Quinta-feira, 14.02.13

O primeiro milhão do senhor Vítor Gaspar

O desemprego em Portugal não pára de crescer e vamos a caminho de ter 1 milhão de desempregados. Esta é a cifra oficial, pois toda a gente sabe que há muitos mais que nem sequer estão inscritos ou não procuram emprego.

Um milhão de desempregados. Convém refletir neste número, pois nunca antes aconteceu na história de Portugal estarmos com o desemprego tão alto. Convém perceber o que isto significa, em termos pessoais, económicos, políticos, sociais. E convém perceber que há responsáveis por isto estar tão mau.

O Governo diz que foi um "erro de previsão", e que o desemprego ainda vai subir antes de começar a descer, como se o desemprego fosse um foguete, atirado para o ar em noite de festa.

Mas, aquilo que o Governo nunca dirá é que este altíssimo número de desempregados são a prova mais do que evidente que toda a política de "austeridade estruturalista" falhou colossalmente. 

Este governo acreditou (e ainda acredita) que, carregando na austeridade e fazendo umas reformas estruturais, Portugal ia entrar nos eixos, e rapidamente seria transformado num novo país, com uma economia pujante e com grande ímpeto exportador. Não foi isso que aconteceu. A recessão caiu sobre nós e, como o resto da Europa também está a ser vítima de políticas semelhantes, já nem sequer as exportações nos safam!

Quem disser que tudo isto valeu a pena para voltarmos aos mercados, está completamente errado. Os mercados acalmaram por causa da intervenção do BCE e por causa do perdão de dívida à Grécia, e em breve também à Irlanda. Porém, a economia, a europeia mas sobretudo a dos países do Sul, como Portugal, estoirou pelo caminho, sufocada por doses cavalares de austeridade, e não vamos sair da recessão tão cedo.

Vítor Gaspar cometeu erros gravíssimos. Em vez de optar por cortar despesas do Estado logo em 2011, decidiu brincar aos ajustamentos, e desatou a sobrecarregar o país com impostos altos e a tentar cortar subísdios e pensões. O resultado não podia ser pior. O Estado não cortou na despesa, e a economia privada ficou de pantanas.

Um milhão de desempregados, senhor Gaspar, é essa a sua medalha de honra! Que desastre. 

publicado por Domingos Amaral às 09:47 | link do post | comentar
Quarta-feira, 13.02.13

O homem que se esqueceu (uma única vez!) do Dia dos Namorados

Aquilo nunca lhe tinha acontecido na vida, mas dessa vez esqueceu-se mesmo do Dia dos Namorados. No passado, com outras namoradas ou mesmo com a atual, nunca se esquecera. Comprava sempre uma "lembrancinha", como ele dizia a brincar aos amigos, só para mostrar às raparigas que gostava delas.

Mesmo que já estivesse com a cabeça noutra, era melhor comprar um presentinho, ser simpático, para não as decepcionar naquele dia. É que, apesar do Dia dos Namorados não ter um significado especial para ele, a verdade é que para as mulheres parecia ser um dia fundamental, com um estatuto semelhante ao Aniversário Dela e ao Natal!

Porém, naquele ano esqueceu-se. Eles já namoravam há seis anos, e estavam numa espécie de limbo, entre a possibilidade de casarem em breve, sempre vaga, e a possibilidade de o namoro perder gás, raramente falada. Talvez isso tenha sido importante. Nesse dia chegou a casa (eles já viviam juntos no apartamento dele), só pousou o casaco e depois foi dar-lhe um beijo, mas não disse nada mais, a não ser um vago:

- Apetece-me tomar um duche.

Ela ficou a olhar para ele, intrigada. Estaria ele a gozá-la? Teria o presente no bolso do casaco? Teria vindo a casa à hora do almoço, esconder o presente no armário? Decidiu sorrir-lhe e perguntou:

- Correu bem o dia? 

Ele soltou umas frases sem grande sentido, referiu reuniões, conversas, nada de importante. E deve ter mudado de ideias quanto ao duche, pois sentou-se no sofá, acendeu a televisão e começou a ver um jogo de futebol, Liga dos Campeões. Ela nem queria acreditar, mas antes de começar a criticá-lo, coisa de que ele se queixava muito, decidiu respirar fundo e ser paciente.

- Não queres ir jantar fora? Apetecia-me...

Ele nem olhou para ela, mas fez uma careta de enfado e resmungou:

- Hoje? Não podemos ir no sábado? Estou cansado.

Ela arqueou a sobracelha:

- No sábado?

Depois sorriu. Percebeu finalmente que ele se tinha mesmo esquecido do Dia dos Namorados, e ficou subitamente triste. Deu uma meia volta brusca e foi em passo apressado para o quarto, onde se deitou em cima da cama, irritada. Meia hora depois, (sim, só meia hora depois, no intervalo do jogo da Liga dos Campeões!), é que ele apareceu à entrada do quarto, e lhe perguntou o que se passava. Ela nem olhou para ele, mas murmurou:

- Esqueceste que dia é hoje?

Ele ficou abalado, como se tivesse sido apanhado em contrapé. Pensou no aniversário da mãe dela, do pai, da irmã, e também nos aniversários da sua família, mas ninguém fazia anos hoje, nem ela, que só fazia em Setembro.

Ela suspirou, desolada, vendo que ele não se lembrava mesmo:

- É dia dos Namorados.

Nesse momento, ele percebeu que estava tramado, e nem lhe passou pela cabeça mentir. Tinha-se mesmo esquecido, explicou. As reuniões, os telefonemas, o stress, tudo tinha conspirado para ele deixar passar a data!

Durante uns segundos, ela ainda acalentou a secreta esperança de que tudo aquilo não passasse de teatro, e de que ele no fim, já depois de a ter levado ao desespero, a surpreendesse com um presente. Contudo, essas coisas só acontecem nos filmes e às outras, pensou ela, minutos mais tarde.

O seu namorado tinha mesmo esquecido o Dia dos Namorados, e não havia volta a dar! Por mais que ele pedisse desculpa, ela não queria acreditar que isto lhe tinha acontecido. Era uma facada no coração. Logo neste dia, onde se vêem corações por todo o lado, ele tinha cortado o coração dela ao meio. 

Então disse:

- Isto é grave...

Ele ficou meio aparvalhado. Balbuciou mais desculpas, e tentou defender-se. Caramba, não era assim tão grave, ela não devia dar tanta importância, fora apenas um esquecimento, ele podia emendar a mão, que tal irem jantar fora? Ela sorriu, mas foi um sorriso cínico, e quando o viu ele percebeu que estava mesmo tramado:

- Eu não devia dar "tanta importância"? Quer dizer, o meu namorado esquece-se de mim, e eu não devia dar..."tanta importância"? 

Ele ficou calado, atrapalhado, e ela continuou:

- Tu gostas mesmo de mim?

Ele jurou que sim, e disse-lhe que fora apenas uma falha, uma falta de memória. Ela sabia como ele era, distraído. Ela comentou, desapontada:

- Distraído?

Olhou para ele, muito séria, e disse:

- Se calhar, a nossa relação já não faz muito sentido...

Pronto, agora ela queria falar da relação, e ele apostava que daqui a cinco minutos ia falar no casamento, se queriam ou não casar! Óh, meu Deus, porque é que as mulheres eram assim? Porque é que uma mera omissão, uma falha pequena, punha tudo em causa? Será que ela não podia perdoar-lhe este erro?  Ele sugeriu que fossem ao Colombo, ou às Amoreiras, ele comprava-lhe um presente bonito, ela que colocasse um casaco depressa, e depois iriam jantar! 

Ela olhou para ele, e como era boa pessoa e gostava dele, decidiu perdoar-lhe. Ele parecia genuíno, no seu arrependimento pelo esquecimento, e interessado em emendar a mão. Mas, como é que se esquece um esquecimento destes? Como é que se aceita uma coisa destas? Ela não fazia ideia, e ainda hoje não faz. Já passaram vários anos, eles continuam namorados, não se casaram mas também não foi cada um para seu lado, e talvez por isso ela continua a recordar aquele dia em que ele se esqueceu do Dia dos Namorados.

Já ele, continua a pensar que as mulheres adoram receber presentes, seja em que dia for, e obviamente o Dia dos Namorados transformou-se num dia de "expectativa altíssima", cujas esperanças não podem ser frustradas, até porque tal falhanço traz associado o terrível perigo do fim do amor. Portanto, o melhor mesmo é um homem não se esquecer dessas coisas. 

 

PS: E para quem está a precisar de sugestões para presentes do Dia dos Namorados, aqui deixo duas, enviadas por mão amiga. Um relógio da Swatch e umas pulseiras da marca americana Alex and Ani. Mensagens de amor perfeitas e que não nos deixam ficar mal. 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:56 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Segunda-feira, 11.02.13

Aconteceu numa festa de Carnaval

Ele tinha pensado muito sobre o assunto. Deveria ir vestido de Flash Gordon ou de Indiana Jones? O primeiro estava um bocado fora de moda, o que era bom pois assim não haveria outros mascarados iguais. Já Homens-Aranha, Batmans e Darth Vaders iria haver aos montes, estão sempre na moda.

Indiana Jones era uma opção forte, devido ao chicote. Dá sempre jeito um chicote numa festa de Carnaval, embora no caso dos homens fosse necessário alguma prudência, pois as pessoas admitem que uma mulher chicoteie homens, mas o contrário nem sempre é bem aceite. 

De repente, lembrou-se: podia ir de Christian Grey, o famoso herói das "50 Sombras de Grey"! Assim estava na moda e podia levar chicote! Aliás, podia mesmo chicotear, pois ao herói literário do ano tudo era permitido, incluindo dar palmadas no rabo das senhoras. Que melhor máscara de Carnaval do que essa?

O pior foi que, quando chegou à festa, descobriu que existiam imensos Christian Greys como ele. Havia quase tantos como mascarados de animais. Se somasse os elefantes com os gorilas, os macacos e os Rei Leões, todos juntos eram um pouco mais que Christian Greys, mas andavam lá perto. 

No meio da festa, viu passar um Flash Gordon, impecável no seu fato encarnado e amarelo, e arrependeu-se por querer estar tanto na moda. Foi a correr ao bar, tentar afogar as mágoas em vodka, mas foi ao balcão que tudo mudou, quando viu a Pequena Sereia. Tinha um sorriso radioso, escamas no corpo todo e parecia perdida naquele oceano de fantasias compradas em lojas chinesas.

Então, ele aproximou-se e disse-lhe:

- Sempre quis conhecer uma Sereia.

Ela arqueou as sobrancelhas, surpreendida:

- Desculpa?

Ele explicou que ela estava vestida de Pequena Sereia, era esse o filme a que ele se referia. Ela desatou a rir e explicou que não estava de Pequena Sereia, mas sim de Dolly, a amiga do Nemo. 

Ele corrigiu-a:

- Dory.

Ela piscou os olhos:

- Desculpa?

Ele explicou:

- Chamas-te Dory e não Dolly.

Ela riu-se muito e disse:

- Isso...Sabes, é que eu sou muito esquecida, uns segundos depois já não me lembro do que disse...

Ele percebeu finalmente que ela estava a brincar com ele, o que era um bom sinal, e então perguntou:

- E eu, de que é que estou vestido?

Ela olhou-o muito rapidamente e perguntou:

- Trouxeste o avião? 

Ele ficou por momentos sem perceber e então ela revirou os olhos e explicou:

- O que distingue o Christian Grey dos outros é o avião, não é o chicote. Chicote qualquer um arranja, agora um avião é mais difícil. 

Ele ficou a olhar para ela, e depois deu um gole no vodka, tomou coragem e disse:

- Por acaso, estava a pensar num voos nocturnos. Uns loopings, e coisas assim...Gosto especialmente dos voos picados... À noite, são momentos espectaculares...

Ela olhou para ele, espantada. Abriu muito os olhos e perguntou:

- E espirais invertidas, sabes fazer?

Ele sorriu-lhe e disse, em voz mais cavada:

- Especialmente em voos rasantes...

No dia seguinte, quando ele saiu da casa dela, ia contente. Acertara em cheio na máscara, o Christian Grey fora infalível, tiro e queda. 

Já ela, quando acordou, não se lembrava de nada. 

publicado por Domingos Amaral às 10:52 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 08.02.13

A Irlanda também já teve o seu perdão de dívida

Depois da Grécia em Dezembro, foi agora a vez da Irlanda. Hoje, foi aceite pelo Banco Central Europeu um monumental reescalonamento da dívida da Irlanda, o que na prática significa um perdão e um adiamento do pagamento de muitos milhões de euros em juros.

Mais de três anos depois da crise financeira do euro ter começado, a Europa aceitou finalmente fazer aquilo que muitos, desde 2009, diziam ser essencial: reestruturar a dívida pública dos países que estavam com excesso de dívida.

Foram precisos três anos para a lenta Sra Merkel aceitar o óbvio: a dívida da Irlanda, tal como a da Grécia e a de Portugal, e provavelmente também a de Espanha, não é pagável com austeridade, e só renegociando a dívida, e com os credores a aceitaram certas perdas e adiamentos longos de pagamentos, é que a situação se podia resolver.

Há três anos, ninguém aceitou este princípio de bom senso, e a Alemanha obrigou a programas de austeridade duríssimos, que obviamente não tornaram os países capazes de pagar as suas dívidas. Não é com milhões de desempregados que se pagam as dívidas excessivas dos países, e a austeridade desmiolada que se praticou provocou uma crise grave na Europa.

Agora, tanto a Grécia como a Irlanda já conseguiram renegociar a dívida. Só falta Portugal. Contudo, o nosso Governo parece bem mais determinado em prosseguir a austeridade fortíssima do que em renegociar a nossa dívida. Passos Coelho e Gaspar não param de falar na necessidade imperiosa de cortar 4 mil milhões de euros em despesa do Estado.

Ora, pergunto eu, porque não renegociar a dívida e baixar a fatura altíssima de juros? Se a Irlanda e a Grécia já o fizeram, porque não o faz Portugal? E, já agora, que sentido faz cortar 4 mil milhões de euros em despesas sociais quando se gastam quase 14 mil milhões nos nossos bancos? A austeridade não se aplica à banca e aos banqueiros?

publicado por Domingos Amaral às 17:45 | link do post | comentar
Quinta-feira, 07.02.13

O sexo tem de ser barulhento?

Ontem à noite, tive uma estranha experiência sexual, tipo filme porno sem imagens, mas com som. Eu estava a dormir num hotel na Covilhã, e tudo se passou no quarto ao lado do meu.

Fui à região participar nuns encontros de escrita, com alunos das escolas da Guarda e da Covilhã, encontros esses que foram muito bem sucedidos.

À noite, já sozinho no quarto do meu hotel, e quando já passava bem da meia-noite e acabara de apagar as luzes, de repente, começo a ouvir estranhos barulhos no quarto ao lado... 

A princípio, eram apenas pancadas secas e soltas, como se alguém estivesse a arrastar móveis. Mas, aos poucos, as pancadas secas adquiriram um ritmo mais permanente, e logo a seguir comecei a ouvir gemidos de mulher. Sim, uma mulher soltava uns "ahn, ahn, ahn", e é evidente que se tornou claro para mim o que estava a acontecer. 

Alguém se estava a divertir, e a passar uns bons momentos! E não estavam com pressa! Ao fim de dois minutos eu já estava curioso para saber algumas coisas mais. Iriam os gritos durar quanto tempo? Quanto tempo demoraria a "ahn, ahn, ahn" a atingir o seu climax e a deixar-me adormecer em paz?

Além disso, outra dúvida surgira no meu espírito. Porque é que só a mulher é que gritava? Pelo barulho das pancadas ritmadas, (devia ser a cabeceira da cama a bater na parede), parecia-me óbvio que ela não estava sozinha, devia estar acompanhada por um homem. Mas, porque é que ele estava tão silencioso? 

Outra coisa que me intrigou foi que eles não falavam. Ela gemia e gritava "ahn, ahn, ahn", mas isso como sabemos é uma linguagem internacional que toda a gente conhece mas não é uma língua. Que nacionalidade tinham os sortudos? Seriam portugueses? Ou espanhóis? Na Covilhã estamos muito próximos das fronteira, e poderiam ter lá ido à serra!

Também era impossível determinar a idade. Os "ahn, ahn, ahn" da senhora não davam para entender se ela teria 20, 30 ou 40 anos, ou até mais. Os ruídos são semelhantes, qualquer que seja a idade. E como o sócio era silencioso, também não dava para perceber que idade teria. 

Mas, a coisa durava. Quatro minutos já e o "ahn, ahn, ahn" da senhora mantia-se, sempre no mesmo registo, nem alto nem baixo, nem acelerado nem a diminuir. Muito velhos não deviam ser, mas também não deviam ser muito jovens, pois esses costumam um bocado apressados!

Ao quinto minuto de "ahn,ahn, ahns" eu já estava a ficar um bocado farto daquilo...Será que isto nunca mais acaba? Será que não tem ponto alto? Onde estão as gritarias, os palavrões porcos, os "oh meu Deus!", e outras coisas do género que toda a gente vê nos filmes? 

De súbito, ouve-se finalmente o ronco do macho. Foi uma coisa rápida, um único "uuuuhh", que acabou quase imediatamente depois de ter começado, o que confirmou tratar-se mesmo de um exemplar silencioso. Mas, ao menos ele teve um pico.

Já ela, o que também me surpreendeu deveras, esteve mais de cinco minutos no "ahn, ahn, ahn" mas depois calou-se subitamente. Não houve sequer aquela aceleração típica que precede o orgasmo, nem ouve um aumento do volume, gritos mais altos, mais "AHN, AHN, AHN" e menos "ahn,ahn, ahn". Nada disso, a coisa perdeu velocidade e depois puf, acabou.  

Franzi o sobrolho. Isto não era o habitual. Normalmente, há uma explosão final, mas naquele caso não existiu. Foi bastante duradouro, quase seis minutos de gritos femininos, mas um bocado desapontante no fim. Quer dizer, nós estamos habituados a esperar que o sexo seja barulhento e que tenha um climax final, mas... 

O que se terão eles dito um ao outro a seguir? Foi bom, mas? Eu acho que faltou qualquer coisa, não me satisfez totalmente enquanto espetador sonoro. Uma pessoa habitua-se ao sexo mais barulhento, e depois uma coisa destas desaponta um pouco. Portanto, na escala de 0 a 20, decidi atribuir àquele casal apenas um 14. Sem gritos, aceleração e climax forte, não mereceram mais!

publicado por Domingos Amaral às 16:42 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 06.02.13

O amor é um estado de alarme

O amor alarma-nos, mesmo depois de acabar. Ficamos sempre aflitos quando vemos alguém que um dia amámos, nervosos, independentemente do tempo que já passou desde o fim desse amor.

Há quem comece a suar das mãos, ou debaixo dos braços, quem lhe trema os joelhos ou lhe doa a barriga, e quem finja que não sente nada, que é cool e não sofre disso, mas é mentira.

Aquela pessoa foi importante para nós, amámo-la um dia, demos as mãos, abrimos os braços à espera dela, e isso deixa marcas, não se apaga. Se mesmo quando o amor é correspondido as pessoas ficam aflitas, imagine-se quando já não é, e só existem memórias do passado, para nos perturbar.

Foi o que aconteceu com aqueles dois. Tinham passado talvez quatro anos desde o dia em que o amor deles tinha acabado e cruzaram-se por acaso, no Chiado. Ele tinha ido à FNAC, ela ao Santini, e encontraram-se na rua, no meio de uma azáfama permanente de gente que entrava e saía das lojas.

Ela começou a suar, e ele sentiu um nó na garganta. Deram um beijo à pressa, fizeram aquelas perguntas da praxe que se fazem nestas alturas, o "tudo bem?" e essas coisas, mas por dentro estavam perturbados.

O amor deles tinha sido intenso, aventureiro, cheio de cama e idas ao cinema, jantares à luz das velas e essas coisas românticas que ninguém esquece mas que não decidem nada de importante. Foi bom enquanto durou, mas não durou muito. 

Ele não sabe bem porquê, acha-a gira, gosta da conversa dela, do nariz arrebitado, da suavidade da voz, das pestanas e das sobrancelhas dela. Ela sabe porque é que aquilo acabou, mas isso não a faz sentir melhor. Sente-se triste por um segundo, como se tivesse perdido a melhor coisa do mundo, como se as outras é que tivessem tido sorte.

Vão falando, sem dizer nada de importante, e continuam incomodados. Depois despedem-se, e nesse dia à noite contam mentiras aos amigos e às amigas, dizem que se cruzaram no Chiado e que o outro é que estava nervossímo, e nunca irão reconhecer que ficaram alarmados por dentro, por uns minutos.

Já não amam, já não se podem amar, há outras pessoas mais importantes nas suas vidas, mas continuam alarmados quando se vêm, e assim continuarão para sempre, porque o amor alarma sempre, mesmo quando já passou muito tempo desde que acabou. 

Cruzarmo-nos com os amores do passado nem sempre é um perigo para os nossos amores do presente, mas é sempre um perigo para o nosso coração, e sobretudo para o nosso sistema nervoso. Porém, há quem finja que não. 

publicado por Domingos Amaral às 09:50 | link do post | comentar
Terça-feira, 05.02.13

Bye bye Godinho

Finalmente, Godinho Lopes demitiu-se. Por pura teimosia, o presidente do Sporting tentou a todo o custo ficar e resistir, mas acabou por render-se às evidências e atirou com a toalha ao chão. 

Com o clube à beira de um golpe de Estado, e com uma Assembleia Geral explosiva marcada para o próximo sábado, Godinho fez bem em não esticar mais a corda. Até porque, como há já mais de um ano se percebeu, Godinho não é um bom presidente de um clube de futebol, e não é suficientemente competente para lá ficar mais tempo.

O mais grave erro de Godinho Lopes foi ter despedido o treinador Domingos quando o Sporting até não estava a jogar mal, já se tinha qualificado para a final da Taça de Portugal, além de ir com uma boa carreira na Liga Europa. A partir desse momento, nunca mais Godinho Lopes agarrou o clube.

Despedir treinadores dá sempre mau resultado. Em trinta anos, o Sporting teve 45 treinadores diferentes! Mais instável que isto, é impossível. Esta época, e ainda só vamos a meio, já vai no quarto treinador: Sá Pinto, Oceano, Vercauteren e Jesualdo. Ora, isso é uma receita para o desastre, e o desastre está a dar-se aos olhos de todos.

A partir do despedimento de Domingos, foi sempre a descer. Casos com Pereira Cristóvão, despedimentos de Sá Pinto, Duque e Carlos Freitas, e uma solidão cada vez maior do presidente. A bóia de salvação chamada Jesualdo, a que Godinho se agarrou, não resultou, e naturalmente os sócios do clube não aguentam mais tanto sofrimento.

Além disso, há o buraco financeiro. O Sporting tem pouco dinheiro? Não é bem verdade, pois o Sporting tem muitos adeptos e até tem tido muita gente no estádio, e Godinho investiu muito quando chegou. O problema é que o dinheiro é sempre mal gasto, e Godinho gastou muito mal o muito que teve disponível.

Portanto, venha o próximo, a ver se faz melhor.  

publicado por Domingos Amaral às 11:18 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Um bom vídeo da Tommy Hilfiger

Já aqui escrevi que a Tommy Hilfiger é uma das marcas que mais gosto, e agora ainda tenho mais razões. O novo vídeo da campanha da Tommy é óptimo, um "webisobe" com um set de música de Estelle Janelle Mónae, dirigido por Peter Glanz e que mostra "the Hilfigers" num barco, em ambiente descontraído e simpático. Mais uma boa ideia da marca. 

 

Veja aqui o víedo: http://youtu.be/ZHzB_0SIkXA
publicado por Domingos Amaral às 10:30 | link do post | comentar
Segunda-feira, 04.02.13

Ulrich é a Pepa Xavier da nossa banca

Fernando Ulrich está a candidatar-se a grande provocador do ano. Primeiro foi o célebre "aguenta", e agora, não satisfeito com a primeira calinada, lá veio a segunda, comparando os portugueses a "sem-abrigos"! Isto de ser banqueiro e rico, ao que parece estraga a cabeça de uma pessoa. 

Eu tenho um problema com os provocadores. Quando oiço Arménio Carlos, o líder da CGTP, a falar em "roubos", "greves" ou "direitos adquiridos", apetece-me logo ser de direita liberal, e mandá-lo bugiar.

Mas, quando oiço Fernando Ulrich, a dizer que o país "aguenta" mais austeridade, e que se os "sem-abrigo aguentam os portugueses também aguentam", apetece-me logo ser do MRPP e desatar a pintar paredes contra o grande capital.

Os provocadores despertam em mim instintos destes, opostos, e Ulrich, que parece um homem inteligente, não resiste a falar demais, e não teve o bom senso para sequer lamentar a sua primeira declaração.

Ele podia lamentar-se, dizer que o primeiro "aguenta" não lhe saiu bem. Um pouco de humildade não lhe fazia mal. Nada disso. Em vez de recuar, insiste e espalha-se ao comprido. Então agora os portugueses são tipo "sem-abrigos"? Sim, senhor, muito bem visto, muito fino o raciocínio do nosso Ulrich.

Um pouco antes da Revolução Francesa, a rainha Maria Antonieta ficou célebre também pela sua falta de lucidez. Quando lhe vieram dizer que o povo, nas ruas, estava faminto e pedia pão, ela arqueou a sobrancelha e perguntou: "E porque é que não comem brioches?"

Ulrich, obviamente, não é nenhuma Maria Antonieta, nem vai acabar guilhotinado, mas lá que entrou para o Top 2013 do ridículo, ai isso entrou. Com a sua declaração sobre o povo e os "sem-abrigo", Ulrich esteve à altura de uma verdadeira Pepa Xavier da banca nacional. Só faltou o tom de voz queque... 

publicado por Domingos Amaral às 11:41 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Sexta-feira, 01.02.13

Joana Vasconcelos, a portuguesa genial

Portugal não tem muitos génios. Somos poucos, e onde há pouca gente há poucos génios. Homens ou mulheres.

Mas, há alguns. Joana Vasconcelos é um génio, a melhor artista plástica que Portugal viu nascer em muitas décadas, quem sabe a melhor de sempre. As suas obras já são mundialmente aclamadas e reconhecidas, e expõe em todo o mundo, do Japão a Veneza, de São Paulo a Moscovo.

Agora, soube-se que a sua exposição recente em Versailles foi a mais visitada em Paris desde 1960. Foram 1 milhão e 600 mil os visitantes da nossa Joana, que entrou direta para o primeiro lugar do top das 5 exposições mais visitadas em Paris, que inclui por exemplo os nomes de dois pintores mundialmente famosos, como Claude Monet (está em 4º lugar) ou Dali (está em 5º).

Para além da sua extraordinária criatividade, há uma qualidade que eu aprecio particularmente em Joana Vasconcelos. Ela raramente fala. É muito raro dar entrevistas, e falar sobre si, sobre a sua arte ou sobre as questões do mundo.

Como é uma artista genial, Joana Vasconcelos não precisa de comunicar connosco através de palavras. A sua arte chega, e fala mais alto que qualquer frase que ela possa dizer.

É essa humildade verbal, esse apagar do ego e da visibilidade da artista, que catapulta ainda com mais força o valor da sua arte. Os génios são assim, não precisam de nos cansar com palavreado inútil, mas tocam-nos na alma com aquilo que nos mostram, e mudam, de um momento para o outro, a nossa percepção do mundo.

Obrigado por ser como é, Joana Vasconcelos.

publicado por Domingos Amaral às 17:16 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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