Sexta-feira, 01.08.14

O BES derreteu, parabéns Banco de Portugal!

Como aqui previ, há duas semanas, o Estado vai ter de entrar a sério no BES.

Os últimos meses já faziam adivinhar que a situação ia acabar muito mal.

Basta ler um pouco da história das crises bancárias, seja cá, na América, ou noutros países, para perceber que toda a gente estava a cometer os erros de sempre.

Passos Coelho mandava bocas, a dizer que aquilo era um problema "privado", que o Estado não ia meter-se.

O Banco de Portugal emitia comunicados, todas as semanas, a dizer que o BES estava "sólido".

E a imprensa fazia um festim com as más notícias, enquanto milhares queriam era ver a família Espírito Santo atrás das grades!

 

Ora, ninguém parece ter percebido que se estava perante um gravíssimo problema, para a economia portuguesa e para o sistema bancário nacional.

O BES é só o maior banco privado português, não é algo com que se possa brincar.

Os governantes e o Banco de Portugal deviam ter-se lembrado que também Bush decidiu não salvar o Lehman, e foi o que se viu, o maior colapso financeiro desde a segunda guerra mundial.

Quando estamos a falar de um banco tão importante para o sistema bancário de um país, convém não ser inocente, nem irresponsável.

 

Porém, o país parecia num teatro de tontos.

Os últimos meses são um chorrilho de asneiras do regulador, uma trapalhada desmiolada dos principais accionistas, um delírio para os abutres e para os especuladores profissionais, e uma irresponsabilidade permanente do Governo.

Como é que alguém acreditou, e muitos acreditaram, na história de que era possível separar os problemas do BES dos problemas do GES (Grupo Espírito Santo)?

Que raio de imprensa económica é a nossa, que julga que está a ter momentos de glória, quando está a afundar um sistema bancário?

Que raio de Governo é este que não percebe que não pode lançar bocas demagógicas, dizendo que não vai ajudar "famílias e negócios de amigos", quando se está perante o maior terramoto da história bancária de Portugal?

 

A crise do BES entrou directo para o número 1 do top das crises financeiras portuguesas.

Em dois meses, o valor do banco derreteu.

Os culpados deste desastre são muitos, a lista é espantosa.

Sim, a família, isso é óbvio.

Mas também o Banco de Portugal, que pilotou esta crise como uma criança de três anos guia um bólide, sem qualquer noção.

E o governo, os liberais que vão ter de engolir tudo o que disseram, e voltar usar o Estado para salvar o que resta do BES, para estabilizar um sistema bancário à beira de um ataque de nervos.

E nem quero falar em certos comentadores que se julgam heróis e não passam de carrascos...

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 16:34 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 10.07.14

Preparem-se: o BES tem de ser nacionalizado, não há outra solução

Interrompo as minhas férias neste blog, porque parece-me que a situação se justifica.

O sistema bancário português está à beira do colapso, devido à grave crise que se vive no BES e no grupo Espírito Santo.

E o sistema financeiro português está em pânico, como se prova pelas graves quebras da bolsa nas últimas semanas.

Para estabilizar a situação, já não chegam os nomes que foram lançados para a praça pública há dias.

A partir de agora, é preciso intervir, e à séria.

Nacionalizar o BES, e o mais depressa possível, é a única solução para evitar um colapso ainda mais gravoso.

Tal como há uns anos a Inglaterra nacionalizou o Lloyds, Portugal terá de nacionalizar o BES.

 

Pelo caminho, há críticas graves que se devem fazer a todos os intervenientes neste processo.

A família Espírito Santo degladiou-se em guerras civis, quando a casa já estava a arder.

Mas, esse não é o principal problema, há muito que deixou de o ser.

A intervenção do Banco de Portugal, sobretudo nos últimos três meses, foi absolutamente inconsequente e desleixada.

Não é aceitável que se decapite a liderança de um banco, sem ter uma solução alternativa imediata.

Ao vetar nomes e soluções a conta-gotas, o Banco de Portugal gerou um vazio de poder sinistro e aterrador.

Os mercados sentiram a fragilidade, e desataram a vender, fugindo a sete pés da bolsa portuguesa.

 

Também não esteve nada bem o nosso Governo.

Há cerca de um mês, Passos Coelho lavou as mãos do assunto, dizendo que a situação do BES não tinha a ver com ele.

Essa frase foi a medida da falta de lucidez de Passos, e da sua nefasta negligência.

O maior banco privado de um país é sempre um assunto nacional, é sempre um assunto de Estado.

Agora, a bomba BES vai rebentar nas mãos de um primeiro-ministro impreparado e pouco lúcido.

Esperemos que tenha a dignidade de tomar a decisão mais correta, e nacionalizar o BES.

 

Caso contrário, e se for mantida por mais tempo a atitude tonta de "laissez-faire" do Banco de Portugal e do Governo, então preparem-se todos para um desastre nacional de proporções inimagináveis.

publicado por Domingos Amaral às 11:53 | link do post | comentar | ver comentários (45)
Terça-feira, 24.06.14

Seguro é uma lapa e será duro de roer

Não será fácil remover António José Seguro da liderança do PS.

Quem pensava que a vitória de Costa eram favas contadas, e que a onda positiva que se formou levará Costa ao poder com facilidade, pode tirar o cavalinho da chuva.

Seguro é uma lapa, está agarrada à rocha fortemente e tudo fará para impedir que Costa lá chegue.

Truques, processos, mais truques, mais atrasos, mais manigâncias, tudo será usado por Seguro.

As eleições deviam ser rápidas? Pois serão lentas!

As inscrições dos simpatizantes deviam parar em Julho? Pois durarão até meados de Setembro.

Só deviam votar militantes? Pois votarão todos os que quiserem, sendo simpatizantes!

A definição de simpatizantes devia ser clara e blindada? Pois será vaga e fluída, para todo e qualquer um lá caber.

 

Não nos esqueçamos que Seguro é um jotinha, aprendeu estes jogos florais muito cedo, como todos os jotinhas.

Com expedientes destes, esvazia-se a onda, cria-se ruído, gera-se dúvida.

Aquilo que parecia óbvio há semanas, começa a não parecer tão óbvio com as contrariedades.

Se Costa pensava que ia chegar ao Rato num andor, carregado por um PS eufórico, irá descobrir que terá de sujar as mãos e os pés na lama.

 

Sim, a luta entre Costa e Seguro vai ser um combate na lama, duro, sujo e feio de se ver.

Haverá insultos, choro, ranger de dentes, e dificilmente Costa poderá manter o seu perfil moral elevado.

Numa guerra como esta, ganha quem mais deseja vencer, quem mais está disposto a tudo.

E, para já, Seguro parece mais disposto a ir ao limite, e a sujar mãos e pés e calções.

O país pode ficar a perder muito se Seguro vencer, mas Portugal está cheio de grandes líderes que não foram bons candidatos e perderam.

Antes de administrar o poder, é preciso conquistá-lo.

Costa tem de perceber isso, nada lhe será dado de borla ou de mão beijada.

Ou mete a mão na anca e faz uma investida, marrando no adversário, ou pode acabar por perder. 

publicado por Domingos Amaral às 11:13 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 05.06.14

A conspiração geral contra António Costa

A decisão de António Costa se candidatar á liderança do PS foi o verdadeiro terramoto eleitoral da semana.

De repente, o pânico instalou-se em quase todos os partidos, à esquerda ou à direita.

Primeiro, instalou-se na cúpula do PS.

Seguro ficou totalmente siderado.

Julgava ele que, depois de uma média vitória nas autárquicas e de uma minúscula vitória nas europeias, o seu caminho estava aberto para chegar a S. Bento.

Pode mesmo dizer-se que Seguro, no domingo às oito da noite, já via a luz no fundo do túnel.

Porém, como uma vez disse um escritor americano, temos de ter cuidado com a luz que se vê ao fundo do túnel, pois pode ser um combóio a vir na nossa direção.

Foi o que se passou com o pobre do Seguro: já via a luz ao fundo do túnel, e de repente essa luz é o combóio de António Costa a vir contra ele!

 

Mas, o pânico também se instalou na cúpula dos partidos de centro-direita, PSD e CDS.

No domingo, era indisfarçável o contentamento.

A maior derrota de sempre do centro-direita ficara muito saborosa pois o PS só tivera 31 por cento!

E, como revelava uma sondagem da TVI, isso queria dizer que a derrota nas legislativas não era certa, contra Seguro ainda se podia vencer.

António Costa estragou este cenário idílico, esta fantasia tonta que se apossara de Passos e de Portas.

De repente, o perigo surgiu, fortíssimo.

Ao contrário de Seguro, Costa podia dar cabo de Passos e Portas, era um adversário perigosíssimo!

Em pânico, Passos e Portas desataram a dramatizar, criando mais uma crise constitucional.

A ideia, óbvia, é convencer Cavaco que há mau funcionamento das instituições em Portugal, pois o TC não deixa o Governo governar, e por isso é necessário irmos já para eleições.

 

Ao mesmo tempo que isto se passava, mais duas coisas aconteceram.

Primeiro, Seguro inventou um esquema demorado para a eleição de um novo líder do PS, saindo-se com a ideia das primárias.

De caminho, ia dizendo a Cavaco que o melhor mesmo era pedir eleições antecipadas.

Em segundo lugar, o PCP de Jerónimo, contente com os resultados das europeias, dizia também que queria eleições antecipadas.

No espaço de apenas uma semana, a decisão de António Costa se candidatar à direção do PS produziu estes curiosos efeitos.

Tanto Seguro, como Jerónimo, como Passos e Portas, querem eleições antecipadas.

Todos eles, sem excepção, desejam eleições antes que Costa tome conta do PS, pois todos eles temem perder votos com Costa a liderar o PS.

Há uma evidente aliança objetiva entre o centro-direita que nos governa, os comunistas e Seguro, para evitar que Costa vença o PS.

O terror de Seguro (perder o PS para Costa), o terror de Jerónimo (perder votos para Costa), e o terror de Passos e Portas (perder as eleições legislativas para Costa), têm todos o mesmo fundamento e motivo.

É essa a conspiração contra Costa, todos o querem parar e depressa.

 

A minha única dúvida é Cavaco Silva.

Quererá o presidente acelerar o calendário político, marcando eleições antecipadas por exemplo para Setembro, contribuindo assim para impedir que Costa tome conta do PS até lá, por falta de tempo?

Não faço ideia do que vai na cabeça do presidente da República, mas será grave a existência de uma crise política prematura, cujo único objectivo é afastar um homem do cargo de primeiro-ministro.

É que, no meio de todos estes jogos políticos, temos de pensar em Portugal.

Quem é que a maioria dos portugueses preferem para primeiro-ministro, Costa ou Seguro?

Em quem têm mais confiança para governar o país?

É que a visão de um país onde o PCP cresce muito, o PSD e o CDS estão abaixo de 30 por cento, e o primeiro-ministro e líder de um PS que só vale 31 por cento é António José Seguro, é uma visão aterradora.

Cavaco devia refletir sobre que país vamos ter se ele marcar já eleições antecipadas...

publicado por Domingos Amaral às 11:39 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 04.06.14

A "Guerra dos Tronos" é cem vezes melhor que o PS

Há uns dias, um personagem do PSD, o Marco António, comparou as lutas internas do PS à série "Guerra dos Tronos".

Ora, por mais que se entenda a vontade de apoucar o PS, a crítica de Marco Costa passa por um perfeito disparate.

A "Guerra dos Tronos" é uma série excelente, com uma produção magnífica, um elenco fora de série, episódios fantásticos, personagens inesquecíveis e uma enorme imprevisbilidade no enredo e nos acontecimentos. 

Comparar uma série de tanta qualidade com as disputas internas do PS é um insulto para a série. 

 

No PS, não há sentido épico, nem suspense, nem acontecimentos imprevisíveis.

Há apenas uma disputa natural, e até bastante previsível, entre um líder fraco e um desafiador com qualidade.

Mas, fica-se por aí. Não há disputas sangrentas, traições femininas ou masculinas, sexo altamente excitante, combates fulgurantes e mortandade em série.

Nada disso acontece no PS.

Nem como metáfora a comparação serve, pois já existiram nos partidos portugueses disputas muito mais duras e fascinantes.

A luta Costa contra Seguro é interessante, mas não mais do que isso, e há muito pouco suspense sobre como vai acabar.

Costa é tão mais forte que Seguro, que só com milhares de manobras é que a sua eleição é evitável.

 

Na "Guerra dos Tronos", tudo é impossível até se tornar, de repente, possível, e tudo é muito mais excessivo e excitante.

A quarta série, que sigo religiosamente no canal SyFy, começou menos bem, e os primeiros quatro episódios estavam um bocado lentos.

Mas, de repente, tudo mudou, e os últimos três episódios têm sido absolutamente fabulosos.

Ontem, por exemplo, houve um combate que acabou com a cabeça de um príncipe esmagada pelas mãos de um gigante; e com o anão Tyrion a ser condenado à morte.

O PS, ao pé disto, é uma brincadeirinha de crianças.

publicado por Domingos Amaral às 11:54 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Terça-feira, 03.06.14

A Guerra Constitucional (episódio 4 - O Regresso das Trevas Salariais)

Lá vamos nós para o quarto melodrama constitucional português.

Sim, já é a quarta vez que vemos este filme, está a tornar-se uma saga repetitiva e sem interesse.

É que esta Guerra Constitucional (episódio IV - O Regresso das Trevas Salariais) é igual às três edições anteriores da saga, com apenas algumas nuances.

 

Qualquer episódio da série começa sempre da mesma maneira, com o Governo a tomar uma decisão drástica, tipo cortes dos subsídios, ou de salários.

Nesse momento inicial, há pessoas que dizem que é quase certo que o Tribunal Constitucional vai chumbar a medida, mas o Governo não pensa duas vezes e avança com ela.

 

No segundo acto, há pessoas que levam o assunto ao TC (o presidente da República, ou a oposição), e o TC fica uns meses a digerir o assunto, para criar algum suspense.

Pelo caminho, o Governo lá vai mandando umas bocas, a tentar fazer pressão, e o TC lá vai mandando outras, a dizer que não é pressionável. 

 

No terceiro acto, conhece-se a decisão previsível e esperada do TC (não há qualquer surpresa, é sempre o que se dizia que era), e logo depois começa o melodrama do Governo, também ele já cansativo e repetitivo. 

Lá vem o Marco António aos berrinhos, o Portas muito sério, o Passos muito preocupado, o Durão a lançar avisos ameaçadores de Bruxelas, e toda a gente de direita a zurrar, acusando o TC de ser "ideológico" ou "de esquerda".

Por momentos, todos acreditamos que vai existir finalmente o tão esperado "duelo ao sol" entre o Governo e o TC, mas passados uns dias nada acontece.

O Governo lá arranja umas medidas à pressa para cumprir os objectivos, e o drama esfuma-se.

 

O problema da série "A Guerra Constitucional" é sempre o mesmo: é anunciado um fim tenebroso para o país, mas algum tempo depois essa anunciada tragédia não se dá, pelo contrário, as coisas até vão melhorando.

Já foi assim no episódio 1 (Os Cortes dos Monstruosos Subsídios); no episódio 2 (O regresso dos Monstruosos Subsídios); e no episódio 3 (As monstruosas pensões atacam). 

Sempre que o TC decidia contra o Governo, logo vinha aí o tenebroso "Segundo Resgate" e a perdição final e apocaliptica do país.

Porém, o tenebroso "Segundo Resgate" tem sido como o lobo da história, as pessoas dizem que ele vem aí, mas nas primeiras vezes nunca apareceu.

As coisas iam supostamente piorar muito, mas a verdade é que acabaram por melhorar, e até conseguimos a inesperada "saída limpa". 

 

É esse aliás a incoerência do Governo. 

Há pouco menos de um mês, sim um mês, este Governo decidiu-se pela "saída limpa" e disse ao país que tudo estava bem.

Agora, de repente, já está tudo em risco e tudo a falhar?

Como é isso possível?

Nos três episódios anteriores, apesar das decisões do TC, tudo correu bem!

E, pergunto eu, se estamos assim tão em perigo, não terá sido prematuro escolher a "saída limpa"? 

Acho que vou ter de esperar pelo Episódio V, para ver como isto acaba, mas até agora tem sido tudo tão previsível que até chateia. 

É sempre a mesma coisa, os mesmos dramas pífios e os mesmos finais chochos. 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:13 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 02.06.14

O Tribunal Constitucional está a ajudar muito este Governo

A maior parte das pessoas acha que os vetos do Tribunal Constitucional são maus para o governo.

O PSD diz que o país está a "andar para trás".

Passos Coelho confessa-se "extremamente preocupado". 

Mas eu não consigo compreender porquê tanta preocupação e tanta crítica às decisões do TC.

Na verdade, e digo isto sem ironia, o TC tem ajudado muito este Governo.

Ao vetar os cortes nos salários, o TC contraria o desejo do Governo, mas faz muito bem à economia.

 

É que, não sei se já alguém tinha reparado, mas o crescimento estava a parar, e a recessão ameaçava regressar.

O Governo não gosta de reconhecer isso, mas os cortes salariais eram uma das razões para a contração económica que estava a recomeçar.

Mais uma vez, com menos dinheiro no bolso, muitos portugueses e suas famílias estavam a consumir menos.

Com o consumo a retrair-se, o crescimento económico também começou a diminiur, e lá se estava a esfumar o "milagre económico" do dr. Pires de Lima.

Mas, o TC apesar de ser muito injuriado, tem tomado boas decisões para a economia.

Ao obrigar o Governo a repôr os cortes, devolve dinheiro às pessoas, dinheiro esse que vai aumentar um pouco o consumo e o crescimento.

 

Tem sido sempre assim ao longo destes últimos três anos: o Governo aplica cortes violentos, que causam recessão, e o TC anula esses cortes, dando um novo impulso à economia.

E agora julgo que o mesmo se vai passar, por isso lá mais para o final do ano veremos os números económicos a melhorarem um pouco, e o Governo a dizer que é tudo obra e graça das suas políticas, quando na verdade foi o TC que o meteu no caminho certo.

É o problema deste governo: nunca percebe que são as coisas que faz que lhe causam transtornos, e nunca percebe que tem sido o TC o seu melhor aliado na recuperação económica.

Mas este é o mesmo governo que há pouco mais de um ano se enfurecia e dizia que o TC, com as decisões, estava a empurrar Portugal para um segundo resgate.

Ora, como se viu, as decisões do TC foram executadas, e Portugal não foi para um segundo resgate, mas para uma saída limpa, o que prova que o TC faz bem à economia, e não mal, como diz o Governo.

publicado por Domingos Amaral às 11:52 | link do post | comentar
Quarta-feira, 28.05.14

Se Seguro ficar, o PS comete um hara-kiri

Por mais que António José Seguro a tente evitar, aproxima-se a batalha entre ele e António Costa.

Seguro teve a sua hipótese, e até teve um resultado honroso nas autárquicas.

Não foi bom, mas também não foi mau.

Porém, nas europeias, o resultado do PS é péssimo.

O maior partido da oposição não consegue ganhar votos quando os partidos do Governo são tão mal vistos.

Com o descontentamento que existe em Portugal com este Governo, com os problemas sociais e económicos que existem, com o desemprego alto, com uma dívida pública altíssima, com os impostos mais altos de sempre, mesmo assim o PS não cresce.

Pelo contrário, o PS perde votos!

E não os perde para o Bloco de Esquerda, ou seja, não os perde porque não foi suficientemente à esquerda.

 

A única explicação que se encontra para o fenómeno é a liderança fraca e pouco entusiasmante de Seguro.

Os socialistas não acreditam nele, e muitos até preferiram olhar para o lado, e votar em Marinho Pinto ou em Rui Tavares.

E, quando assim é, toda a gente percebe que o problema está na liderança, não nas ideias.

Seguro não tem carisma, não tem consistência, e não entusiasma ninguém nas hostes socialistas, quanto mais fora delas.

Nas próximas semanas, pode tentar tudo para evitar o Congresso ou as directas, pode usar todos os expedientes dos estatutos e todos os subterfúgios, que isso não adia o essencial.

E o essencial é que, como mostrou uma sondagem da TVI logo no dia das eleições, com Seguro à frente, o PS arrisca-se a perder as eleições em 2015, ficando atrás de Passos e Portas.

É essa terrível possibilidade de derrota que está a aterrar o PS.

Os partidos odeiam perder, e se estão convencidos que o líder os levará à derrota, esse líder tem os dias contados.

É isso que se passa hoje no PS: com Seguro, os socialistas podem perder!

 

Com este cenário, é natural que António Costa vá ganhando cada vez mais apoios, e que se crie uma onda positiva que o leve à liderança. 

Costa representa uma forte possibilidade de vitória, enquanto Seguro representa uma forte possibilidade de derrota.

Mas, para além de poder vencer, Costa tem outras vantagens quando comparado com Seguro.

Tem experiência política, já foi ministro e é presidente da Câmara de Lisboa há vários anos (Seguro não foi nada).

Tem carisma e mais senso político, bem como simpatia e humanidade.

E, pormenor importante, Costa tem muito mais capacidades do que Seguro para fazer alianças com outras forças políticas, seja à sua esquerda, seja à sua direita.

Nem Marinho Pinto, nem Rui Tavares, nem o Bloco, gostariam de se aliar a Seguro, numa frente de centro-esquerda.

Mas, com Costa é provável que todos gostassem de se aliar, caso seja necessário.

 

À direita, as pessoas pensam da mesma maneira.

Se em 2015 for necessário um governo de Bloco Central, quem preferem as pessoas de direita que esteja à frente do PS?

Preferem um governo onde estão Passos e Portas, e o primeiro-ministro é Seguro?

Ou um governo onde o número um é António Costa?

E os mercados, e os parceiros sociais, os empresários ou os sindicatos?

Será que não é evidente para todos que António Costa é um político que dá mais confiança do que o pobre Seguro?

 

Nas próximas semanas, é sobre isto que os socialistas devem refletir.

Portugal está num momento complicado da sua história, e com o centro-direita tão descredibilizado, o próximo primeiro-ministro tem de gerar confiança aos portugueses todos, sejam eles de esquerda ou de direita.

Parece-me evidente que António Costa está muito mais bem preparado que Seguro para ser essa pessoa.

Se o aparelho do PS não perceber e rejeitar Costa, como é possível, o PS cometerá um trágico hara-kiri. 

publicado por Domingos Amaral às 11:30 | link do post | comentar
Terça-feira, 27.05.14

A austeridade é a mãe de todos os radicalismos

A dívida pública portuguesa voltou este ano a subir, e já ultrapassa os 130% do PIB.

Quanto mais pagamos, em juros e amortizações, mais devemos.

É a armadilha da dívida em todo o seu esplendor dramático, um local terrível para um país estar.

Mas, não era imprevisível, pelo contrário.

Quem tenha lido este blog, já sabe que houve dezenas de países que caíram nesta situação nos últimos cinquenta anos.

Perante uma forte recessão económica, os países optam por fazer austeridade dura, o que só agrava as suas contas, e mesmo que as exportações cresçam, não conseguem crescimento económico muito forte.

Assim, com a dívida já grande, o PIB cai com a austeridade, e a dívida no final é ainda maior.

Quanto mais se paga, mais se deve.

 

Foi quase sempre assim nas dezenas de "programas de ajustamento" que foram aplicados a muitos países por esse mundo fora.

E Portugal e Irlanda não são excepções.

Podem ter "regressado aos mercados", mas as suas dívidas públicas são hoje muito maiores do que eram há 4 anos atrás.

Se o problema era a "dívida excessiva", e foi com isso que se justificou a austeridade, o que dizer agora, que a dívida é maior do que era?

O que dizer agora, quando é agora bem mais difícil pagar a dívida do que era há quatro anos?

Há alguém que acredite mesmo que será possível Portugal e Irlanda pagarem esta dívida nos próximos 50 anos?

Mesmo que o nosso crescimento fosse superior a 4% ao ano, isso seria difícil, quanto mais com crescimento que anda à volta de 1% ao ano.

 

A verdade é esta: as políticas de austeridade não resultam.

Pelo contrário, só agravam a armadilha da dívida.

A confiança dos mercados é importante, mas não altera o essencial: a dívida assim não pode ser paga, é impossível.

Isto, já muitos sabiam há quatro ou cinco anos.

Krugman, De Grauwe, Soros, Stiglitz, até Rogoff, todos eles eminentes economistas, já tinham dito que isto ia acabar como está a acabar: com uma dívida ainda maior e mais difícil de pagar.

Porém, a Europa de Merkel e seus seguidores passou quatro longos anos obcecada pela "austeridade" e os resultados estão à vista.

Não há crescimento económico que se veja (excepto na Alemanha, claro); o desemprego alastra; a deflação é um perigo real; os partidos extremistas de direita ou de esquerda crescem; e há um desencanto geral com a Europa, que pode levar ao seu desagregamento.

E tudo isto para quê?

 

Basta olhar para os Estados Unidos para perceber qual devia ter sido o caminho.

Obama recusou-se a fazer austeridade, e limitou-se a aumentar os impostos aos mais ricos.

O FED está há quatro anos a ajudar a economia com estímulos monetários, e ninguém quer ouvir falar em austeridade.

Compare-se com o que aconteceu na Europa, com a austeridade draconiana, e com a inércia do Banco Central Europeu, e está explicado porque é que a Europa está à deriva, triste e paralisada. 

 

E Portugal está também paralisado, e com o sistema político à beira da desagregação.

É isto o que a austeridade faz aos países: mata-os por dentro.

Que depois nasçam monstros, ninguém se pode admirar.

As Marines Le Pen, as Auroras Douradas, o Beppe Grillos e outros, são os filhos bastardos da austeridade. 

A austeridade é a mãe de todos os radicalismos europeus, foi nela que eles se amamentaram.

Veremos o que acontece à Europa quando eles crescerem e forem grandes...

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:23 | link do post | comentar
Segunda-feira, 26.05.14

Estas eleições foram um desastre para Passos e Seguro

O país votou e uma coisa é certa: o centro-direita teve a maior derrota de sempre, em 40 anos de democracia.

PSD e CDS-PP, mesmo juntos, não chegam aos 30 por cento, o que é uma derrocada brutal.

Não é inesperada, mas talvez poucos pensassem que chegasse tão longe.

Aqui está a resposta a 3 péssimos anos de governação, carregados de erros graves e de falta de juízo.

Para regressar aos mercados, não devia ter valido tudo, mas para este Governo tudo valia e tudo se fazia.

Os portugueses deram uma resposta clara: estes senhores não prestam.

 

Porém, e essa é que é uma das relevantes surpresas, o PS é também um grande derrotado da noite.

Bem podem Seguro e Assis cantar vitórias de Pirro, a verdade é que, no momento mais negro do centro-direita, o PS em vez de ganhar votos, perde votos!

A queda do PS é quase tão forte como a queda dos partidos do Governo.

Seguro tem muito menos votos e percentagem do que Ferro Rodrigues, e mesmo do que o tão odiado Sócrates há três anos!

Em vez de ter conseguido criar uma onda positiva a seu favor, capitalizando nos erros do Governo, Seguro consegue a proeza de afastar gente do PS!

 

Que o Governo vai continuar, e vai continuar a governar mal, é certo, pois Passos não tem capacidade para mais.

Mas, que o PS não perceba que Seguro não é alternativa, é bem mais grave.

Estamos a um ano e pouco das legislativas, e uma vantagem tão curta como a que Seguro teve ontem não serve para nada.

Se a economia melhorar nos próximos meses, é mesmo provável que a coligação de centro-direita ainda recupere votos, e Seguro fica em cada vez pior situação.

A julgar pelos resultados de ontem, há ainda uma possibilidade de Seguro perder as eleições, o que parecia quase inimaginável há meses.

Como pode o PS aceitar que, com um Governo tão mau e tão impopular, o PS não encante ninguém?

Não estará na altura do PS perceber que não vai a lado nenhum com um líder tão fraco e tão incapaz de motivar o eleitorado?

 

É tempo pois dos socialistas refletirem.

Ao contrário do que ontem disse Assis e repetiu Seguro, a liderança do PS está em causa.

Com um líder tão incompetente, é tempo de pensar noutro.

Mais cedo do que se esperava, chegou a hora de António Costa.

Se o PS não perceber isso, depois não se queixe... 

publicado por Domingos Amaral às 10:35 | link do post | comentar
 

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