Terça-feira, 11.03.14

A sra Merkel não deixa reestruturar a dívida!

Foi hoje revelado um manifesto de múltiplas "personalidades" que apela à reestruturação da dívida portuguesa.

Só peca por tardio, o dito manifesto.

Neste blog, por exemplo, há mais de ano e meio que escrevo que a "reestruturação" da dívida é das poucas saídas possíveis para Portugal.

Porém, não irá acontecer, com manifestos ou sem manifestos.

E não irá acontecer porque a Alemanha não deixa.

Empolgada com os resultados que começam a aparecer, de recuperação da zona euro, e sobretudo empolgada com a hipótese de Portugal conseguir regressar aos mercados em breve, a sra. Merkel nem quer ouvir falar em reestruturação da dívida.

Para ela, a austeridade é um caminho salvador, produz bons resultados, e resolverá a crise europeia.

E, além disso, a sra Merkel tem com ela todos os alemães, que não admitem "perder dinheiro" com os povos do Sul, esses libertinos e gastadores.

Pedir a "reestruturação" da dívida é pois pregar no deserto, pois os alemães estão-se nas tintas para o que nós pensamos, tal como se estão nas tintas para o que muitos economistas defendem.

 

É evidente, para quem conheça a história económica dos últimos setecentos anos, que não há casos relevantes de países que tenham saído da crise sem reestruturação de dívida.

O mito da "austeridade expansionista", tal como o mito do "crescimento pelas exportações", não passam disso mesmo, mitos.

Nenhum país conseguiu ultrapassar uma situação de dívida excessiva só com a austeridade ou com as exportações.

Mais tarde ou mais cedo, todos reestruturam as suas dívidas e a vida continuou.

Foi assim com a Alemanha, sobretudo a seguir à Segunda Guerra Mundial, mas também com muitos outros países por esse mundo fora.

Só que, havia uma diferença essencial entre esses países e o Portugal actual.

É que os países que reestruturaram as suas dívidas tinham uma moeda autónoma, e Portugal não tem.

 

Estar no euro muda tudo, principalmente porque estar no euro implica estar dependente de outros países para tomar decisões.

Dentro do euro, só se pode reestruturar a dívida se os nossos parceiros estiverem de acordo, e isso não acontece.

Nem vai acontecer nos tempos mais próximos, pois os alemães não se deixam persuadir nestas circunstâncias.

Uma reestruturação da dívida permitiria a Portugal pagar muito menos juros, o que libertaria fundos para estimular a economia.

Mas, para isso era preciso que os credores aceitassem essa reestruturação, recebendo menos dinheiro já.

Politicamente, tal hipótese é uma impossibilidade.

A carga pesada da dívida vai continuar sobre os nossos ombros, pois essa é a vontade da Alemanha.

E nada se faz na Europa sem a benção da mulher de Berlim, essa é que é essa.  

publicado por Domingos Amaral às 12:28 | link do post | comentar
Quarta-feira, 19.02.14

Ucrânia: uma guerra civil às portas da Europa

As imagens são impressionantes: a praça central de Kiev arde, há combates, tiros, fogos.

Lembra um país em guerra, e de certa forma já é um país em guerra.

Há já uma guerra na Ucrânia, um fogo que arde a ver-se, exposto aos nossos olhos.

 

As facções enfrentaram-se há três semanas, depois pararam, e a Europa suspirou de alívio.

Mas, foi um alívio curto, e frágil, lá estão eles outra vez a atirarem-se às goelas uns dos outros.

E há uma linha a dividi-los, uma narrativa que diz que uns são bons, porque querem mais Europa, e outros maus, porque querem mais Rússia.

Talvez seja simplificar demais a realidade, e talvez seja cair numa perigosíssima armadilha.

Se de um lado está a Europa, e do outro está a Rússia, e se ambos os lados entram numa guerra civil, é muito fácil a situação acabar mal, numa espécie de guerra entre Europa e Rússia por interpostas pessoas.

 

Ninguém quer uma guerra, mas também em 1914 e 1939 ninguém queria uma guerra na Europa e elas acabaram por acontecer, e foram tragédias violentas que marcaram a história da Humanidade.

É esse o perigo na Ucrânia.

Com gente menor, um presidente corrupto e autocrata, e do outro lado uma oposição liderada por um antigo boxeur, e onde existem radicais de extrema-direita, ligados a claques de futebol, à pedrada na rua; é um cenário de horror.

Nós podemos pensar que é longe, para nos sentirmos melhor, mas não é longe.

Kiev é muito perto da Rússia, e muito perto de Viena, de Varsóvia, de Berlim. 

As fagulhas de Kiev podem queimar uma Europa que está frágil e complexa, onde há Auroras Douradas na Grécia e Marines Le Pen em França.

 

Os radicalismos europeus estão a crescer outra vez, os extremos estão a ganhar força, e Kiev pode ser apenas um laboratório sinistro onde se cozinha o futuro europeu.

É preciso ter cuidado, e muito, com o que se passa na Ucrânia, para que não sejamos todos arrastados pelo redemoínho que nasce em Kiev.

publicado por Domingos Amaral às 11:14 | link do post | comentar
 

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