Terça-feira, 23.04.13

Barroso e a austeridade insuportável...

O presidente da Comissão Europeia, o nosso magnífico Durão Barroso, veio finalmente constatar o óbvio, dizendo que a austeridade chegou ao limite do aceitável na maior parte da Europa, e que provoca perigosos riscos, sociais e políticos.

É espantoso como durou mais de quatro anos o discurso salvífico da austeridade, tão do agrado de tanta gente neste país e por esse mundo fora. E é espantoso que venha agora Durão Barroso criticar esse discurso de austeridade, quando durante esses mesmos quatro anos, foi um dos seus defensores mais empenhados. 

Sim, por mais cambalhotas que a Comissão Europeia e o seu presidente queiram dar em 2013, alguém terá de lhes esfregar na cara a memória do que foi a política europeia activamente promovida pela Comissão, por Barroso e pelo fanático Oli Rehn, que desde finais de 2009 apoiaram, constantemente e com grande vigor, as políticas austeritárias impostas pela Alemanha da Sra Merkel. 

Durante praticamente quatro anos, a Comissão Europeia foi um pau mandado da Sra Merkel e do Sr. Schauble. Quando eles diziam "mata", a Comissão dizia "esfola"! Os programas de ajustamento, as troikas, as austeridades violentas que caíram sobre a Grécia, Portugal, a Irlanda, a Espanha, a Itália, Chipre, e mais tarde começaram também a cair sobre a França e a Holanda, tiveram o apoio entusiástico desta gente.

Tivesse a Comissão Europeia mais lucidez e jamais teria apoiado um caminho em que só os loucos podem acreditar. A Europa está cada vez pior, cada vez com mais desemprego e mais crise, e quem quisesse ter pensado um pouco antes, bastava olhar para a história económica dos últimos 100 anos para saber que a austeridade sempre produziu desastres enormes.

Mas, é claro que Merkel e a Comissão e toda essa gente que governa a Europa não quis saber da História! Com aquela arrogância que costuma caracterizar os fanáticos, avançaram a toda a velocidade para uma austeridade bruta, cega e injusta. O resultado está à vista de todos, a Europa está moribunda, e no meio dela só a Alemanha obviamente resiste. 

Quatro anos depois, Barroso vem agora dizer o óbvio, que este caminho chegou ao fim. Pois veremos se os alemães estão pelos ajustes, mas é evidente que já ninguém na Europa acredita na austeridade. Os desastres crescem a olhos vistos e o terror de uma multiplicação de Chipres pela periferia europeia é bem real. 

Se este caminho da austeridade for invertido a tempo, e o mais depressa possível, a Europa ainda se poderá salvar. Mas, a descrença é imensa, a crise muito profunda, e a Alemanha não está ainda preparada para mudar o seu discurso e as suas políticas. Por isso, bem pode Barroso falar, mas como ele não manda nada, temo que o desastre continue.  

publicado por Domingos Amaral às 11:35 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quarta-feira, 16.01.13

Passou a tempestade no euro...

Como nas últimas semanas já vieram dizer Draghi, Lagarde ou Durão Barroso, a crise financeira de confiança no euro parece ultrapassada.

E como eu sempre aqui escrevi, essa crise terminaria no dia em que se dessem duas garantias. A primeira era a de que o BCE podia comprar dívida dos Estados, e a segunda era que a Grécia não saía do euro, mesmo que para isso precisasse de ver a sua dívida perdoada, ou reestruturada. 

Se a Europa tivesse feito isso logo em inícios de 2010, a grave crise do euro não teria acontecido, e se calhar Portugal nunca teria precisado de um resgate da "troika". Contudo, foram precisos três longos anos para a Europa reconhecer o óbvio. 

Só em Junho de 2012, uma primera declaração de Draghi, a dizer que "tudo faria para salvar o euro", começou a acalmar os mercados, e viram-se as primeiras descidas nas taxas de juro. A segunda vaga de descida iniciou-se em Setembro, quando o BCE aprovou a compra de dívida dos Estados (apesar da oposição da Alemanha). E a terceira vaga de descida, a que mais beneficia Portugal, deu-se logo após a decisão de reestruturar a dívida da Grécia. 

Infelizmente para todos os europeus, foram necessários 3 longos anos para convencer os alemães de que esta era a única saída, e que só assim se salvaria o euro. Durante 3 anos, a Sra Merkel e o Bundesbank resistiram a todas as mudanças, convictos que só a austeridade fiscal chegaria para resolver uma crise que era sobretudo de confiança.

Primeiro recusaram os resgates, depois recusaram os fundos de estabilização europeus, e depois ainda tentaram recusar a possibilidade do BCE intervir e a união bancária. Porém, o resto da Europa conseguiu convencê-los que a austeridade, sozinha, não resolvia nada.

Infelizmente, esta cegueira alemã obrigou alguns pequenos países, como Grécia, Portugal e Irlanda, a sofrerem muito mais do que era necessário. Só quando a crise ameaçou a Espanha, a Itália, e até um pouco a França, é que os alemães tomaram juízo e se renderam às evidências.

Os planos forçados de austeridade, impostos pelas "troikas" aos pequenos países da Europa, são filhos desta teimosia e desta cegueira germânica. Já toda a gente percebeu que foram exagerados, na profundidade e na rapidez dos ajustamentos exigidos. Geraram recessões cavadas, desemprego altíssimo, instabilidade social e política, e não foram eles que resolveram a crise do euro, mas sim o BCE.

Estes 3 anos de fúria austeritária deixaram a Europa mais enfraquecida. Como Juncker disse, na hora da despedida, a Europa foi bruta com os fracos, não resolveu o drama do desemprego e foi pouco solidária.

Além disso, a crise geral do euro pode ter chegado ao fim, mas a crise específica desses países não chegou. Na Grécia, na Irlanda, em Espanha, em Portugal, continua um sofrimento desnecessário. Até quando?

Até quando demorarão os poderosos da Europa a perceber que, para resolver uma crise financeira que podia ter sido resolvida facilmente pelo BCE, geraram crises económicas prolongadas que não sabem como resolver?

Em Portugal, no meio da recessão, o Governo quer cortar mais 4 mil milhões de euros de despesa, cerca de 2,5 por cento do PIB. Pior precipício orçamental não há. Até quando esta gente continuará cega? Será que é com 1 milhão de desempregados que se pagam as dívidas do país? 

publicado por Domingos Amaral às 15:34 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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