estava. Era bom, não era? Se ao menos as passwords e os códigos facilitassem a vida, sempre se ganhava algum tempo!

 

publicado por Domingos Amaral às 11:58 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 04.04.13

Quando uma mulher bebe uns copos...

Ela não era uma mulher especialmente ousada. Sim, tinha tido as suas aventuras quando era mais nova, namoriscara vários rapazes, apanhara uns pifos, fumara uns charros, mas nunca passara além de certos limites. Embora gostasse, de vez em quando, de perder o controle, nunca o perdera totalmente.

Sim, é verdade, reprimira algumas fantasias. Uma vez, há mais de dez anos, tivera imensa vontade de dormir com o melhor amigo do marido, mas fechara os olhos, contara até a cinco e esquecera a coisa. 

De uma outra vez, numa despedida de solteira de uma amiga, apetecera-lhe trepar para o varão, despir-se à frente de todos, e enrolar-se no dançarino musculado que se exibia para o grupo feminino barulhento que ela e as amigas formavam. Mas, apesar de tudo, tinha a noção do ridículo, e dentro dos possíveis mantinha uma reputação de mulher misteriosa, não de tonta ou tresloucada.

Contudo, por vezes uma bebida muda a vida, e tudo o que contemos cá dentro salta para a superfície. Há meses que lhe fazia falta uma certa balbúrdia, e começava a sentir-se confiante outra vez. Caramba, já haviam passados dois anos sobre o divórcio, remoera as feridas, curara-se e agora estava com vontade de se perder. 

Foi aquele gin tónico que esteve na origem de tudo. Foi o primeiro, numa festa que até não estava especialmente divertida. E o primeiro é sempre o primeiro responsável pelas mudanças, mesmo que não tenha a responsabilidade de tudo.

O segundo e o terceiro, que se seguiram, encheram-lhe a cabeça de imagens. Parecia que estava dentro de um filme, havia gente por todo o lado. E sexo, muito sexo. 

Então, fixou-se num homem que dançava perto dela. Sabia quem era, sabia que estava disponível e sorriu-lhe. Um sorriso feminino faz milagres, e umas horas mais tarde estavam nus, em casa dela, deitados numa cama.

Ela sentiu-se excitada como há muito não se sentia, e ele ficou surpreendido com tanta genica e tanta fantasia que ia na cabeça dela. Lá foi cumprindo a sua função, tentando perceber o que ela queria, mudando de posição ou de táctica, mas rapidamente chegou à conclusão que só ele não chegava. 

Naquela noite, ela parecia querer muito mais do que apenas um homem. Ela queria todos os homens, tal era o seu desejo!

Mas também podia ser outra coisa, pois ela falava muito depressa, gritava muito, e ele nem sempre percebia o que ela dizia. Só houve uma coisa que ele percebeu, quando ela lhe chamou um nome diferente do dele.

Não reagiu, fez de conta que não ouvira, e continuou a fazer o que estava a fazer, mas soube imediatamente que não era só nele em quem ela pensava. 

No fim, quando se foi embora de casa dela, nem referiu o facto. Não valia a pena. Até fora uma noite agradável. O sexo fora bastante bom e mesmo que ela estivesse a pensar noutro homem, ou noutros homens, ou só estivesse a partilhar em voz alta fantasias da cabeça dela, a verdade é que quem lá tinha estado a fazer o servicinho era ele, e não outro. Ou outros.

Confirmou o que sempre soubera: quando as mulheres bebem uns copos a mais voam sempre para lugares muito distantes e muito fantásticos. E, por mais que um homem cumpra o seu dever, nenhuma realidade satisfaz uma fantasia. Seja ela qual for...

publicado por Domingos Amaral às 11:51 | link do post | comentar
 

Livros à venda

posts recentes

últ. comentários

  • Li com prazer o seu primeiro volume volume de assi...
  • Caro Domingos Amaral, os seus livros são maravilho...
  • Caro Fernando Oliveira, muito obrigado pelas suas ...
  • Gostei muito dos dois volumes e estou ansiosamente...
  • Bela e sensata previsão!Vamos ganhar a Final?!...
  • A tua teoria do terceiro jogo verificou-se!No enta...
  • Gostei de ler, os 2 volumes de seguida. Uma aborda...
  • Neste momento (após jogo com a Croácia) já nem sei...
  • Não sei se ele só vai regressar no dia 11, mas reg...
  • No que diz respeito aos mind games humildes, é pre...

arquivos

Posts mais comentados

tags

favoritos

mais sobre mim

blogs SAPO

subscrever feeds