Segunda-feira, 13.01.14

Vem aí uma nova Aliança Democrática (AD) e cuidado com ela!

No Congresso do CDS-PP duas coisas foram evidentes.

A primeira é que Paulo Portas não conseguiu explicar a sua demissão "irrevogável" em Julho, e perdeu uma boa oportunidade para esquecer o assunto.

A segunda é que está em processo acelerado de gestação uma nova Aliança Democrática, uma coligação eleitoral entre o PSD e o CDS-PP.

Faz aliás todo o sentido, politico e aritmético.

 

Politicamente, se este Governo conseguir terminar o programa de assistência com sucesso, como tudo leva a crer que conseguirá, isso será uma vitória política muito grande para a coligação que governa o país.

A vitória será enorme se existir uma "saída limpa", à irlandesa, sem necessidade de programa cautelar, o que é cada vez mais provável, pois os mercados financeiros estão num momento muito bom e isso ajuda muito.

Mas, mesmo que seja necessário um programa cautelar de um ano, será uma vitória, pois as condições deverão ser bem mais suaves dos que as actuais.

 

Com eleições europeias à porta, ir em coligação impede que a insatisfação, que ainda existe, seja destrutiva, minorando as perdas do conjunto.

Além disso, é uma preparação para as eleições de 2015, sendo as europeias uma espécie de "volta de aquecimento".

E, em 2015, a união eleitoral de PSD e CDS-PP terá como trunfos benefícios mais claros para os portugueses, podendo criar-se uma forte movimentação de suporte dessa AD que permita aos dois partidos atingir uma maioria absoluta.

O método de Hondt também ajudará, e será mais fácil a uma coligação vencer um PS que terá, nessa altura, bem menos argumentos do que os que tem agora.

 

Contudo, as maiores resistências a uma nova AD virão certamente do PSD.

No partido laranja, há muitos que não perdoam a Portas a crise de Julho, e que acreditam que Passos tem neste momento um lastro bem mais forte.

Haverá certamente a tentação de "deixar cair" Portas, estigmatizando-o como "irresponsável", e procurando que o PSD, sozinho e liderado por Passos, possa repetir maiorias absolutas solitárias, como conseguiu com Cavaco Silva.

Será, é óbvio, uma aposta com risco mais elevado, porque é mais difícil ter a maioria absoluta sozinho do que em coligação, mas por vezes o risco compensa.

 

O ano de 2014 vai ser essencial para ver qual destas correntes vencerá.

PSD e CDS-PP tiveram enormes dificuldades para gerir a crise, mas agora que o sucesso está à porta, o maior perigo vai ser a gestão das ambições de ambos.  

publicado por Domingos Amaral às 11:03 | link do post | comentar
Quarta-feira, 19.06.13

Será que eu estou a resvalar perigosamente para a esquerda?

Nos últimos meses, vários bons amigos têm chegado perto de mim e, num tom preocupado, manifestado a sua perplexidade por eu andar "tão à esquerda"!
Eu fico um pouco surpreendido, pois não me sinto nada a resvalar para a esquerda só por ter as opiniões que tenho.
O que há em mim é uma grande preocupação com o actual estado da Europa e de Portugal, e uma rejeição de muitas políticas que têm sido impostas. 
Para mim, a receita da "troika" "criou um ciclo vicioso de contracção do PIB, aumento do desemprego, quebra da actividade económica e aumento consequente de alguma despesa do Estado o que, em última análise, agrava o défice”.
Além disso, considero que “não existe realismo em alguns dos objectivos fixados nos programas de ajustamento”.
Sei bem que “é preciso rigor, mas é também necessária flexibilidade e, sobretudo, bom senso”.

É evidente que  “as dívidas são para pagar”, mas isso “não pode ser feito à custa das famílias e das empresas”, nem pode ser “uma hipoteca do futuro”.

O que temos de seguir é “um caminho sustentável de rigor, mas flexível o suficiente para não matar de exaustão e desespero quem o empreende”.

Além disso, acho que a Europa se tem portado muito mal, e tem tomado péssimas decisões.
A situação é ainda mais grave quando o assunto são os resgates à Grécia e a Chipre onde "o processo de decisão política é inconsequente, mal conduzido e quase infantil”.
Acredito sinceramente que "isso destrói a confiança dos cidadãos, dos investidores e dos mercados”.
Se dizer tudo isto é ser de esquerda, então graças a Deus estou bem acompanhado.
Todas as citações a bold deste post são retiradas da moção dos eurodeputados Nuno Melo e Diogo Feio, que será levada ao próximo Congresso do CDS.
Será que também o CDS já é "de esquerda"? 

 

 

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 15:26 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 15.10.12

Carta a Paulo Portas

Caro Paulo

 

Recordo com saudade e até alguma nostalgia aqueles anos do jornal "O Independente" em que tínhamos tempo para conversar sobre política e Portugal. Sempre foste um diretor com quem os jornalistas mais novos, como eu, podiam trocar ideias com liberdade e entusiasmo, e aprendi muito naqueles tempos. Nem sempre estava de acordo contigo, mas sempre admirei o ânimo com que defendias aquilo em que acreditavas, e não tinha qualquer dúvida que, mais tarde ou mais cedo, irias entrar na política e cumprir o teu destino.

Ao longe, tenho observado os teus passos e nunca deixei de respeitar a dedicação que colocas em tudo o que fazes na vida pública nacional. É também por isso que hoje te escrevo. Sinto que nestes tempos, estamos todos a viver momentos fundamentais da nossa vida, e tu bem mais do que eu. Por isso aqui vai o que tenho para te dizer, peço-te para leres com atenção e refletires sobre estas palavras. 

Hoje, terás de aprovar um orçamento para o nosso país, mas gostava que não o fizesses, pelas razões que passo a descrever. Em primeiro lugar, é um orçamento que impõe "um aumento enorme" de impostos, o que é só por si uma violência para os portugueses, já tanto fustigados pela terrível situação económica. É em si mesmo um aumento injusto, desproporcional, o maior desde que o país é uma democracia, o que é uma tragédia.

Em segundo lugar, é evidente que este aumento de impostos vai ter fortíssimos efeitos recessivos, atirando muitos portugueses para uma miséria triste e muitos outros para um abismo de dificuldades, e paralisando a já anémica economia do país. Como solução económica para os problemas de Portugal é uma hecatombe a somar à enorme desgraça em que já estamos.

Em terceiro lugar, é a repetição agravada de uma receita que não funcionou, nem em 2011, nem sobretudo em 2012. Parece já evidente para todos os portugueses que as soluções adoptadas, por mais bem intencionadas que fossem, tiveram resultados opostos aos desejados. Infelizmente, Portugal não está melhor do que há um ano e meio, bem pelo contrário, está pior. Ora, as pessoas inteligentes costumam aprender com a realidade, e se verificam que algo não correu como esperavam, devem corrigir o seu rumo, e não persistir numa estratégia teimosa e cega.

Além disso, e em quarto lugar, começam a aparecer sinais cada vez mais fortes de que, seja na Europa, seja entre os membros da "troika", há já uma consciência de que o "fanatismo austeritário" não está a funcionar. Mesmo o FMI, tantas vezes tão criticado, já teve a honestidade de reconhecer que os efeitos da austeridade foram muito mais nefastos do que previra, e que é tempo de adaptar os programas à situação específica com que se confronta cada um dos países em crise. Essa é uma "janela de oportunidade" que Portugal devia aproveitar, para moderar ou "calibrar", como agora se diz, a nossa política orçamental, tornando-a menos draconiana e mais positiva.

Em quinto lugar, apelo aos teus valores políticos, àquilo em que sempre acreditaste e defendeste. O CDS-PP, liderado por ti, sempre teve como bandeira política a luta contra o aumento dos impostos e da carga fiscal. Como pode agora apresentar como solução aos portugueses o maior aumento de impostos de sempre da nossa história? Como pode o CDS-PP tornar-se cúmplice desta política aterradora, quando sempre defendeu o contrário? 

Em sexto lugar, relembro-te que há momentos essenciais na carreira de um líder político, momentos sem dúvida difíceis, mas que definem o futuro. Aqui há uns anos, aceitaste para primeiro-ministro um líder escolhido pelo PSD, Santana Lopes, que não tinha legitimidade para ser primeiro-ministro, pois nem sequer tinha sido eleito deputado. Para seres "responsável", formaste um Governo com ele, e foste atrelado a ele até ao seu colapso. A história teve consequências penosas para ti e para o teu partido, e era importante que não cometesses por estes dias um erro semelhante.

Se não te distanciares deste PSD e deste primeiro-ministro, e do grupo de fundamentalistas da austeridade que o suportam, onde se evidenciam Vítor Gaspar e António Borges, entre outros, irás amarrado a eles para um poço sem fundo, de onde será muito difícil saíres nos próximos anos, pois os portugueses não irão perdoar a quem tanto lhes fez mal.

Lembra-te que Portugal não é uma ideia abstrata. Portugal são os portugueses que cá vivem, todos eles, e por isso não é possível dizer que Portugal está no bom caminho quando todos os portugueses, com as raríssimas excepções do grupo de fanáticos atrás referido, se sentem angustiados, deprimidos e com medo do futuro. Não acredites pois nessa "chantagem" que muitos propõem, que nos obriga a ser "responsáveis" engolindo tudo, porque isso é uma falsidade. Responsabilidade não é obrigar as pessoas a saltarem para um abismo, mas descobrir uma alternativa a esse salto. Responsável é quem, mesmo correndo muitos riscos, é capaz de ter a coragem de dizer não a uma política suicida e inaceitável.

Espero que sejas capaz de recusar o "aumento enorme" de impostos que este primeiro-ministro e este ministro das Finanças querem impôr ao país. Muitos e muitos portugueses te apoiariam se o fizesses.   

 

Um abraço com estima

Domingos Amaral

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:47 | link do post | comentar | ver comentários (7)
 

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