Segunda-feira, 27.08.12

Privatizar a RTP (Episódio 1)

A proposta de concessionar um dos canais da RTP e extinguir o outro é um perfeito disparate, mas mais grave do que isso é quase um insulto a quem votou nos partidos da coligação, PSD ou CDS. No seu programa eleitoral, este governo prometeu privatizar um dos canais da RTP, ficando o outro em serviço público, o que não tem nada a ver com esta ideia mirabolante de "concessionar" a privados a RTP 1 e fazer desaparecer a RTP 2. "Concessionar" é pois uma quebra grave do ideal prometido. Além disso, esta proposta tem dois defeitos importantes que deviam levar o governo a enfiá-la numa gaveta, de onde nunca devia ter saído. O primeiro é que não é consensual. Nem os partidos da oposição - PS, PCP e Bloco - nem ao que parece o CDS, estão de acordo com ela, o que deveria merecer mais atenção do PSD, pois esta é uma das áreas em que não se devia mexer muito sem um consenso nacional alargado, mais do que não seja para que, uns anos depois e caso mude o poder político, não se volte a ter de mudar tudo, perdendo tempo e sobretudo dinheiro. O segundo defeito desta proposta é que parece feita à medida dos interesses dos privados e não do Estado. Assim, não se complica a vida dos dois privados já existentes - SIC e TVI - que obviamente resistem à ideia de ter um novo concorrente que lute por publicidade. E ao mesmo tempo, dá-se de bandeja ao "concessionário" um bolo fantástico de receitas que é a taxa que todos pagamos na conta da electricidade. No fundo, é uma espécie de PPP para a televisão, e provavelmente será mais um belo negócio que o Estado dá aos privados sem risco nenhum.    

publicado por Domingos Amaral às 10:56 | link do post | comentar
Sexta-feira, 24.08.12

O governo e o deficit

Esta semana, Vítor Gaspar reconheceu o que já todos sabiam inevitável: o déficit vai ser bem maior do que aquele com que Portugal se comprometeu com a "troika". Apesar de terem existido imensos cortes na despesa, apesar do não pagamento dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos, apesar do enorme aumento dos impostos diretos e indiretos, as contas não vão bater certo no fim. E tal acontece porque, como muitos avisaram, as violentas doses de austeridade dão sempre nisto: a economia entra em espiral negativa, deprime-se, e o resultado é muito mais desemprego (o que aumenta muito a despesa do estado devido aos subsídios de desemprego) e muito menos impostos cobrados, porque com menos actividade há menos receitas do IVA e de outros impostos, como o IA. Isto já se sabia, mas a teimosia europeia é espantosa, e o nosso Governo ainda quis ser mais papista que o Papa. A "troika", inspirada moralmente pela sra Merkl, tem imposto estas políticas de forma brutal a todos os países que já estavam com problemas, e o resultado tem sido sempre o mesmo. Primeiro a Grécia, depois a Irlanda e Portugal, a seguir a Espanha e a Itália, todos estão a ser apertados neste torniquete cruel e inútil. Não conseguem crescer, têm cada vez mais desemprego, e não conseguem pagar as dívidas. E entretanto, o vírus da recessão está a espalhar-se. Com toda a periferia da Europa deprimida, a recessão já está a chegar ao Norte da Europa e à Alemanha, que tinham na exportação para os países do sul um dos seus motores de crescimento. Em breve, toda a Europa estará numa recessão cada vez mais cavada, e só talvez nesse dia os povos percebam que têm de se revoltar contra estas políticas de austeridade que os estão a massacrar. Infelizmente, nesse dia poderá já ser tarde para o euro e para a Europa, e décadas de prosperidade económica terão sido destruídas pelos zelotas da austeridade e pelos magos dos liberalismo radical. Como na Europa já se devia saber, o fanatismo ideológico, qualquer que seja a sua cor, só produz misérias e desastres.      

publicado por Domingos Amaral às 12:42 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 23.08.12

O "Melga"

Se há coisa que me anda a irritar é que chamem "Melga" ao jogador do Benfica Melgarejo. Na última semana, não houve jornal que não fizesse um título com "Melga", não houve cronista desportivo que não tivesse destilado a sua genialidade usando a abreviatura "Melga", não houve engraçadinho que não usasse a expressão para dizer mal do pobre rapaz. De facto, os portugueses adoram estas coisas, é muito "tuga" esta mania de explorar o grau zero da criatividade e abreviar o nome do jogador, ficando assim com um novo nome, que por acaso é um insecto bastante irritante. O que, está bom de ver para quem perceba de futebol, não é o caso do rapaz, que não tem nada de irritante, e até me parece um excelente talento, capaz de dar muitas alegrias às equipas onde jogar. Mas pronto, cometeu uns erros e zás, o país inteiro desata a tratá-lo por "Melga". A mim o que apetece nestas alturas é pulverizar com Baygon os jornais desportivos, para ver se mato as verdadeiras melgas que por lá andam. Melgarejo vai ser um grande jogador, escrevam o que vos digo, e a todos os que o andam a diminuir, tratando-o por "Melga", ele vai passar a vida a dar valentes picadas. Nem imaginam o que me vou rir daqui a uns tempos, quando as verdadeiras melgas tiverem de engolir o que disseram ou escreveram...

publicado por Domingos Amaral às 11:18 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Os homens "amorosos"

A pior coisa que as mulheres podem dizer de um homem não é que ele é um cabrão, um egoísta, um mulherengo, nem sequer um paneleiro. A pior coisa que as mulheres podem dizer de um homem é que ele é "amoroso". Se algum dia uma mulher disser isso de um homem, tal significa que ele não tem qualquer hipótese com ela, que não sente um pingo de desejo por ele e já o colocou na gaveta VSSA (Vamos Ser Só Amigos). Se uma mulher disser que um homem é um egoísta ou um cabrão, isso significa que ele já a comeu, uma ou mais vezes, mas não está a fim de a comer só a ela e quer andar na boa a comer outras. Se uma mulher disser que um homem é um mulherengo, isso quer dizer que tem vontade de o comer, mas também receio. Até se decidir, ela vai andar sempre com um pé atrás e outro à frente, em luta entre a força carnal e a força mental, e por isso vai dizer que ele é um mulherengo, como quem diz "estou doida por te saltar para a espinha mas tenho um terror de morte pois acho que me vais deixar logo depois de me foderes". Quando uma mulher diz que um homem é paneleiro, ela diz isso com alguma pena mas sem qualquer raiva, pois para ela já não conta como hipótese de cama. Agora, mau mesmo é ser "amoroso". Ser "amoroso" é pior do que ser paneleiro, porque o paneleiro não é sequer considerado, e o "amoroso" é considerado por uns minutos e depois é desconsiderado, pois não tem qualquer ponta por onde se lhe pegue, a não ser a amizade, que neste caso se limita a uma espécie de prémio de consolação. Um gajo "amoroso" é um gajo que não dá tesão às mulheres, não lhes causa fraquezas nos joelhos, não provoca nós nas gargantas nem dores de estômago. É uma simpatia doce, um urso de peluche com pilhas permanentes, mas que para mais não serve. Ser "amoroso" é o fim da linha, é o desastre maior que pode acontecer a um pobre homem que goste de mulheres. Eu não sei com quem os amorosos acabam por namorar (provavelmente com a raríssima espécie, quase em vias de extinção, das "mulheres amorosas"), mas sei que raramente seduzem mulheres interessantes, giras e vivaças. E sabem porquê? Porque os amorosos anulam o seu instinto sexual! Na ânsia de serem gostados esquecem-se de ser homens, assexuam-se socialmente na presença das mulheres, e o resultado é um desastre: as mulheres gostam deles mas só para companhia, o que significa que se calhar mais valia serem gays. Pelo menos assim comiam alguém.

   

publicado por Domingos Amaral às 10:38 | link do post | comentar | ver comentários (46)
Quarta-feira, 22.08.12

Caldos, casos e "fuckfriends"

O que é "um caldo"? Qual a definição técnica? No meu tempo, "caldo" era quando um homem e uma mulher andavam a sair juntos, enrolados, às vezes nos amassos mas outras já no sexo. Contudo, recentemente descobri que muitas vezes, em especial para as mulheres, a definição de "caldo" não era tão vasta, e tratava-se apenas de andar a sair com alguém, com quem há um certo clima, uma possbilidade de algo acontecer, nada mais. "Caldo" não incluía sexo, nem sequer beijos na boca, era pré-físico. Não era apenas amizade, mas também não era engate, ficava ali num limbo, simpático mas nada carnal. E também não era um "caso".

Um "caso" é uma situação de alguma gravidade. Um "caso" não é um caldo, nem é um "engate", porque um "caso" tem implícito um certo perigo, uma transgressão qualquer. "Caso" é quando existe um triângulo amoroso e nós somos um dos ângulos. "Caso" é o que têm as mulheres quando se envolvem com homens casados; mas não os homens, que nunca têm "casos", limitam-se a dizer que "andam a comer uma gaja", como se não fossem também comidos por ela. "Caso" tem cornos, traição, infidelidade, potencial de perturbação social. "Caso" tem sexo rápido, a seguir ao almoço, em motel de estrada na periferia ou dentro do carro. "Caso" tem consequências, alguém chora no fim, normalmente a mulher.

São portanto coisas distintas: "caldo", "caso"e "engate". "Engate" é coisa que acontece normalmente à noite, é excitante e rápido, é um "caldo" que passa a "caso" num abrir e fechar de braguilhas; mas também pode ser um "caldo" que passa a "namorico" em poucas horas. Um "namorico" pode nascer de um "caldo" que evoluiu bem, mas também de um "engate" sortudo, onde se caçou alguém verdadeiramente interessante, que não vale apenas pela "queca". Um "namorico" é a antecâmara do "namoro", quando ainda não se conhecem os pais do outro. Um "namorico" pode ter sido "caldo" ou "engate", mas nunca será um "caso", porque não há qualquer perigo, nem ele nem ela são casados, não há terceiros para atrapalhar.

Ainda mais inovador que todos estes estados é o conceito de "fuckfriend". Como o nome indica, é quando se anda a foder com amigos. Há homens que têm amigas com quem dormem de vez em quando, e há mulheres que têm amigos com quem dão umas voltas quando a elas lhes apetece (a eles apetece-lhes sempre, como se sabe). Nos "fuckfriend", pode já ter existido "caldo", "engate", "caso", "namorico" e até "namoro", mas agora as coisas estão diferentes, os dois precisam de algum espaço (o que obviamente significa que andam a foder com outras pessoas mas não querem que ninguém os chateie por causa disso), mas ainda gostam de se tocar, de se beijar, e quando há tempo e as circunstâncias o permitem, dão mais uma voltinha. É uma relação altamente moderna, embora o nome seja um bocadinho ajavardado. Mas pronto, não se pode ter tudo.

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:00 | link do post | comentar | ver comentários (9)

Moniz e o Benfica

Seria uma boa notícia José Eduardo Moniz entrar para a direção do Benfica. Até agora, apenas sabemos que ele jantou ontem com Luís Filipe Vieira, mas estes encontros costumam trazer água no bico, e talvez esteja em preparação uma surpresa. Se Moniz fosse para o Benfica, talvez como vice-presidente, Luís Filipe Vieira não só transformava em forte aliado um homem que nunca escondeu a ambição de ser presidente do clube, como tinha finalmente ao seu lado alguém que podia transformar drasticamente a política de comunicação do Benfica. É que, se há área onde os desastres passam a vida a acontecer é na comunicação. Más entrevistas de treinadores, dirigentes ou mesmo do presidente, troca de piadas confrangedoras entre Vieira e Pinto da Costa, perda de influência do Benfica nos media, tudo tem acontecido nos últimos anos, e sempre em sentido negativo. Era óptima ideia Moniz entrar para por ordem naquela casa!

publicado por Domingos Amaral às 10:48 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 21.08.12

Os prioritários e os portugueses

A cena passou-se numa repartição das Finanças. Eu estava na fila, há quase duas horas, e via os números de chamada a aproximarem-se do meu. Porém, a numeração estava sempre a ser interrompida pela chegada de mais um atendimento "prioritário". Os "prioritários" são naturalmente os deficientes, os idosos, as grávidas, e também as pessoas acompanhadas por crianças. E foi uma dessas mães que teve azar. Ao ser chamada, eis que se levanta uma revolta nos outros portugueses, os "não prioritários". Um senhor, muito enervado, desata a protestar aos berros, dizendo que para a próxima ia "pedir uma crianchinha emprestada à vizinha, para vir para a bicha e passar à frente". Houve logo um número relevante de pessoas na mesma situação que concordaram, e um pequeno motim gerou-se. Indignadíssimos, os "não prioritários" soltaram gritos contra "os prioritários", queixando-se da injustiça de que estavam a ser alvo, vociferando contra o poder, o governo, a democracia, enfim tudo o que os irrita na vida. São assim os portugueses, não aceitam as regras, sobretudo quando elas implicam um ligeiro prejuízo próprio. Em Portugal, somos todos prioritários, o nosso problema é sempre o mais grave, e temos o direito de ser atendidos imediatamente! Que existam pessoas mais frágeis que nós que possam passar-nos à frente, é obviamente uma maçada inaceitável, que só existe devido a truques e manhas...

publicado por Domingos Amaral às 12:37 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Segunda-feira, 20.08.12

As cristas ilíacas

Estou sempre a aprender nas conversas que tenho com mulheres. Tradicionalmente, elas diziam que o que mais as atraía nos homens eram áreas sem grande carga sexual, como os olhos, o sorriso ou as mãos. No caso das americanas, que sempre foram moças mais físicas, elas diziam que eram também os rabos dos homens a entusiasmá-las, e isso era a preferência mais carnal que eu escutara. Contudo, recentemente descobri que há outra zona masculina com intensos poderes de atração: as cristas ilíacas. São aquelas duas saliências que temos no topo das ancas, onde os ossos se notam numa forma original, e por isso se chamam cristas. Se o abdómen masculino for seco e musculado, as cristas quase que parecem saltar e chamam a atenção, o que provoca muitas palpitações no sexo feminino, coisa que eu nunca soube até aos 45 anos, mas que passei a valorizar este verão. Se o homem não tiver barriga (umas gorduras chegam para fazer submergir as famosas cristas), pode sempre puxar os calções um pouco mais para baixo e atrair curiosos olhares femininos. Ao que ouvi dizer, as cristas mexem mesmo com elas. 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:27 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Jesus não aprende

Jorge Jesus continua o mesmo de sempre, com os mesmos erros e as mesmas qualidades. Já por várias vezes escrevi no Record que, na maioria dos jogos, o Benfica não devia jogar de "pernas abertas", ou seja com 2 avançados e 2 extremos, um sistema demasiado ofensivo e que é bem aproveitado por equipas matreiras como foi o Braga no sábado. Mas Jesus insiste, teimoso. O ano passado, no primeiro jogo do ano, aconteceu o mesmo, empatámos 2-2 com o Gil Vicente. As coisas não estão pois muito diferentes. Além disso, o Melgarejo teve bastante azar naquele caricato autogolo, mas acho-o um óptimo jogador, que com o tempo vai aprender a não repetir erros desses. Quanto ao resto, o que nos valeu foi que FC Porto e Sporting também começaram muito desinspirados... 

publicado por Domingos Amaral às 11:17 | link do post | comentar

O ministro Álvaro

Ao contrário da maioria das pessoas e dos jornalistas, eu gosto do ministro Álvaro Santos Pereira. É sorridente, parece ser uma pessoa simpática, é empenhado e tem "fair-play" e não tem aquela carga de gravidade do seu colega das Finanças, que carrega todos os males do mundo às costas. Além disso, em geral estou de acordo com as reformas microeconómicas deste governo e deste ministro. Acho bem as mudanças na lei laboral, na lei das rendas de casas; aplaudo o fim das rendas excessivas dos operadores de electricidade e energia; e acho que tem sido feito um bom esforço para poupar dinheiro ao Estado com as absurdas PPP´s (parcerias público-privadas), muito mal negociadas pelos governos anteriores. Portanto, na microecnomia e com Álvaro, as coisas vão bem. O pior é a macroeconomia e o senhor Vítor Gaspar. Aí é que vamos de mal a pior. 

publicado por Domingos Amaral às 11:05 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

Livros à venda

posts recentes

últ. comentários

  • Li com prazer o seu primeiro volume volume de assi...
  • Caro Domingos Amaral, os seus livros são maravilho...
  • Caro Fernando Oliveira, muito obrigado pelas suas ...
  • Gostei muito dos dois volumes e estou ansiosamente...
  • Bela e sensata previsão!Vamos ganhar a Final?!...
  • A tua teoria do terceiro jogo verificou-se!No enta...
  • Gostei de ler, os 2 volumes de seguida. Uma aborda...
  • Neste momento (após jogo com a Croácia) já nem sei...
  • Não sei se ele só vai regressar no dia 11, mas reg...
  • No que diz respeito aos mind games humildes, é pre...

arquivos

Posts mais comentados

tags

favoritos

mais sobre mim

blogs SAPO

subscrever feeds