Terça-feira, 20.11.12

Os "Zandingas" e as "Mayas" da Economia

Os seres humanos sempre adoraram prever o futuro, e quem o consegue conquista um poder especial, quase divino. Os druidas gauleses observavam as entranhas dos peixes, a Nancy Reagan consultava uma cartomante, os meteorologistas avisam o tempo dos próximos dias, os espectadores matinais da SIC escutam os horóscopos da Maya, e os economistas do mundo inteiro fazem previsões sobre 2013 e 2014. 

Para enfrentar a ansiedade da vida, nada melhor do que uma crença positiva sobre os dias de amanhã. Será que vai chover? Consulte-se o weather.com. É amanhã que ela vai descobrir o amor da sua vida? Ela é Peixes, e diz na revista que a próxima semana é fundamental no Amor! Ele irá ser bem sucedido na operação aos intestinos? A carta do Tarot anunciava um bem-estar radioso! Será que Portugal vai crescer em 2014? A previsão do Governo diz que sim, 0,8 por cento!

O problema do futuro é que há cada vez mais gente a tentar prevê-lo! Nas sociedades primitivas, esse poder era exclusivo dos sacerdotes, que mandavam matar quem os desafiasse. Com o tempo, o número de druidas cresceu exponencialmente, e hoje é escusado esventrar animais ou esfregar bolas de cristal, há modelos matemáticos que não sujam as mãos nem nos fazem passar por charlatão.

Só que, havendo tantos a prever o futuro, quem tem razão? Sim, é a Maya ou é o professor Bamba? Será o Tarot mais eficaz que o horóscopo Chinês? Será o weatherchannel mais preciso que o Instituto de Meteorologia? E quem está mais perto da verdade, nas suas previsões para 2013: o Banco de Portugal, o Governo ou o FMI?

Há umas décadas, na semana anterior a qualquer passagem do ano, os jornais publicavam as previsões dos astrólogos para o ano seguinte. Foram os tempos do saudoso Zandinga e de outros personagens semelhantes. Hoje, já não há Zandinga, mas há a OCDE, a União Europeia, o Conselho Económico Social, e muitos outros organismos capazes de nos adivinharem o futuro. 

Mas quem é o melhor Zandinga da economia? Por exemplo, em 2013 o PIB poderá retrair-se 1 por cento (Zandinga do Governo); 1,6 por cento (Zandinga do Banco de Portugal); ou 2 por cento (outro Zandinga qualquer, cujo nome agora não recordo, mas que não era a Maya nem o professor Bamba). E o deficit poderá ser de 4%, 5%, 4,5%, ou mesmo 3,5%, consoante se consulte a cartomante de Berlim ou a de Bruxelas.

No final do dia, é natural que os portugueses estejam um pouco confusos. A guerra das previsões económicas é uma guerra feroz, onde cada druida tenta ganhar ascendente sobre os outros, provando que andou mais perto da verdade. Na realidade, o que isso interessa? Em 2013 já ninguém se vai importar com as previsões feitas um ano antes, e toda a gente já estará a consultar a Maga Patalógica para saber o que vai acontecer em 2014, ou mesmo em 2015.

E amanhã, será que vai mesmo chover? Pelo seguro, como dizia a minha avó, é melhor levar o guarda-chuva.    

 

publicado por Domingos Amaral às 11:34 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quem percebe Mário Soares?

Por mais que tente, não consigo perceber Mário Soares e a sua costela de agitador. Uma vez por semana, lá aparece o antigo presidente da República a proclamar que o Governo se deve "demitir". Quem o ouve tem a sensação que, se ele pudesse, saía à rua para mandar uns gritos contra o poder. Soares é o radical de salão do momento, que não lança pedradas mas frases bombásticas.

Ontem, proclamou que "não percebe porque é que o Governo não se demite". Com o devido respeito que se deve a um fundador da nossa democracia, o que eu não percebo é porque é que ele não percebe. 

As razões para o Governo não se demitir são fáceis de entender. Por mais que estejamos contra a política deste Governo (e eu estou, em especial contra a fórmula da austeridade escolhida por Vítor Gaspar), convém não esquecer que ele foi eleito democraticamente, há pouco mais de um ano e meio, e tem toda a legitimidade política para governar, mesmo que o faça mal. 

Em democracia, e Soares sabe isso melhor que ninguém, a legitimidade política pode-se esgotar por muitas razões, mas manifestações, greves gerais e sondagens que dão o PS à frente do PSD, não estão entre as razões desse esgotamento. Só se, por algum motivo, as instituições deixarem de funcionar, é que há uma crise de legitimidade, mas isso não aconteceu ainda. 

Além disso, a mim espanta-me que Soares venha agora espernear contra o "memorando da troika", quando sempre se orgulhou de ter sido ele que, numa conversa telefónica, obrigou José Sócrates a pedir o resgate de Portugal. Assim sendo, Soares é um dos responsáveis pela "troika" ter aterrado na Portela em 2011, e portanto devia lembrar-se disso, em vez de andar por aí a barafustar.

Mas pronto, Soares sempre foi assim. Quando esteve no poder, meteu o socialismo na gaveta e foi um "socialista amoroso" que não assustou ninguém. Quando está fora do poder, transforma-se num radical de esquerda. É giro, mas difícil de perceber. 

publicado por Domingos Amaral às 11:04 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 19.11.12

A nossa dívida vai mesmo ser paga?

Será que os países que têm grandes dívidas externas as conseguem pagar? Para responder a esta questão, nada melhor do que ler o livro "This Time is Different, Eight Centuries of Financial Folly". Escrito pelos economistas Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, é um magnífico trabalho sobre crises de dívida, crises de inflação, crises cambiais e crises bancárias, em mais de 200 países, durante os últimos 800 anos, e só é pena não estar ainda publicado em português.

A sua leitura, que terminei este fim de semana, é também um verdadeiro duche de água gelada para quem tenha ilusões sobre as crises financeiras, em qualquer país do mundo, seja ele europeu, americano do norte ou do sul, asiático ou africano. Se há coisa em comum entre os países, sejam pobres ou ricos, é que em oito séculos, todos foram atingidos por muitas crises financeiras, e quase todas elas acabaram da mesma maneira.

Quais são os principais ensinamentos desta investigação? Reinhart e Rogoff demonstram que as graves crises financeiras provocam profundas quedas no PIB (em média mais de 9 por cento, ao longo de vários anos); aumentos acentuados do desemprego (em média, mais de 7 por cento); quedas no preços do imobiliário (cerca de 35 por cento, em média); e fortes quedas nas bolsas (de 56 por cento no preço das ações, em média).

Mais grave ainda, o valor das dívidas dos governos tende a explodir durante estas crises, aumentando cerca de 86 por cento face à dívida anterior à crise, devido aos custos de resgates aos bancos e à recapitalização do sistema bancário, mas também devido ao inevitável colapso das receitas fiscais dos Estados, que fazem os deficits orçamentais aumentarem consideravelmente, entre 3 a 15 pontos percentuais. 

Evidentemente, o risco soberano dos países cresce muito, bem como a aversão do capital estrangeiro a esses países durante as crises, cujo tempo de duração pode chegar por vezes aos 10 anos, como foi o caso na Grande Depressão, que começou em 1929 e só terminou com a 2ª Guerra Mundial.

E, para que não alimentemos ilusões, Reinhart e Rogoff mostram que são raríssimos os casos dos países que conseguiram pagar a sua dívida externa através de políticas de austeridade, ou de crescimento pela via das exportações, pois normalmente estas crises financeiras são globais e nenhum país consegue exportar muito quando todos os outros estão também em crise, como acontece no presente.

Qual é então a solução? Reinhart e Rogoff defendem que a solução mais eficaz é a reestruturação da dívida, ou renegociação, com um default parcial, pois é a única maneira de libertar as economias de um fardo tão pesado. Nos casos em que isso se verificou, o tempo de recuperação das crises foi muito menor. Ao fim de 2 ou 3 anos, os países saíram da crise, em vez de permanecerem 8 ou 10 anos num marasmo agonizante.

No caso europeu, a necessidade de reestruturação é já evidente em Portugal, mas também na Irlanda, em Espanha e em Itália, para não falar na Grécia. Foi isso aliás que Reinhart disse por video-conferência na passada sexta-feira, a uma plateia de importantes banqueiros portugueses, entre os quais o Governador do Banco de Portugal. "Não tenho boas notícias para vós", foi a sua frase inicial. 

Infelizmente, Merkel, Passos Coelho e Gaspar continuam obstinadamente a acreditar em milagres, e a crise europeia prolonga-se sem fim à vista. Convinha que alguém lhes dissesse que, em 800 anos de história, não se conhecem milagres económicos destes, e que se paga um preço altíssismo e inútil por teimosias deste calibre.   

publicado por Domingos Amaral às 11:45 | link do post | comentar
Sexta-feira, 16.11.12

O Bom do Álvaro

Nunca percebi porque é que a imprensa e a maioria dos comentadores não gostam de Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia. Para mim, é dos poucos ministros que tem trabalhado bem, tal como Nuno Crato e Paulo Macedo, que sem ondas lá vão levando a água ao seu moínho nestes tempos difíceis. Mas, enquanto esses dois passam entre os pingos da chuva, já Álvaro (trato-o assim porque ele gosta) está sempre a levar pancada e eu sinceramente ainda não percebi porquê.

Em um ano e meio, Álvaro já conseguiu muitas coisas, além de ter boas ideias. Começemos pelas primeiras. Conseguiu rever a lei laboral, com a aprovação do PS, da UGT e dos outros parceiros de concertação, deixando a CGTP sozinha. Conseguiu renegociar muitas das PPPs, poupando com isso muito dinheiro aos contribuintes. Conseguiu renegociar as "rendas excessivas" das empresas abastecedoras da electricidade, poupando ainda mais dinheiro a todos nós. Também tem conseguido relançar a indústria mineira do país, e tem apoiado bastante os exportadores portugueses.

Além disso, já lançou boas ideias. O programa PME Digital é uma delas, a redução da taxa de IRC para as empresas que investirem é outra, e a aposta na "reindustrialização" é uma visão nova e absolutamente necessária para Portugal. Veremos se ele consegue levar estas ideias avante, mas lá que são boas, lá isso são.

A bem dizer, a única coisa com que não estou de acordo com Álvaro é o desinteresse nas energias renováveis, especialmente nas "eólicas". Sendo Portugal o 10º país do mundo com mais aproveitamento da energia dos ventos, essa devia ser uma aposta a manter e não a deixar cair, mesmo que se tenha de rever o modelo de negócio pelo caminho.

É talvez por ter tão boas ideias que se diz para aí que Álvaro está isolado no governo, e que sempre que se fala em remodelação ele é um dos primeiros a ser apontado. Na verdade, num governo tão marcado pela linha dura dos "austerianos", que tem em Gaspar o seu paladino, é natural que um homem com ideias alternativas às de Gaspar pareça um corpo estranho, e estejam sempre a enxotá-lo para fora do barco. Mas isso não significa que seja mau ministro, bem pelo contrário.  

publicado por Domingos Amaral às 16:24 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 15.11.12

Dont Give Up, You Still Have Friends

Ontem, lembrei-me de Peter Gabriel e de Kate Bush, e do seu lindíssimo dueto "Dont Give Up" (http://www.youtube.com/watch?v=uiCRZLr9oRw). Ouvi na televisão que em Portugal já existem mais de 1 milhão e 400 mil portugueses desempregados e pensei nesta bela canção pois ela é sobre o desemprego, sobre os homens e as mulheres que se sentem perdidos sem trabalho. 

Peter Gabriel, o homem desempregado, começa por nos falar de uma "terra orgulhosa onde nós crescemos fortes", onde sempre fomos queridos, e onde "nos ensinaram a lutar e a vencer", até ao dia em que um homem descobre que "pode falhar", um homem cujos sonhos desertaram, um homem que "ninguém quer, porque nunca ninguém nos quer quando perdemos".  

No video, podemos ver a sua mulher, que o abraça e lhe pede para ele não desistir, que lhe dá a sua ternura e a sua solidariedade numa hora difícil. Em contraponto à voz de Gabriel, desiludida, a voz de Kate Bush é a voz da esperança, da capacidade de resistência, do amor. "Não desistas, tu tens amigos, ainda não estás vencido, eu sei que vais conseguir". A desesperança ataca o homem, mas ela insiste: "não desistas, tu tens-nos a nós, nós não precisamos de muito, tu preocupas-te demais, por favor não desistas".

A música é lenta, pausada, mas é a letra que é magnífica, e sobretudo o combate entre a voz do amor e a da desesperança. O magistral, sempre magistral Peter Gabriel, continua, dizendo que não aguenta mais. Depois de ter estado numa ponte, de talvez ter pensado no suicídio, ele muda-se para outra cidade, mas também por lá não há trabalho para todos, e ele já não sabe o que fazer.

O video mostra então de novo a cara de Kate Bush, e lá vem a voz que o levanta do chão, a mulher que o abraça sempre, dizendo-lhe "não desistas, tens amigos, não és o único, não há razão para teres vergonha, nós temos orgulho em ti, tu sabes que nunca foi fácil". E a música acaba com eles abraçados, transformando-se num hino à união humana em tempos difíceis.

É isso que hoje quero recordar, os ensinamentos desta magnífica música. É preciso não desistir, é preciso acreditar que vamos conseguir, é preciso sermos solidários. Peter Gabriel e Kate Bush mostram-nos como. A mulher dá força ao homem, dá-lhe o orgulho que o mundo lhe nega; e o homem apoia-se nela, e ampara-a também, pois pressente que, por mais pessimista que esteja, vai existir um futuro, e só junto e abraçado o casal lá chegará.

Este é o meu pensamento hoje. Para todos os meus amigos que estão no desemprego, e para todos os outros que não conheço, para mim, para ti, para todos nós. Oiçam esta maravilhosa música e não desistam. Por favor, não desistam! E não se esqueçam de que têm amigos, de que há muita gente a tentar mudar as coisas, para que este inferno chegue um dia ao fim. 





publicado por Domingos Amaral às 10:43 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quarta-feira, 14.11.12

Os portugueses têm culpa?

Nas últimos dias muitos têm escrito que eu não reconheço que os portugueses têm muita culpa da situação a que chegámos. Nada mais falso. Nunca aqui escrevi que não éramos responsáveis pela nossa dívida, nem que não a devíamos tentar pagar.

Querem falar de culpados? Falemos então. A dívida pública portuguesa ronda os 200 mil milhões de euros. Sim, leram bem, 200 mil milhões de euros. Destes, há parcelas que convém destacar:

- 30 mil milhões de euros são dívidas das empresas públicas, incluindo as empresas de transportes (CP, Carris, Metro de Lisboa, Metro do Porto, TAP, etc) que são responsáveis por 20 mil milhões, e as outras empresas (RTP, Lusa, etc), que são responsáveis pelos restantes 10 mil milhões.

- 8 mil milhões são dívidas das autarquias locais, embora haja quem admita que esse valor possa chegar aos 12 mil milhões, pois ainda há dívida "oculta".

- 6,3 mil milhões são dívidas da Madeira, embora também neste caso haja quem diga que, se trouxermos para a superfície mais dívida que está "oculta", este valor chega aos 8 mil milhões.

- 6,6 mil milhões são as dívidas que o Estado contraiu junto da "troika" para resgatar 3 bancos - o BCP, o BPI e Caixa Geral de Depósitos. 

- 3,5 mil milhões são a dívida contraída pelo Estado para resolver o buraco do BPN. 

- 3,5 mil milhões é o valor da dívida actual vinda das PPP (parcerias público-privadas), embora a "troika" ainda não tenha aceite que a totalidade desse valor seja registado como dívida pública.

Estes são os números oficiais do Ministério das Finanças, e se somarmos estas seis parcelas, chegamos a um total de 57,9 mil milhões de euros, o que é quase 30 por cento do total da dívida pública portuguesa. Ou seja, quase 30 por cento dos 200 mil milhões, aconteceram porque as empresas públicas foram mal geridas, as autarquias viveram num regabofe, a Madeira se encheu de túneis, os bancos tiveram de ser ajudados, um deles devido a uma burla (BPN), e o país construiu demasiadas auto-estradas, de que não necessitava.

Culpados? Sim, é evidente que há culpados. O PS de Sócrates, o PSD de Jardim, Barroso e Santana, o PP de Portas (e nem sequer falei nos submarinos, que nos custaram mais de mil milhões de euros); os banqueiros que financiaram esta orgia despesista, e as grandes empresas de construção civil, que se empaturraram com muitas destas obras. Portugal ficou cheio de luxos inúteis como o Metro do Porto, as estações maravilhosas do Metro de Lisboa, estádios de futebol aonde ninguém vai (Aveiro, Leiria, Algarve), submarinos caríssimos e obviamente alemães, SCUTs na província onde passa um carro em cada dez minutos e é com sorte, e muitos maravilhosos aquedutos na Madeira, para os ingleses verem quando lá vão de férias.  

Sim, há culpados, e não são poucos. Sim, eu sei que a culpa é dos portugueses, e desta gente toda que teve responsabilidades. Nunca irei branquear nada, nem ninguém. Porém, isso não significa que a forma de sair da crise seja a austeridade defendida por Merkel e Passos Coelho. Por mais culpas que os portugueses tenham, e são muitas, não é a austeridade que vai resolver o problema da dívida, bem pelo contrário. A austeridade agrava a dívida, que já subiu para quase 120 por cento do PIB! Assim, quanto mais pagamos, mais devemos, e a história não vai ter um fim feliz para ninguém. 

publicado por Domingos Amaral às 12:03 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Terça-feira, 13.11.12

O tio Arménio e as greves

Caro tio Arménio, o senhor devia saber que ainda está para nascer um primeiro-ministro que mude de ideias só porque não há combóios e autocarros durante um dia. Com a idade que tem, o senhor devia saber que, enquanto arma de ataque político, as greves gerais são disparos de pólvora seca! O único dano que produzem é colateral: é o "massacre dos utentes".

É esse o seu objetivo: massacrar a população, uma, duas, três vezes, as que forem necessárias, para tentar assim pressionar o governo? Não vale a pena: o poder político, qualquer um que ele seja, está-se nas tintas para as greves gerais, e não se comove. Na verdade, quem se lixa é quem usa os serviços, não quem manda neles. 

As greves produzem uma profunda irritação na população, que não compreende que, sendo ela inocente, tenha de ser a principal vítima de uma guerra política e ideológica, entre os comunistas e os sindicalistas de um lado, e o Governo de centro-direita do outro. 

Quem se trama é sempre o mexilhão, que tem de ir trabalhar na mesma, embora seja dificílimo chegar ao trabalho a horas; tramam-se os estudantes, que não conseguem chegar às aulas; trama-se quem quer apenas tratar de alguma coisa nesse dia, e não o consegue perante o caos em que as cidades se transformam; e trama-se a economia do país, mas isso é para o lado que os sindicalistas radicais dormem melhor.  

A única razão que vejo para a greve geral de amanhã é uma razão de ambição política. O tio Arménio Carlos é lider da CGTP há pouco tempo, mas tem de se afirmar. Já todos percebemos que escolheu uma "linha dura", de radicalismo comunista e sindical, e está no seu direito. Porém, ao recorrer à greve geral, ou a patrocinar greves constantes dos estivadores, está a colocar os seus interesses pessoais de líder à frente de outros, bem mais importantes. 

Depois de 30 e tal anos de democracia, os sindicalistas já deviam ter aprendido que quanto mais radicais forem, menos apoios no país têm. Na verdade, o que não deixa de ser uma curiosidade inesperada, enquanto nenhuma greve geral ou parcial da CGTP conseguiu mudar as políticas do governo, bastou uma única manifestação convocada através das redes sociais para conseguir evitar as mexidas na TSU!

Deve ter sido um grande galo para a CGTP, mas o tio Arménio não aprendeu nada com isso.

publicado por Domingos Amaral às 10:33 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Segunda-feira, 12.11.12

Querida Angela Merkel

Ainda te lembras porque é que Hitler chegou ao poder em 1933? Não era má ideia leres uns livros da história do teu próprio país, e talvez assim te recordasses que foi graças às terríveis políticas de austeridade praticadas pelo chanceler Heinrich Bruning, que ficou conhecido pelo sinistro cognome de "chanceler da fome", que Hitler ganhou as eleições em 1933.

Durante apenas três anos, entre 1930 e 1933, a Alemanha viveu uma fortíssima recessão, que gerou um desemprego colossal, e uma parte da população caiu numa atroz miséria, dando origem ao famoso "ovo da serpente", a desordem geral que possibilitou a ascensão de Hitler ao cargo de chanceler da Alemanha. Para os que não sabem, convém sempre lembrar que não foi a hiperinflação dos anos 20 que gerou os nazis, mas sim a austeridade dos anos 30. 

Também em 1930, e é disso que te devias recordar, havia quem dissesse que todos tinham "vivido acima das suas possibilidades" durante a década de 20, e que só com "austeridade" se recuperaria a "confiança" na economia alemã. Infelizmente, nada disso aconteceu, e a recessão económica agravou-se brutalmente, lançando a Alemanha, e a Europa, numa década de horrores.

É por isso que escrevo, para te recordar as profundas semelhanças entre os anos 30 e estes que estamos a viver. Também nessa época se tinha uma crença enorme que, fazendo "ajustamentos" às economias, elas iriam entrar de novo nos carris. Também nessa época se acreditava que, se os países "descessem os seus custos salariais", iriam ser de novo competitivos. Também nesses tempos se dizia que, "se os governos lançassem impostos e cortassem nas despesas" o equilíbrio das suas finanças públicas se recompunha.

Porém, isso nunca aconteceu. Os "ajustamentos" falharam, e só trouxeram miséria aos povos e uma crise geral à Europa. Nesses tempos, tal como agora, toda a gente queria exportar e ninguém queria importar, e todos se esqueceram que se ninguém importa, também ninguém exporta.

A Europa é hoje muito diferente do que era nos anos 30 do século passado, mas quem pensar que as lições dessa época não nos servem está enganado. Todas as tuas opiniões sobre esta crise são, de forma perturbadora, semelhantes às opiniões que existiam nesses tempos negros. Também tu defendes a "austeridade", a "desvalorização salarial", o corte abrupto nos "deficits orçamentais". Também tu te agarras à esperança de que assim a "confiança" voltará aos mercados.

Contudo, a realidade não te dá razão. Há três anos havia uma crise na Grécia, e problemas em Portugal e na Irlanda. Hoje, há uma catástrofe na Grécia, uma crise grave em Portugal, na Irlanda, em Espanha e em Itália, e começam já a chegar fortes problemas a França e até ao teu país, a Alemanha. A crise, em vez de ser contida, expandiu-se, e ameaça de novo a estabilidade do euro. 

A pior coisa que fizeste à Europa foi dividi-la entre países credores e países devedores. Traçaste uma linha, um muro de Berlim financeiro, entre aqueles que "se tinham portado bem" e aqueles "que tinham vivido acima das suas possibilidades". Sem qualquer hesitação ou dúvida, foi criada por ti uma profunda falha tectónica no euro, distinguindo entre os "cumpridores" e os "pecadores". A partir dessa data, algures em 2009, a Europa entrou numa nefasta crise, da qual ainda não se viu livre.

Contigo ao leme, querida Angela, a Europa aproxima-se de um perigoso precipício. Os próximos meses serão terríveis, e talvez em 2013 todos percebam finalmente que foste tu a principal responsável por ter colocado a Europa na boca deste inferno. Nessa altura, todos os que me criticam irão infelizmente ser forçados a reconhecer que foram avisados. 

publicado por Domingos Amaral às 10:49 | link do post | comentar | ver comentários (15)
Sexta-feira, 09.11.12

Pedimos desculpa por esta democracia, venha a ditadura?

Nos últimos tempos, oiço cada vez mais portugueses que dizem que a nossa democracia não tem capacidade para lidar com esta crise, e que só uma ditadura pode resolvê-la. Cada vez mais frustrados, cansados dos políticos, muitos portugueses fantasiam com a alvorada de uma ditadura, onde um ser providencial qualquer, montado num cavalo branco, aparecia numa manhã de nevoeiro para acabar com a barafunda e meter "isto tudo na ordem"!

É muito fácil pensar assim. Isto está uma merda, a democracia não resolve, venha de lá uma ditadura! É fácil, mas não passa de uma miragem, igual à daqueles que vêm oásis falsos no deserto. Quem julga que uma ditadura poderia resolver alguma coisa, está redondamente enganado. Na actual situação portuguesa, sendo nós uma pequena economia dentro do sistema monetário europeu, com uma moeda chamada euro, o que poderia fazer de diferente uma ditadura? 

Imaginemos que daqui a um ano, no meio da miséria e da revolta geral, os militares dão um golpe e colocam no poleiro um ditador. O que poderia ele fazer? Saía do euro, provocando ainda mais miséria? Despedia 200 mil funcionários públicos, provocando ainda mais miséria? Deixava de pagar as dívidas aos credores internacionais, ficando sem dinheiro para pagar salários uns meses depois? Sim, digam-me lá, o que podia um Fidel tuga ou um Pinochet lusitano fazer à nossa economia? Que milagre podia executar, o da multiplicação dos euros? 

E que garantia tínhamos nós que o ditador tomava as decisões certas para tirar o país da crise? A grande maioria dos ditadores, por esse mundo e por esses séculos fora, seja na Europa, seja na Ásia, seja na América do Sul seja em África, fossem eles de esquerda ou de direita, só fizeram merda da grossa por onde passaram! Será que as pessoas pensam que, só por um ditador poder meter a oposição na cadeia e calar as pessoas, ele consegue resolver os problemas económicos de um país? Falsa ilusão. Perguntem aos cubanos, aos argentinos, aos brasileiros, aos cambodjanos, aos russos, aos paraguaios, se os ditadores lhes resolveram as crises económicas e verão a resposta que têm. 

Falar na necessidade forte de uma ditadura em Portugal é como mandar uma mijinha na rua. Alivía no momento, mas não muda a nossa vida.  

publicado por Domingos Amaral às 12:19 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 08.11.12

Com quantas pessoas já teve sexo?

Os homens e as mulheres são diferentes em muitas coisas, mas há uma em que são iguais: ambos mentem quando respondem à pergunta "com quantas pessoas já teve sexo"? Mas, apesar de serem iguais a mentir, são diferentes na direção da mentira: os homens aumentam o verdadeiro número para o dobro, as mulheres diminuem-no para metade!

Assim, se um homem diz que já teve sexo com mais de 40 mulheres, provavelmente ele teve com pouco mais de 20, e se uma mulher diz que teve sexo com 8 homens, provavelmente já se envolveu para aí com uns 16. É isto o que os estudos universitários sobre sexo dizem, e não é um ou dois, são quase todos. 

Mentir sobre o número de parceiros parece ser portanto um desporto muito praticado. Isso é perfeitamente compreensível, seja entre homens, seja entre mulheres. É evidente que os homens são muito competitivos, e ninguém quer ser o palerma da turma, que dormiu só com aquela feiosa e com óculos, porque as outras não lhe ligavam pevide. Os homens afirmam-se pela quantidade. Quando um grupo de homens se junta, explodem histórias de grandes façanhas, enormes cavalgadas sexuais que se destinam em primeiro lugar a impressionar...os outros homens.

É evidente que Casanova era um mito, bem como Keith Richards ou Mick Jaegger, que se diz terem dormido com mais de 1000 mulheres, mas ninguém ficaria muito surpreendido se tivessem chegado às 500! E é também evidente que, na contabilidade sexual, os homens não contam só os engates ocasionais, as "one night stands", as namoradas e as esposas, contam também as prostitutas que frequentaram. Não interessa muito como se conseguiu ter sexo, mas com quantas mulheres. A mentira é apenas uma forma de proteção, não vá alguém pensar que eles não gostam de sexo, ou pior, que são gays. 

Seja qual for a razão, a verdade é que os homens mentem, e isso toda a gente sabe desde o início da humanidade. Mas, nas últimas décadas, quem mudou foram mais as mulheres, que agora praticam muito mais sexo do que as suas mães ou avós. Muito mais no sentido de terem mais parceiros, entenda-se. Porém, as mulheres parecem ainda preocupar-se muito com a reputação. Nenhuma quer passar por puta sem o ser, e talvez por isso elas mentem, e reduzem muito o número de parceiros, especialmente quando a pergunta vem do namorado ou do marido. Não vá o Diabo tecê-las...

Uma amiga minha diz que o número certo que as mulheres devem dizer é 7. No máximo 8. O primeiro namorado, os dois que se seguiram, o namorado que demorou mais tempo, e três casos pontuais, dois deles acontecidos em viagens, de finalistas ou de trabalho, parece ser a conta certa para revelar ao actual namorado. Isto se a pessoa andar entre os vinte cinco e os trinta anos. É claro que, se a mulher já tiver quase 40 anos, a conta tem tendência a aumentar, principalmente se ela já foi casada e se divorciou. 

Segundo parece, depois de terem experimentado o casamento, que obriga e habitua a relações sexuais permanentes, as mulheres têm dificuldade em passar muito tempo sem sexo, e o número de parceiros tem tendência a subir, às vezes vertiginosamente. Nesse subgrupo, por mais que elas digam que só dormiram com 8 homens, já ninguém acredita. Mas, também já não interessa. A reputação das mulheres vai deixando de ter importância com a idade, quando elas são novas ainda há uma certa pureza, mas quando passam dos 35 o melhor é mesmo mandar uma queca e marimbar-se para a estatística!

publicado por Domingos Amaral às 12:14 | link do post | comentar | ver comentários (3)
 

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