A "austeridade estruturalista" falhou ou está a resultar?

O título deste post é um bocado estranho, mas é mesmo necessário. Será que a mistura de austeridade com reformas estruturais está a resultar ou, pelo contrário, como dizem os críticos, está a falhar?

Bem, em primeiro lugar, explique-se o que é a "austeridade estruturalista". Este duplo palavrão pretende definir a crença que existe em muitos, europeus e portugueses, que uma mistura entre "austeridade" e "reformas estruturais" era o único caminho para sairmos da crise, europeia e portuguesa.

Como sempre defenderam Merkel, Schauble, Passos Coelho e Gaspar, só com a "austeridade" se recuperava a confiança perdida pelos investidores, e só com "reformas estruturais" se recuperava a competitividade das economias, como Portugal, Grécia e outras.

Mas, será que isto funcionou? Agora que a crise europeia parece ter amainado, e que Portugal já regressou aos mercados para uma primeira emissão de dívida, pode-se mesmo afirmar que a "austeridade estruturalista" deu bons resultados?

Comecemos pela crise do euro, ou crise das dívidas soberanas. Parece já evidente para todos que não foi a "austeridade estruturalista" que acabou com a crise de confiança no euro. Durante três anos, entre 2009 e 2012, a "austeridade estruturalista" não deu resultados, pelo contrário, só agravou a crise do euro. Os problemas começaram na Grécia, mas rapidamente alastraram a Portugal, Irlanda, Espanha e Itália.

Só quando o Banco Central Europeu disse que comprava dívida dos países, é que a crise amansou. E só quando a dívida grega foi perdoada em parte e reestruturada na outra parte, é que a crise do euro chegou ao fim.

Ou seja, e ao contrário da opinião da Alemanha e da Sra Merkel, só quando foi possível a intervenção do BCE e se aceitou o princípio do perdão ou da reestruturação se conseguiram bons resultados. A "austeridade estruturalista" perdeu claramente este combate.

E, na segunda frente de guerra, será que a "austeridade estruturalista" conseguiu vencer o combate? A resposta é não. Todos os países da periferia do euro estão em recessão. Portugal, Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, e mesmo França e Alemanha, criaram desemprego e perderam crescimento económico.

Sobretudo na periferia, não há qualquer sinal de que a crise económica esteja a abrandar. A crise financeira de desconfiança pode ter sido ultrapassada, mas a crise económica, o desemprego e a recessão, não acabaram.  

Por um lado, a "austeridade" foi forte demais, por outro as reformas estruturais demoram muito tempo a produzir resultados. Assim, as economias amargam numa anemia desagradável, e o desemprego não pára de crescer.

Por mais que os defensores de Merkel e Passos Coelho queiram cantar vitória, a verdade é que a "austeridade estruturalista" não mostra resultados muito animadores. O que não é novidade. Quem conheça a história económica dos últimos 40 anos, sabe que estes programas de "austeridade estruturalista" deram quase sempre maus resultados. Em 107 intervenções do FMI desde 1970, só 19 correram bem...Pena que ninguém tenha aprendido com a história.

 

publicado por Domingos Amaral às 14:33 | link do post | comentar