Elena Ferrante, a mulher de Nápoles que escreve muito bem

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Nas últimas semanas, tenho-me dedicado a ler Elena Ferrante, o novo fenómeno mundial da literatura.

Sabe-se pouco sobre ela, nunca apareceu, não há fotografias, mas sabe-se que é mulher, italiana, napolitana. E o que é mais importante, sabe-se que escreve muito bem.

 

Naturalmente, comecei pelo primeiro da tetralogia, "A Amiga Genial", e gostei muito.

É a história de mulheres pobres, que nasceram num bairro pobre de Nápoles. Duas amigas conhecem-se meninas, vão crescendo, com pais, amigos, os primeiros namoricos. Parece simples, mas não é.

 

Ferrante é magistral a descrever Nápoles mas também a descrever a amizade, os medos, as excitações de duas amigas. São livros sobre isso, a amizade das mulheres, no que ela tem de espantoso, cúmplice, diabólico, emocional.

Mas também é um livro, ou são vários, sobre Itália, sobre Nápoles, sobre os anos 50, 60 e seguintes, sobre os movimentos de esquerda, mas também sobre a Camorra ou o desenvolvimento económico.

 

Um dos mais impressionantes traços é a violência física napolitana. Os homens batem nos outros homens, batem nas mulheres, batem nos filhos e nas filhas, mas as mulheres também batem nos homens, nos pais, nas mães, nos filhos, nas filhas, nos amigos e nas amigas. Ferrante é implacável e sentimos cada murro como um coice.

 

É claro que, quando passamos ao segundo volume, "História do Novo Nome", percebemos que também estamos perante uma história de mobilidade social, de uma mulher pobre que vai subindo na vida devido aos estudos e à literatura, enquanto os amigos e amigas ficam para trás.

 

E sim, também é uma história sobre sexo, os primeiros namoros, os abusos, a dificuldade de ter prazer quando se trabalha até à exaustão em fábricas, charcutarias e sapatarias, e não há tempo para coisas boas.  

 

Elena Ferrante merece o sucesso que está a ter, pois escreve maravilhosamente e embala-nos nas suas frases bonitas e afiadas. É literatura para mulheres? Talvez, mas é boa literatura para mulheres e por isso vale a pena ler. 

 

O meu único problema é que, ao chegar ao terceiro livro, "História de Quem Vai e de Quem Fica", há uma sensação de perda de entusiasmo, o enredo já não nos empolga tanto como nos dois livros iniciais.

Mas vou terminar a tetralogia, pois quem escreve tão bem merece isso. 

publicado por Domingos Amaral às 13:27 | link do post | comentar