Legionellas, ebola, vacas loucas, viva a indústria do medo!

As doenças, os surtos, as epidemias são as melhores histórias comunicacionais dos tempos modernos.

A narrativa é sempre semelhante: há uma doença que se propaga, é perigosa, pode matar muita gente, os países têm de estar alerta, tenham medo, tenham muito medo!

A comunicação social repete até à exaustão a história, acrescenta-lhe pontos de interrogação, dúvidas, especulação, como convém numa boa história.

Os poderes públicos vêm dizer que estão preparados, mas a doença continua a propagar-se, gerando cada vez mais receio e muita desconfiança. 

Começa a morrer gente, mudam-se comportamentos, têm-se medo de carne, de spas e piscinas, de cães, de vacas, de aves, de tudo.

 

Nos últimos anos, lembro-me de várias epidemias globais ou locais, que iam pôr em perigo a nossa sobrevivência.

Doença das vacas loucas, gripe das aves, gripe HN1, ébola, legionella, a matança vinha aí e era sempre generalizada, atroz, terrível.

Bem, como sabemos, tudo não passou de um susto. O nosso cérebro não explodiu por causa da carne, não morremos por contágio de gripe, o ébola foi contido, a legionela está localizada numa região.

Porém, não ganhámos para o susto, e não havia alma humana que não temesse a proximidade trágica da mortandade geral.

 

A história da Europa e do mundo está cheia de terríveis epidemias, como a peste negra, a gripe espanhola, a sífilis, a sida, e talvez por isso tenhamos entranhados na psique estes medos sinistros, que nos fazem entrar em pânico à primeira suspeita de perigo.

Apesar de vivermos na época mais saudável da história da humanidade, apesar dos avanços da ciência e da medicina, apesar dos milhares de antibióticos que nos protegem, não descansamos, e mal surgem umas notícias começamos logo a ver a vida a andar para trás.

 

É um bocado tonto, mas os seres humanos são assim. Têm medo, e quanto mais vago melhor.

Morrem mais pessoas de tubercolose todos os anos do que qualquer das outras doenças, mas quem quer saber disso? É uma história antiga, não vale nada, o que queremos é novas doenças!

Venha a próxima! 

publicado por Domingos Amaral às 11:40 | link do post