E se o Syriza conseguir ajudar Portugal?

Em toda a Europa, Portugal e Espanha são os dois países que estão mais alinhados com a linha dura de Merkel.

Tanto Passos Coelho como Rajoy já fizeram saber que não querem ouvir falar em conferências sobre a dívida ou sobre o fim da austeridade.

Faz sentido esta linha tão dura?

 

É compreensível que quem passou mais de três anos a defender as suas políticas não queira mudar.

Além disso, há alguns resultados positivos, seja em Espanha, seja em Portugal.

Tanto num caso como no outro, há pequenos aumentos do crescimento económico, e uma pequena descida do desemprego.

Os bancos espanhóis e portugueses estão hoje um pouco melhor, e as exportações também se vão aguentando.

Mas talvez a razão seja outra: em ambos os países vai haver eleições depois do Verão.

 

Entende-se pois que Passos e Rajoy tenham escolhido a linha dura, e estejam contra o Syriza.

A vontade de alterar regras, acabar com a austeridade, ou discutir a questão das dívidas soberanas, é uma afronta para quem tanto defendeu essas políticas, tanto as praticou, e agora vê alguns sinais positivos.

Tanto Passos como Rajoy vão lutar com unhas e dentes pela sua estratégia, que eles julgam vencedora, e tudo o que não querem é que a Europa lhes tire o tapete a uns meses das eleições.

 

Porém, talvez fosse inteligente não ser tão radical, pois há sinais de que as coisas na Europa estão a mudar.

Por mais que se diga que os alemães não querem ceder, há outros intervenientes que defendem uma linha mais suave.

França, Itália e Irlanda já deram sinais de maleabilidade.

Junker, este fim de semana, levantou a possibilidade de a "troika" acabar, uma das imposições mais simbólicas do Syriza.

Também Obama se pronunciou contra a austeridade.

Embora no governo alemão Schauble faça de "polícia mau", as palavras de Merkel (o "polícia bom") não foram demasiado violentas, e fazem crer que se podem aceitar algumas mudanças.

 

A negociação entre a Grécia e a Europa ainda agora está a começar, e é por isso que me parece que a linha dura de Passos e Rajoy é um pouco prematura. 

Até porque, se o Syriza conseguir convencer a Europa de uma estratégia alternativa à austeridade para aplicar na Grécia, ou mesmo de um alívio na questão da dívida pública, isso é bom para os interesses de Portugal.

 

Ser muito definitivo, recusando qualquer mudança, faz sentido para tentar vencer eleições, mas pode não ser a estratégia que melhor serve o interesse nacional.

Portugal e Espanha podem beneficiar muito das lutas do Syriza, mesmo que os seus primeiros-ministros, por calculismo eleitoral ou fervor ideológico, não o queiram admitir. 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:42 | link do post | comentar